Apoio de Iris a Maguito para prefeito tem lógica e aliança do prefeito com Caiado não tem lógica
16 junho 2019 às 00h00

COMPARTILHAR
Se eleito, Maguito Vilela mantém o legado de Iris Rezende e do MDB. Ronaldo Caiado quer constituir novo grupo político, o que exclui o emedebismo
Parte do MDB, a de Adib Elias (acabou expulso do partido, e de maneira aparentemente incontornável), chegou a acreditar que, com a eleição do governador Ronaldo Caiado, havia chegado ao poder. Na verdade, não chegou. Tanto que o prefeito de Catalão não conseguiu emplacar seu indicado na direção da Goinfra. Aliás, o emedebismo não conseguiu emplacar nenhum de seus indicados no primeiro escalão. Ernesto Roller, secretário de Governo, era filiado ao MDB, mas não ocupa o cargo por sua militância política no partido.
Ronaldo Caiado não indicou emedebistas para o primeiro escalão não porque não goste deles ou duvide de sua honorabilidade. Não se trata disso. Na verdade, o governador atua em três planos. Primeiro, montou uma equipe técnica para os primeiros dois anos, com o objetivo de organizar o governo e recuperar sua capacidade de investimento. Segundo, entendeu, e corretamente, que, se montasse um secretariado político, teria um governo atropelado pelas eleições de 2020. No lugar de gerir, os integrantes políticos passariam a trabalhar para fortalecer suas bases eleitorais. Terceiro, o líder do Democratas trabalha para constituir um novo grupo político e, portanto, precisa fortalecê-lo.

Político experimentado, Ronaldo Caiado sabe que o MDB está sob o controle dos Vilelas — Maguito e Daniel, pai e filho — e não de seus aliados, que, aliás, foram expulsos do partido, sob acusação, verdadeira, de infidelidade partidária. A ideia do governador é criar um novo grupo político que o fortaleça para a reeleição, em 2022, sem que tenha de depender do emedebismo.
Governadores tendem a criar um grupo político coeso, independentemente de alianças pontuais com integrantes de outros grupos. Ronaldo Caiado não é diferente. Há quem aposte que apoiará a reeleição de Iris Rezende em Goiânia (sua filha, Anna Vitória Caiado, ou Silvio Fernandes estariam cotados para vice), mas tem certeza de que, se o fizer, terá o seu apoio na disputa de 2022. Por certo, sabe que não o terá, e ainda corre o risco de o emedebista ser derrotado. A atual parceira administrativa pode ou não ser transformada em parceria político-eleitoral. Iris Rezende e Ronaldo Caiado se respeitam, até se gostam como pessoas, mas alianças políticas, em termos eleitorais, pertencem a outra dimensão da vida. Em 2022, porque terá desgaste administrativo e político, e não com só o funcionalismo público — dados os cortes nas gratificações e outras questões —, Ronaldo Caiado, se for disputar a reeleição, vai precisar de uma aliança altamente coesa, não titubeante. O MDB não estará entre seus aliados — assim como o PSL do delegado Waldir Soares e, possivelmente, o PSB do senador Jorge Kajuru e do deputado federal Elias Vaz.
Portanto, é provável que Ronaldo Caiado banque um candidato a prefeito de Goiânia. Pode ser o empresário Wilder Morais, do Pros. Pode ser Zacharias Calil, do DEM (por sinal, o deputado, da base governista, é o que aparece melhor na capital). Pode ser o médico Silvio Fernandes (DEM), presidente do Ipasgo. Pode ser o empresário Samuel Belchior (MDB, mas a caminho do DEM). Pode ser outro. E até pode ser Iris Rezende, mas, se for este, será uma aposta no escuro de um político que, como se disse acima, é experimentado e não costuma entrar em canoa furada. Ganhar com Iris Rezende e não levar o MDB nada significará para 2022, em termos de apoio político (tempo de televisão, fundo partidário). E, claro, há o risco de perder com Iris Rezende e a derrota seria atribuída mais ao governador (até porque cristalizou-se a ideia de que governador não elege o prefeito da capital). Perdendo, o prefeito será alijado, de vez, da política — dada a idade (87 anos em 2020). Mas Ronaldo Caiado continuará na política e será visto como “dono” do fracasso eleitoral.

