Oposições não conseguem entender os motivos de o governador ser popular e, por isso, faz críticas equivocadas que acabam por fortalecê-lo 

Pesquisas sugerem polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula da Silva, do PT, para a disputa eleitoral de 2022 — que ocorrerá daqui a um ano, quatro meses e alguns dias. Numa das pesquisas, da XP/Ipespe, o petista aparece em primeiro lugar, com 1% de frente — o que, dada a margem de erro, sugere empate técnico. No levantamento do instituto Paraná, Bolsonaro tem 32,7% e Lula da Silva aparece com 29,3% — outro quadro de empate técnico.

Jair Bolsonaro e Lula da Silva: os dois estão se “atraindo” para a disputa| Fotos: Reproduções

Pesquisa de intenção de voto, sobretudo quando o eleitorado ainda não está “motivado”, reflete a circunstância. Neste momento, o país assiste um presidente acuado por 420 mil mortes — caminhando, de maneira célere, para meio milhão. Bolsonaro parece viver no mundo da lua, enquanto seus ministros, preocupados com a própria vida, estão se vacinando — mesmo sabendo que o chefe recomendou que se vacinassem escondidos. Machões de Marlboro não são imunes ao novo coronavírus e vários deles estão mortos. Já Lula da Silva, depois de um desgaste imenso, com condenação e prisão, ganhou no Supremo Tribunal Federal o direito de ser elegível. Fica-se com a impressão de que estão pensando no petista como um aliado de peso, um mensageiro da vida, contra um mensageiro da morte.

Orientado pelo marqueteiro João Santana, o ex-ministro Ciro Gomes está tentando polarizar tanto com Bolsonaro quanto com Lula da Silva. O que o líder do PDT teme é que, se não conseguir se colocar como alternativa agora, amanhã será tarde demais. Se o quadro cristalizar entre o presidente e o petista não haverá espaço para uma terceira via — de centro-esquerda ou de centro-direita. Ciro Gomes está tentando criar musculatura ao se apresentar como anti-Lula e anti-Bolsonaro. É uma tentativa de “fisgar” os eleitores que não querem nenhum dos dois.

Ausência do “segundo colocado”

Em Goiás, ao contrário do quadro nacional, não há polarização. Há o governador Ronaldo Caiado como líder absoluto nas pesquisas de intenção de voto — que circulam, discretamente, nos escritórios políticos — e não há, por assim dizer, um “segundo colocado”. Quer dizer, não há um postulante que represente polarização e alternativa ao gestor estadual. Há um vazio gigantesco entre o integrante do partido Democratas e, não um vice-líder consistente, o “terceiro colocado”.

Governador Ronaldo Caiado: líder absoluto e sem concorrentes | Foto: Reprodução

Os jornais começam a mostrar certo “aquecimento” de Gustavo Mendanha e Daniel Vilela, ambos do MDB, Jânio Darrot, do Patriota, e Marconi Perillo, do PSDB. Mas o “reaparecimento” do tucano e a exposição dos demais não é, no geral, explicada detidamente pelos analistas.

Embora óbvio, é preciso ressaltar que os quatro políticos estão se mostrando aos eleitores com o objetivo de ocupar o “segundo lugar”, quer dizer, querem polarizar com Ronaldo Caiado — que descolou e está muito na frente. Numa pesquisa, com Ronaldo Caiado liderando com folga, o segundo colocado é o senador Jorge Kajuru, do Podemos, e o terceiro é o senador Vanderlan Cardoso, do PSD. Mas nenhum deles pretende disputar o governo em 2022.

Cabe a pergunta: por que, se há polarização nacionalmente, não há polarização em Goiás? Porque o desgaste cristalizado de Bolsonaro se tornou a mola que joga Lula da Silva para cima. Já em Goiás Ronaldo Caiado não tem desgaste consolidado. Não há um fato objetivo que manche sua boa imagem. Quando tentam criticá-lo, quiçá por não entender os novos tempos, os adversários acabam criando “vitamina do crescimento” para o governador. Fica-se com a impressão de que falta sintonia entre alguns possíveis postulantes e o Goiás real. O que determinados oposicionistas parecem não saber é que a crítica, quando equivocada, se torna alimento que potencializa o crescimento do criticado.

Ronaldo Caiado é um político moderno, de ideias arejadas. Trata-se de um liberal com vocação social — como o filósofo José Guilherme Merquior avaliava que os liberais patropis deveriam ser, dadas as gritantes demandas de um país com grandes contrastes sociais.

