Empresários golpistas: donos de Coco Bambu, ParkShopping e Mormaii integram grupo que prefere ditadura à volta do PT
17 agosto 2022 às 20h53
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A coluna do jornalista Guilherme Amado no portal Metrópoles publicou um material exclusivo que cai como uma bomba em muitos dos mais importantes aliados de Jair Bolsonaro (PL) no mundo empresarial: em um grupo de WhatsApp, esses donos de grandes lojas e empreendimentos estão defendendo abertamente um golpe de Estado para evitar repassar o poder, em caso de derrota eleitoral do atual presidente. Alguns defendem até mesmo uma “ação preventiva”, por achar que passar pelas urnas tornará a “ruptura” mais complicada.
Segundo o colunista, puxam a fila dos empresários golpistas nomes como Afrânio Barreira, do grupo Coco Bambu; José Isaac Peres, da Multiplan, administradora de shoppings como o BarraShopping, no Rio, e o ParkShopping, em Brasília; José Koury, dono do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro; Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia; e Marco Aurélio Raymundo, o “Morongo”, dono da Mormaii, conhecida marca de moda surf.
O nome do grupo é “WhatsApp Empresários & Política” e foi criado no ano passado. Além de defender explicitamente um golpe, a postura geral é de ataques sistemáticos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além de quaisquer personalidades ou instituições que se oponham a seus objetivos.
“Morongo”, da Mormaii, prega até mesmo a necessidade de guerra civil para defender Bolsonaro, citando a Revolução Francesa e a Guerra de Secessão dos EUA como exemplos. Em uma mensagem no grupo, ele justifica a “ideia”, de maneira bastante clara:
Se for vencedor o lado que defendemos, o sangue das vítimas se tornam [sic] sangue de heróis! A espécie humana SEMPRE foi muito violenta. Os ‘bonzinhos’ sempre foram dominados… É uma utopia pensar que sempre as coisas se resolvem ‘na boa’.
O apoio a um golpe de Estado para impedir uma eventual posse de Lula ficou explícito no grupo a partir do dia 31 de julho, quando José Koury, do shopping Barra World e atuação no mercado imobiliário do Rio, abordou o tema, dizendo preferia uma ruptura à volta do PT. Ele argumentou que o Brasil voltar a ser uma ditadura não impediria o país de receber investimentos externos. “Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo.”, relatou a coluna no Metrópoles.
A discussão sobre o tema havia começado às 17h23 daquele dia, após postagem de Ivan Wrobel, proprietário da W3 Engenharia, construtora especializada em imóveis de alto padrão, principalmente na Zona Sul do Rio de Janeiro. Ao se apresentar ao grupo, Wrobel disse ser eleitor de Bolsonaro desde o segundo mandato do ex-capitão na Câmara dos Deputados: “Quero ver se o STF tem coragem de fraudar as eleições após um desfile militar na Avenida Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público”, publicou.
A mesma visão sobre o aspecto simbólico do desfile militar na orla de Copacabana foi compartilhada por “Morongo”. “O 7 de setembro está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o Exército está. Estratégia top e o palco será o Rio. A cidade ícone brasileira no exterior. Vai deixar muito claro”, escreveu.
“Urnas secretas”
O empresário Afrânio Barreira, dono do Grupo Coco Bambu e eleitor público de Bolsonaro, também respondeu à mensagem de Koury, com a figurinha de um rapaz aplaudindo. A rede de restaurantes, fundada em 2001 por Barreira, tem faturamento superior a R$ 1 bilhão anual e 64 lojas em funcionamento no país. Recentemente, ele se envolveu em discussão pública com o candidato Ciro Gomes, que o havia acusado de sonegar impostos. Barreira negou ter cometido qualquer ato ilícito.
Em 8 de agosto, o empresário José Isaac Peres, acionista majoritário da Multiplan, uma das principais administradoras de shoppings do Brasil, atacou pesquisas eleitorais, acusando sondagens de intenções de voto de serem “manipuladas” para confirmar resultados de “urnas secretas”.
O TSE é uma costela do Supremo, que tem 10 ministros petistas. Bolsonaro ganha nos votos, mas pode perder nas urnas. Até agora, milhões de votos anulados nas últimas eleições correm em segredo de Justiça. Não houve explicação.
Peres já havia ofendido o STF em outras ocasiões. Em 8 de maio, encaminhou mensagem dizendo que o Supremo “é o mais forte partido político da esquerda que faz oposição ao Poder Executivo”. E, no dia 26 de maio, disse que a reação do STF à operação militar que matou 23 pessoas em uma favela do Rio estava “à revelia da Constituição Brasileira”. “Até quando vamos assistir (sic) o abuso de poder prevalecer?”, indagou.
Para acessar a matéria na íntegra e conferir os “prints” do grupo de WhatsApp, obtidos pela reportagem do Metrópoles, clique aqui.