Os manuscritos originais da última entrevista de Albert Einstein, corrigidos por ele mesmo, revelam que ele acreditava no sucesso do Estado de Israel apesar dos problemas, e que detestava ser elogiado

Cientista Albert Einstein: um homem que trazia a juventude no coração
Cientista Albert Einstein: um homem que trazia a juventude no coração

“Tenho grande es­pe­rança no futuro de Israel. O sucesso do Esta­do judeu é praticamente certo, apesar dos problemas com os árabes e os judeus ultraortodoxos.”

Essa foi a última declaração do cientista Albert Einstein três dias an­tes de morrer. Ele foi entrevistado pelo jornalista austríaco Edwin Ro­th (também judeu) em 1955.

Recentemente, Tomer Kauf­man, um colecionador de livros e documentos, que mora em Jerusa­lém, comprou os manuscritos originais dessa entrevista, que foi enviada para Einstein para que fosse aprovada por ele antes de ser publicada nos principais jornais da Europa. São cinco páginas, que o colecionador adquiriu depois de uma exaustiva negociação com os descendentes de Ed­win Roth, que estavam com os o­ri­ginais. É um tesouro. To­das as páginas trazem inserções e cor­reções feitas de próprio punho pe­lo criador da teoria da relatividade.

Para os israelenses, a parte mais interessante da entrevista é, sem dúvida, quando Einstein se refere ao Estado que ajudou a fundar e que nessa época tinha apenas sete anos de existência. Três anos antes, em 1952, ele havia recusado a oferta de assumir o cargo de presidente de Israel. Na época, sem hesitar, o cientista apontou os motivos reais que o impediam de aceitar o que chamou de “tamanha responsabilidade”: a paz com os árabes e a integração dos ultraortodoxos à sociedade israelense.

Nos manuscritos originais, o autor da entrevista pede a Einstein que acrescente algo mais na parte em que se refere a Israel. Ele assim o fez, e escreveu: “Tenho certeza de que irá suceder, desde que por uma aproximação responsável do governo judeu, que leve ao estabelecimento real e sustentável da paz com os árabes”, e continuou, “também espero que haja cooperação suficiente a fim de influenciar os judeus ortodoxos a se integrarem à sociedade israelense num futuro breve”. O jornalista pergunta ao cientista como isso deveria ser conduzido, e Einstein responde: “Eu prefiro o método educacional do que o uso de táticas políticas de coalizão”.

Jornalistas e escritores que tiveram o privilégio de conhecer e escutar Albert Einstein sempre saíam desses encontros com a mesma impressão: a de que, além de gênio, ele também era humildade. E com Roth, o último jornalista a entrevistá-lo, não foi diferente. Na entrevista original, Edwin Roth, que morreu em 2010, faz uma breve introdução, descrevendo o Prêmio Nobel de Física — “uma da pessoas mais interessantes e aprazíveis que eu tive a sorte de conhecer” —, mas essa frase foi retirada da publicação a pedido de Einstein, assim como outros superlativos que o jornalista tentou incluir, como “cérebro fenomenal”.

Em outra parte da entrevista, Roth ainda tenta descrever Albert Einstein como o cientista que “mudou para sempre a história do mundo”. Mas ele também eliminou essa observação, mas deixou passar uma última anotação de Roth, que diz assim: “Einstein apesar da idade e dos cabelos brancos, traz a juventude no coração, e por isso sempre fez questão de estar rodeado de jovens. É fácil perceber que se trata de um homem modesto.”