O governador é um defensor da livre iniciativa — há uma história dedicada à defesa da iniciativa privada —, mas, como homem de Estado, sabe que o Estado não deve servir à classe dominante, as elites, e sim à sociedade (o povo, o coletivo). Na questão da Covid-19, quando defende os trabalhadores — sugerindo o isolamento social, com critérios —, não está se posicionando contra os empresários. Está sendo um apóstolo da vida contra os mensageiros da morte.

Economistas gabaritados têm dito que a economia só vai se recuperar de verdade com a vacinação em massa. Vacinação que, a rigor, depende muito mais do governo federal do que dos governos estaduais e municipais.

Gustavo Mendanha, Daniel Vilela (centro) e Iris Rezende: duas gerações de emedebistas no Estado de Goiás | Foto Jackson Rodrigues/Prefeitura de Goiânia

O governador mostra que tem uma visão mais ampla. Antes de o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, propor a suspensão das regras de propriedade intelectual vinculadas à vacinas contra a Covid-19, Ronaldo Caiado já questionava “a concentração da produção da vacina contra” o coronavírus “em poucos laboratórios farmacêuticos”. Numa entrevista à revista “Veja”, o governador disse: “Essa é uma reserva de mercado que está trazendo como consequência a morte de milhões de pessoas no universo. Nada mais justo do que a OMS cobrar esses laboratórios. Não estou falando em quebra de patente. Defendo o respeito à propriedade intelectual e à patente, mas acho que nós devíamos ter pelo menos condição de pagar parcela de royalties ou fazer qualquer tipo de ação que permita a produção”.

Ronaldo Caiado acrescentou: “São 8 bilhões de pessoas no globo e são dez, quinze laboratórios no mundo que têm o IFA, que desenvolveram toda essa tecnologia. Ficamos na dependência deles cederem para nós podermos produzir. Ora, trata-se de saúde pública, de pandemia e de vidas. Eu não consigo entender como é que esses laboratórios podem se apresentar diante de uma pandemia como essa”.

O que se quer dizer com isto? Que Ronaldo Caiado se preocupa com gente, e de maneira genuína — não por cálculo político (se aderisse à onda populista poderia ganhar o aplauso dos ricos).

Jânio Darrot: a aposta do Patriota | Foto: Divulgação

A preocupação com as pessoas, a vocação para salvar vidas, para colocar a vida como prioridade — e não o interesse empresarial —, aparece nas pesquisas qualitativas. Quer dizer, a população está reconhecendo que há um governador que zela pela vida de todas as pessoas, inclusive dos negacionistas.

Surpreendendo principalmente aqueles que não o conhecem, Ronaldo Caiado desenvolveu uma relação bem próxima com a comunidade científica. Como se disse acima, o governador é um político liberal e os integrantes das universidades são, em geral de esquerda (o que não é o mesmo que comunista, como pensa Bolsonaro). Entretanto, como é a vida que está em jogo — a de todos — tanto o governador quanto os cientistas, notadamente os da Universidade Federal de Goiás (que são de excelente nível), optaram por não discutir ideologias. Porque são mensageiros da vida — e não mensageiros da morte, como Bolsonaro e os adeptos dos mictórios do ódio. O governador e os homens e mulheres da ciência, como José Alexandre Filizola, Cristina Toscano e Thiago Rangel, são humanistas. Num tempo de barbárie, e não apenas na linguagem, isto fez e faz a diferença. Nunca se conseguiu o isolamento adequado, dada a pressão do empresariado, mas se fez muita coisa — inclusive ampliando e melhorando o atendimento aos pacientes.

Marconi Perillo: possível nome do PSDB para a disputa do governo | Foto: Agência Brasil

Ronaldo Caiado estudou Medicina no Rio de Janeiro e se especializou em ortopedia na França de Louis Pasteur, o criador do celebrado Instituto Pasteur (onde se especializou o médico e cientista Oswaldo Cruz, um dos pioneiros das vacinas no Brasil). Mesmo tendo se dedicado à atividade política, se manteve e se mantém atento ao desenvolvimento científico global, não apenas no campo da ortopedia. Há uma história pouco narrada sobre o médico. Em 1985, o vereador Edmundo Galdino — filiado ao PMDB, mas militante histórico do PC do B — foi baleado por dois pistoleiros, na Câmara Municipal de Araguaína. A família o trouxe para Goiânia. Ronaldo Caiado operou o então jovem político e o salvou. Um liberal salvou, dada sua perícia técnica, a vida de um comunista. Sobretudo, para o ortopedista, não se tratava de um comunista, e sim de um ser humano. Edmundo Galdino voltou para o Tocantins e, de uma cadeira de rodas, se elegeu deputado federal. Ele morreu, este ano, de complicações derivadas da Covid-19, aos 62 anos.