Então, do ponto de vista eleitoral e político, uma aliança com Iris Rezende pode ser benéfica para o prefeito, mas não para Ronaldo Caiado. O governador não tem o hábito de atirar no próprio pé.
Ponto de vista irista
A observação acima é a partir de um provável ponto de vista de Ronaldo Caiado. A partir de agora, a análise volta-se para um possível ponto de vista de Iris Rezende e, claro, do MDB.
Iris Rezende começa a dizer que não será candidato em 2020 e admite que chegou a hora de o MDB mudar. Cassado no final da década de 1960, o emedebista só voltou a disputar mandato em 1982, quando foi eleito governador, derrotando Otávio Lage. Desde então, com ou sem crise, como no período de crise com o ex-governador Henrique Santillo, nunca saiu do MDB. É leal ao partido que lhe deu tanto espaço e poder. A tendência, dada sua lealdade — confirmada em 2018, quando apoiou Daniel Vilela para governador, e não o neo-amigo Ronaldo Caiado —, é, não sendo candidato, bancar um candidato do MDB a prefeito. Há vários nomes, como Agenor Mariano, Bruno Peixoto, Andrey Azeredo e Samuel Belchior. Não são nomes ruins; pelo contrário, simbolizam a renovação, inclusive em termos de idade (nenhum deles tem 50 anos de idade). Mas não têm apelo eleitoral.
Embora não seja um político intelectualizado, desses que dão atenção à formulação de cenários, Iris Rezende é inteligente e perspicaz. Dada sua longa história, aos conchavos que fez ao longo de sua vida, sabe como funciona a política. Mais do que alguns de seus aliados — alguns são imensamente pueris —, percebe que a sociedade, no momento, cobra renovação de métodos, de nomes e, mesmo, em termos de idade. Ele sabe que a sociedade está convulsionada e cobrando mudanças. O historiador Fernand Braudell diria que há uma longa e sólida “onda” e que aqueles que não captarem sua dimensão e força poderão ser atropelados e até afogados.
Sendo uma raposa, com antenas afiadas, Iris Rezende sabe que bancar um candidato de Ronaldo Caiado é encerrar o ciclo do MDB na política de Goiás — e ele se tornaria conhecido como “coveiro” do partido e não é assim que quer concluir sua história (que, na média, é positiva). Portanto, vai ficar com o emedebismo. Ao mesmo tempo, o prefeito sabe que investir num nome novo, mas sem apelo eleitoral — como os quatro citados acima —, pode se tornar uma aventura eleitoral. De Iris Rezende pode-se dizer muitas coisas — menos que, em termos eleitorais, é um aventureiro político.
Como se trata de um realista absoluto, Iris Rezende por certo não vai caminhar com Ronaldo Caiado e seu candidato e tampouco com um candidato do MDB que seja, eleitoralmente, fraco.
Surge, pois, o nome de Maguito Vilela. O observador desatento pode acreditar que, por causa de Daniel Vilela, Maguito Vilela e Iris Rezende estão “rompidos”. Na verdade, não estão. Porque Iris Rezende avalia Maguito Vilela como um político leal.
Maguito Vilela foi vice-governador de Iris Rezende, entre 1991 e 1994, depois foi governador, entre 1995 e 1998. Em 1998, quando poderia ter disputado a reeleição — o Datafolha o apontava com um dos governadores mais populares do país —, abdicou e bancou o nome de Iris Rezende. Depois, apoiou o decano emedebista mais duas vezes para governador. Por isso, é considerado leal ao gestor de Goiânia.
Em 2020, Iris Rezende poderia apoiar Maguito Vilela para a Prefeitura de Goiânia? Tudo indica que sim. Porque, com Maguito Vilela, o MDB e Iris Rezende ganham, quer dizer, “levam” o poder. Não só. Ao contrário de Agenor Mariano, de Bruno Peixoto, de Andrey Azeredo e Samuel Belchior, que não têm capital político próprio e precisariam ser empurrados, Maguito Vilela tem capital político e, somado ao de Iris Rezende — que, apesar de enfraquecido, ainda tem força eleitoral na capital —, será um candidato extremamente forte.
Uma pesquisa que chamam de semiqualitativa aponta que, quando perguntados “qual nome tem mais condições de governar Goiânia?”, os eleitores apontam Maguito Vilela e o senador Vanderlan Cardoso (PP) como os primeiros colocados (quando a pergunta é mais simples e estimulada: “Em quem votaria para prefeito de Goiânia?”, o senador Jorge Kajuru aparece em primeiro lugar, ao menos na pesquisa feita há 20 dias). A mesma pesquisa sugere que o principal recall de Maguito Vilela foi sua gestão — considerada “excelente” — em Aparecida de Goiânia.
Há outra questão: Maguito Vilela pode ser candidato de uma ampla frente política — que pode incluir o PP do ex-ministro Alexandre Baldy e o senador Vanderlan Cardoso. Há quem aposte que a chapa ideal deve incluir Maguito Vilela para prefeito e o deputado federal Francisco Júnior para vice-prefeito. A ressalva é que o parlamentar quer disputar a Prefeitura e possivelmente não deixaria de ser deputado para ser vice-prefeito.
Por fim, uma vitória de Maguito Vilela, além de manter o legado de Iris Rezende, manteria o MDB vivo, ativo.