Reconciliação verdadeira ou uma tática oportuna?

26 abril 2014 às 13h46

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Dessa vez, os líderes palestinos parecem mais determinados a respeitar o que foi assinado e garantem que a tentativa de união não vai ruir como em 2008, 2010, 2011 e 2012

Enquanto representantes do Hamas e da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) se preparavam para assinar mais uma tentativa de união política, na semana passada, num campo de refugiados, em Gaza, o gabinete israelense se reuniu durante seis horas e decidiu suspender a negociação de paz que era mediada pelos Estados Unidos. Durante o encontro, alguns ministros sugeriram encerrar as conversas com os palestinos, mas no final preferiram observar como ficará o novo governo de união, para então decidir ou não pelo rompimento.
O governo israelense alega que não pode conduzir nenhum tipo de negociação com os palestinos tendo a participação do Hamas, o qual considera uma organização terrorista. O premiê de Israel disse que o presidente palestino, Mahmoud Abbas, preferiu se aliar a terroristas do que negociar a paz. “O Hamas lançou mais de 10 mil foguetes contra Israel nos últimos dez anos e não parou por um minuto, o pacto de união assinado com o Fatah é uma prova de que o presidente palestino não está disposto a avançar as negociações”, disse Benyamin Netanyahu.
O acordo não é o primeiro que os dois partidos palestinos assinam desde a ruptura em 2007, quando o Hamas tomou o controle da Faixa de Gaza depois de ganhar as eleições presidenciais, mas foi impedido pela comunidade internacional e por Israel de assumir o poder da Autoridade Palestina. Dessa vez, os líderes palestinos parecem mais determinados a respeitar o que foi assinado e garantem que a tentativa de união não irá ruir como em 2008, 2010, 2011 e 2012. Mesmo assim ainda existe um longo caminho pela frente para garantir uma verdadeira reconciliação, o que inclui novas eleições e a formação de um novo governo, que deverá ser anunciado em cinco semanas. Por enquanto Hamas e Fatah têm apenas um pedaço de papel assinado que não garante muita coisa. Os dois partidos concordaram apenas com as cláusulas mais fáceis, como a declaração de reconciliação e o anúncio de novas eleições. Assuntos mais polêmicos, como questões de segurança, não foram discutidos. O tema é controverso e é justamente o que provoca a divisão: como unificar as forças de segurança na Cisjordânia e em Gaza? Como serão conduzidas as novas instituições nacionais e que curso deverão tomar?
O acordo entre Hamas e Fatah responde apenas as expectativas do povo palestino. Diante do fracasso das conversas de paz entre a Autoridade Palestina e Israel, o que restou foi mais uma tentativa de união nacional. O presidente Mahmoud Abbas, desde 2006, quando encerrou seu mandato, continua no cargo e precisa da reconciliação para se legitimar como líder de todos os palestinos. Já o Hamas precisa de dinheiro. A ajuda que vem do Catar não é suficiente e a situação do grupo piorou ainda mais depois que o Egito passou a ser governado por generais e bloqueou a fronteira com a Faixa de Gaza.
A reconciliação, na verdade, não reflete a máxima que o premiê de Israel vem pregando de que “Abbas escolheu o Hamas e não a paz”. Esse argumento não é suficiente para o primeiro-ministro israelense convencer a comunidade internacional de que os palestinos são os responsáveis pelo fracasso das negociações que eram conduzidas pelo secretário de Estado norte-americano, John Kerry. Na verdade, até agora, nada mudou: ainda não há governo de união nacional e as eleições não foram convocadas. Sob pressão, as chances de Mahmoud Abbas apertar o botão de ejetar, a qualquer momento, ainda são grandes. Se nas próximas semanas o pacto se concretizar, resta saber se o Hamas e o governo de Israel estarão dispostos a negociar um com o outro. E não é preciso uma bola de cristal para saber a resposta.