Discurso obreiro e discurso da vida

Desenha-se, nas oposições, sobretudo no marconismo, o “discurso obreiro” contra o “discurso da vida”. Pesquisas qualitativas sugerem que os eleitores estão desconfiados de políticos obsessivos com a realização de obras, sobretudo as de grande porte. Porque, na avaliação deles, as obras gigantes — daquelas que exigem aditivos frequentes — são portas abertas para a corrupção. Então, se o político responde a processos, por causa de determinadas obras e propõe novas obras, os eleitores tendem a acreditar que planeja assaltar o Erário.

Frise-se que Ronaldo Caiado governa Goiás há apenas dois anos e quatro meses — e o marconismo ficou 20 anos no poder — e, portanto, é natural que o volume de obras seja menor. Mas já há obras para exibir, ainda que não sejam de caráter faraônico, daquelas, insistamos, que rendem aditivos polpudos tanto para empreiteiros quanto para políticos. O discurso pró-vida, de político que gosta de gente — por isso investe em serviços para qualificar o atendimento às pessoas, por exemplo em educação e saúde —, é um dos diferenciais do governador. Parte das oposições, ao apostar no obreirismo, está deixando de perceber aquilo que os goianos estão percebendo. Vale assinalar que não há sintonia entre as “ruas” e as “redes sociais”. Na sociedade, as ruas, Ronaldo Caiado está muito bem avaliado. Nas redes sociais, o que prevalece são opiniões forjadas a partir de vários tipos de orquestração. Não que não sejam válidas, mas, quando se pesquisa a sociedade real, acima dos jogos ideológicos, o gestor estadual está muito bem avaliado.

A popularidade de Ronaldo Caiado também advém de uma segurança que funciona. O secretário de Segurança Pública, Rodney Miranda, um experimentado policial federal, dotou a polícia de Goiás de um sistema de Inteligência moderno e isto tem contribuído para desbaratar e prender quadrilhas que traficam drogas e roubam veículos. No dia a dia, taxistas e motoristas de Uber, um termômetro social eficiente, dizem que está mais seguro trabalhar na Grande Goiânia. As pessoas se sentem mais protegidas. É natural que nem tudo é perfeito, mas a segurança efetivamente melhorou. Há um consenso na sociedade.

Em dois anos e quatro meses, pouco mais da metade do governo, é praticamente impossível ajustar integralmente uma gestão — considerando-se, sobretudo, que há uma dívida praticamente impagável e outros problemas (como obras inconclusas e, às vezes, malfeitas). Mesmo assim, o governo Caiado ajustou a máquina pública e paga em dia funcionários públicos e fornecedores, custeia a máquina e ainda faz investimentos (no momento, está recuperando a malha rodoviária e pretende construir um hospital para tratamento de câncer, em Goiânia).

Na Educação, com a secretária Fátima Gavioli, Goiás se tornou uma referência nacional (não se deve deixar de ressaltar que, nos governos anteriores, Goiás não estava mal na área).

Há um aspecto que mostra profunda identificação entre as pessoas — repita-se: não as do jogo político ideologizado, e sim as comuns, quer dizer, a maioria absoluta — e o governador Ronaldo Caiado: a sociedade goiana o avalia como “decente”. Pode-se discordar das ações e do discurso do governador, mas, a respeito de sua retidão moral, há o consenso de que se trata de um político inatacável. O Ministério Público de Goiás, rigoroso e isento, nunca o denunciou por improbidade administrativa. Políticos com reputação duvidosa terão dificuldade de enfrentá-lo na campanha de 2022.

O sucesso da gestão deriva, em larga medida, da competência e da maturidade — o que se revela na sua capacidade diplomática — de Ronaldo Caiado. Mas ninguém governa sozinho. O gestor eficiente é aquele que consegue azeitar sua equipe. Vale o registro de que Ronaldo Caiado conseguiu compor um time eficiente, composto por, em ordem alfabética, Adriano da Rocha Lima, Andreia Vulcanis, César Moura, Cristiane Schmidt, Ernesto Roller, Fátima Gavioli, Ismael Alexandre, José Vitti, Lívio Luciano, Marcos Cabral, Nilson Jaime, Pedro Sales, Rodney Miranda, Tony Carlo, Wellington Matos de Lima, Ricardo Soavinski e Marcos Roberto Silva (conseguiu moralizar o Detran).

Para ser enfrentado, com alguma chance de sucesso, Ronaldo Caiado precisa ser mais bem compreendido. A politiquice, produzida por cabeças de alfinete que cercam determinados líderes, serve apenas para fortalecê-lo.