Ninguém mexe com quem tem uma bomba atômica

12 agosto 2017 às 10h07

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Os desafios que os EUA enfrentam hoje com a Coreia do Norte talvez sejam os mesmos que enfrentarão com o Irã amanhã

Será que, no mundo de hoje, é possível deter ditaduras antes que estas desenvolvam armas nucleares? E se não for possível frear a compulsão nuclear pela via diplomática, uma guerra é realmente a única opção?
São esses e outros questionamentos que os Estados Unidos estão sendo obrigados a enfrentar a fim de tomar uma decisão final sobre a Coreia do Norte.
Desde que Donald Trump tomou posse, em janeiro deste ano, Pyongyang já realizou 13 testes com mísseis que têm capacidade de cruzar o Oceano Pacífico e atingir o território americano com uma ogiva nuclear. Os dois útimos lançamentos foram um sucesso. Na semana passada, foi revelado que os norte-coreanos já possuem tecnologia capaz de desenvolver bombas nucleares de diversos tamanhos, até em miniatura. No dia seguinte a essea revelação Donald Trump ameaçou arrasar o país com “fúria e fogo, como o mundo jamais viu”.
Os desafios que o governo americano enfrenta hoje com a Coreia do Norte talvez sejam os mesmo que os Estados Unidos irão encarar com o Irã assim que o acordo, assinado em julho de 2015 entre as potências mundiais e o país xiita, terminar. Talvez ocorra de forma gradual, mas em 2023, assim que as primeiras restrições contra o programa nuclear iraniano forem suspensas, como está previsto, um problema ainda pior e mais sério vai se iniciar: o mundo terá que lidar com um Irã nuclear.
A campanha contra a Coreia do Norte já serve como lição, e é uma oportunidade para saber como lidar com uma questão ainda mais complicada, que é prevenir uma bomba nuclear iranina. A estratégia atual, que vale tanto para a Coreia do Norte como para o Irã, é de convencimento. Os Estados Unidos querem provar para os dois regimes que seus programas nucleares na verdade são uma ameaça à sua própria sobrevivência, e por isso, devem interromper suas aspirações.
Se os norte-coreanos não retrocederem, e for estabelecida uma retórica beligerante e de terror entre os dois lados, então os EUA, além de se defenderem, terão que proteger também seus aliados na Ásia. Todos os países que possuem alianças com os Estados Unidos nessa região contam com a capacidade militar americana para lidar com a ameça nuclear coreana. Se os aliados não tiverem a devida proteção, essa ausência militar poderá causar um efeito dominó que certamente vai afetar a credibilidade dos Estados Unidos no mundo inteiro. O impacto será ainda maior no Oriente Médio, onde os americanos, apesar dos russos, ainda têm bastante influência.
Décadas atrás, Washington já tinha planos de atacar o Iraque de Saddan Hussein antes que ele desenvolvesse armas nucleares. A Líbia de Muammar Kadaffi também estava nos planos dos americanos. Se Washington não atacar a Coreia do Norte, apesar dos discursos de ex- presidentes democratas e republicanos, que sempre demonstraram preocupação em prevenir o problema coreano, a mensagem para o Irã será bem clara: interrompam o programa nuclear. Mas os iranianos pensam diferente. Para evitar o destino catastrófico de Saddan e Kadaffi, os ayatolás já optaram pela bomba. Sabem que só assim, com um arsenal nuclear, regimes ditatoriais tornam-se praticamente invencíveis. Afinal, ninguém mexe com quem tem uma bomba atômica.