Um homem modesto
24 maio 2014 às 14h46
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Os manuscritos originais da última entrevista de Albert Einstein, corrigidos por ele mesmo, revelam que ele acreditava no sucesso do Estado de Israel apesar dos problemas, e que detestava ser elogiado
“Tenho grande esperança no futuro de Israel. O sucesso do Estado judeu é praticamente certo, apesar dos problemas com os árabes e os judeus ultraortodoxos.”
Essa foi a última declaração do cientista Albert Einstein três dias antes de morrer. Ele foi entrevistado pelo jornalista austríaco Edwin Roth (também judeu) em 1955.
Recentemente, Tomer Kaufman, um colecionador de livros e documentos, que mora em Jerusalém, comprou os manuscritos originais dessa entrevista, que foi enviada para Einstein para que fosse aprovada por ele antes de ser publicada nos principais jornais da Europa. São cinco páginas, que o colecionador adquiriu depois de uma exaustiva negociação com os descendentes de Edwin Roth, que estavam com os originais. É um tesouro. Todas as páginas trazem inserções e correções feitas de próprio punho pelo criador da teoria da relatividade.
Para os israelenses, a parte mais interessante da entrevista é, sem dúvida, quando Einstein se refere ao Estado que ajudou a fundar e que nessa época tinha apenas sete anos de existência. Três anos antes, em 1952, ele havia recusado a oferta de assumir o cargo de presidente de Israel. Na época, sem hesitar, o cientista apontou os motivos reais que o impediam de aceitar o que chamou de “tamanha responsabilidade”: a paz com os árabes e a integração dos ultraortodoxos à sociedade israelense.
Nos manuscritos originais, o autor da entrevista pede a Einstein que acrescente algo mais na parte em que se refere a Israel. Ele assim o fez, e escreveu: “Tenho certeza de que irá suceder, desde que por uma aproximação responsável do governo judeu, que leve ao estabelecimento real e sustentável da paz com os árabes”, e continuou, “também espero que haja cooperação suficiente a fim de influenciar os judeus ortodoxos a se integrarem à sociedade israelense num futuro breve”. O jornalista pergunta ao cientista como isso deveria ser conduzido, e Einstein responde: “Eu prefiro o método educacional do que o uso de táticas políticas de coalizão”.
Jornalistas e escritores que tiveram o privilégio de conhecer e escutar Albert Einstein sempre saíam desses encontros com a mesma impressão: a de que, além de gênio, ele também era humildade. E com Roth, o último jornalista a entrevistá-lo, não foi diferente. Na entrevista original, Edwin Roth, que morreu em 2010, faz uma breve introdução, descrevendo o Prêmio Nobel de Física — “uma da pessoas mais interessantes e aprazíveis que eu tive a sorte de conhecer” —, mas essa frase foi retirada da publicação a pedido de Einstein, assim como outros superlativos que o jornalista tentou incluir, como “cérebro fenomenal”.
Em outra parte da entrevista, Roth ainda tenta descrever Albert Einstein como o cientista que “mudou para sempre a história do mundo”. Mas ele também eliminou essa observação, mas deixou passar uma última anotação de Roth, que diz assim: “Einstein apesar da idade e dos cabelos brancos, traz a juventude no coração, e por isso sempre fez questão de estar rodeado de jovens. É fácil perceber que se trata de um homem modesto.”