O romance secreto entre Israel e Arábia Saudita que pode ajudar os dois países no combate ao Irã

17 fevereiro 2018 às 11h14

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Apesar de inimigos, os dois Estados têm interesse comum, e o que tem atrapalhado é a ambição nuclear da Arábia Saudita

O que pode haver de real, e genuinamente verdadeiro, na aproximação entre Israel e a Arábia Saudita? Os boatos, cada vez maiores, do estreitamento dos laços entre os dois países, tecnicamente inimigos, são exagerados? Fake news? Pura desinformação? E quem está por trás disso?
Já faz algum tempo que o assunto vem sendo divulgado, e não é novidade que as coisas mudaram entre os dois países. Uma suposta relação aparentemente floresce, bem longe das câmeras. Recentemente, foi sugerido que um elemento-chave no boicote do mundo árabe a Israel seria suspenso quando surgiram rumores de que a Arábia Saudita iria liberar o espaço aéreo para voos de e para Israel pela Air India e que talvez até a companhia aérea israelense El Al receberia também a mesma autorização. Logo depois dessa notícia se espalhar, a Autoridade de Aviação Civil da Arábia Saudita desmentiu a informação.
Bem antes disso, foi divulgado pela imprensa inglesa que um príncipe saudita fez uma visita secreta a Israel. E não parou por aí. Em Nova York, na principal sinagoga da cidade, um encontro público se deu entre o príncipe Turki bin Faisal al Saud, ex-diretor do serviço secreto saudita, e Hefraim Halevy, ex-diretor do Mossad, o serviço secreto israelense. Há poucas semanas, o chefe do Estado Maior de Israel, Gadi Eisenkot, deu uma entrevista exclusiva ao jornal saudita “Elaph”.
Não há dúvidas que as relações do Estado Judeu com os países do golfo estão mornas, e não é de hoje. Os laços comerciais se estreitaram de tal forma, que até blogueiros sauditas que nutrem admiração por Israel e se expressam em seus blogs, antes um tabu, agora é tolerado.
Não, não existe romance no ar e qualquer tentativa em afirmar que Israel e a Arábia Saudita estãot prestes a estabelecer relações diplomáticas é pura especulação. Aos olhos de todos, as coisas continuam iguais entre os dois países, e o obstáculo para uma possível aproximação permanece: a interminável disputa entre palestinos e israelenses. Em dezembro do ano passado, quando o presidente americano, Donald Trump, reconheceu Jerusalém como capital de Israel, a Casa Real Saudita condenou veementemente a decisão, e votou a favor de uma resolução na ONU que condenou o reconhecimento.
Mas, os quase amigos têm uma ameaça em comum: o Irã e sua ambição hegemônica na região. A narrativa de uma aliança militar incipiente entre Israel e Arábia Saudita interessa aos dois países e, de certa forma, preocupa o regime iraniano. No entanto, se a busca por uma solução para os palestinos e a contenção da ameaça iraniana são suficientes para explicar essa possível aliança, porque ela não acontece?
O elefante no meio da sala, que é pouquíssimas vezes lembrado, e que realmente impede uma aproximação sincera, é a ambição nuclear da Arábia Saudita. Em Washington, Israel trava uma batalha diária para impedir que o governo americano permita que os sauditas desenvolvam seu próprio programa de energia nuclear, que possibilitaria ao país enriquecer urânio, se tornando apto a desenvolver bombas atômicas. E Israel tem motivos para se preocupar.
Guarda baixa
Trump se prepara para baixar a guarda que previne os sauditas de negociarem com empresas americanas que desenvolvem tecnologia nuclear. Na recente negociação entre os Estados Unidos, a Arábia Saudita insistiu no direito de desenvolver energia nuclear com fins pacíficos. E, ironicamente, usou os mesmos argumentos que levaram as potências mundias a permitirem que o Irã enriqueça urânio, para justificar o pedido. Desde a assinatura do acordo com os iranianos, os sauditas vêm dizendo que não só o reino, mas todos os países do Golfo responderiam prontamente à ameaça, e que isso significava a aquisição de armas nucleares. O único obstáculo para os sauditas é o Congresso americano, onde Israel tem muito mais influência. Mesmo que um acordo seja fechado entre Trump e a Arábia Saudita, o Congresso pode e tem poderes para bloquear ou acrescentar normas e cláusulas preventivas, como proibir os Estados Unidos de venderem tecnologia nuclear necessária para enriquecer urânio ou reprocessar plutônio, dois componentes necessários para produzir um artefato nucelar.
E como tudo no Oriente Médio é uma questão de negociar, é justamente isso que Israel deverá fazer. Pela mídia manda mensagens para Riyad, que entende muito bem a delicada situação que foi estabelecida com o Irã nuclear, só que há um preço para que os sauditas possam ficar de igual para igual com os inimigos persas quando o assunto é nuclear. Para que Israel reduza a pressão no Congresso americano em favor dos sauditas, eles terão que dar algo em troca: Jerusalém, permissão para voos noturnos de caças israelenses no espaço aéreo do país, cooperação militar e troca de informações entre seus respectivos serviços de inteligência e, é claro, portas abertas para a entrada de empresas israelenses e por aí vai. Os sauditas sempre reclamaram do tratamento negativo que sempre recebram do Congresso americano. Dessa vez as coisas parecem diferentes e todas essas mudanças se encaixam, perfeitamente, no jogo estratégico israelense. E quando isso acontecer, o Oriente Médio deixa de ser o velho barril de pólvora para se transformar num caldeirão atômico. E o mundo estará, assim, um pouco mais perigoso.