Um amigo de Bibi na Casa Branca

12 novembro 2016 às 10h49

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A questão é saber se, para o presidente eleito Donald Trump, os negócios não vão falar mais alto que a amizade

Desde que se tornou primeiro-ministro de Israel pela primeira vez, ainda na década de 1990, e agora durante seus dois mandatos, Benyamin Netanyahu sempre sonhou em trabalhar com um presidente dos Estados Unidos que fosse do Partido Republicano. Era uma frustração. Um desejo reprimido, já que todos os seus antecessores tiveram esse privilégio: Yitzhak Rabin, Shimon Peres e Ehud Barack caíram nas graças de Bill Clinton e tinham o afeto do presidente.
Netanyau, ao contrário, nunca pôde desfrutar de um jantar na Casa Branca. Os encontros com Obama sempre foram tensos, rápidos, e é quase certo de que apenas cafezinho foi servido no Salão Oval nessas ocasiões. Na quarta-feira à noite, o primeiro-ministro de Israel, assim como todos os líderes mundiais, se preparava para parabenizar a nova presidente democrata. Mas assim que Trump começou a ganhar em Estados-chave, aqueles que realmente importam na eleição americana, ficou claro que o vitorioso seria o grande amigo de Netanyahu.
Donald Trump não é um republicano tradicional como George Bush ou George W. Bush. Pai e filho, muitas vezes, desapontaram Netanyahu. Já o magnata é um republicano cheio de esteróides, um Godzila, que apesar do tamanho e truculência, é o modelo perfeito e conveniente para trabalhar junto ao amigo israelense. A era Obama termina em menos de dez semanas. Netanyahu teve que esperar oito anos, mas não pense que Bibi, como o premiê é chamado por aqui, também não teve, digamos, seus momentos com o líder democrata. Obama foi sim um osso duro, mas às vezes se portou como um bom filé mignon. Netanyahu conseguiu ao longo do tempo transformar o presidente americano no inimigo número 1 de Israel, e usou o desprezo de Obama por ele como uma ferramenta para convencer seus colegas de partido e do próprio gabinete de que era vítima de perseguição, e que ela vinha diretamente da Casa Branca.
A partir de 20 de janeiro de 2017, quando Donald Trump iniciar o mandato, abre-se uma linha direta entre Washington e Jerusalém. O rival Obama, para quem Netanyahu trabalhou exaustivamente em 2012 para não ser reeleito, vai deixar a Casa Branca, e o sucessor, de acordo com as promessas de campanha e outros sinais que ficaram no ar, passa a ser seu melhor amigo. É claro que os dois não estarão desacompanhados. Vladimir Putin completa o trio.
Só que Trump, como todos já sabem, é imprevisível, volátil, sem profundas conexões com nada nem ninguém. Por enquanto é uma Esfinge a ser decifrada.Não é nenhuma surpresa que Netanyahu sinta-se a vontade com os dois
líderes, que são feitos do mesmo estofo: são homens que representam a velha geração política, conservadores, dogmáticos, vulgares e até brutais dependendo da reação para certos assuntos.
Ao menos que Trump não cumpra o que prometeu duranta a campanha sobre a questão israelense e palestina, Donald Trump deverá ser um presidente muito mais pró-Israel do que os outros que passaram pela Casa Branca. Por enquanto tudo é novidade, mas é bom que o primeiro-ministro, apesar da amizade, mantenha um pé atrás. Assim como Hillary Clinton se tornou notícia, Trump poderá seguir o mesmo caminho. Mais que isso, não se pode esquecer que o novo presidente americano é antes de tudo um homem de negócios. E quando eles acontecem a amizade fica sempre à parte.