A guerra que estava faltando

31 janeiro 2015 às 12h02

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Israel promete pulverizar o Hezbollah e o grupo anuncia que responderá com uma chuva de milhares de mísseis

do Hezbollah mata dois soldados israelenses | Maruf Khatib/Reuters
A morte de soldados israelenses é sempre lamentada à exaustão pelo país inteiro. A comoção é geral. Na última quinta-feira, foram enterrados os dois militares que morreram depois de um ataque do grupo xiita libanês Hezbollah. Militantes acertaram um veículo que patrulhava a região de Har Dov, na fronteira de Israel com o Líbano. Um míssil antitanque destruiu o carro militar. Além dos mortos, outros sete soldados ficaram feridos. A Força Aérea reagiu na hora, respondeu com artilharia e atingiu várias localidades ao sul do Líbano, mas com restrição. Um soldado pacificador da ONU acabou sendo atingido por engano e também morreu.
O incidente poderia, certamente, ser o pretexto do início de mais um conflito. Mais uma guerra. Só que nenhum dos dois lados demonstrou vontade de dar sequência à violência, e quase que ao mesmo tempo declaram que “estavam conversados”.
Na semana anterior, Israel tinha atacadou um comboio na Síria que matou membros importantes do Hezbollah. O filho de um dos fundadores do grupo considerado o príncipe dos xiitas libaneses também morreu e para a surpresa de todos, os outros seis mortos eram iranianos, entre eles um general. O Hezbollah prometeu vingar o ataque e o fez. Mas a retaliação veio de forma calculada e restrita. O alvo: militares israelenses. Pelo menos dessa vez os civis foram deixados de lado.
Rapidamente o Exército declarou a região norte de Israel zona militar fechada. Uma estação de esqui, que nessa época do ano fica lotada de turistas e esquiadores profissionais, foi evacuada.
Estradas foram bloqueadas, tropas convocadas em regime de emergência e até navios militares israelenses foram avistados navegando em águas libanesas. Houve uma movimentação para o início de uma terceira guerra com o Líbano, mas alguém puxou o freio.
Israel é um país propenso a guerras. Mas com o aumento do extremismo árabe e o fanatismo islâmico, não há como escapar de um conflito aqui e ali a cada dois anos ou até menos. É uma sina. O país foi erguido sob um vulcão em atividade que vez ou outra entra em erupção, o que forçou os israelenses a aprenderem a viver lado a lado com a tragédia.
O Hezbollah — ou o Partido de Deus, como é conhecido o grupo libanês — é uma organização fascista, forte, perigosa e agressiva. Enquanto muitos israelenses veem a questão palestina como movimento nacionalista, com o Hezbollah não é o mesmo caso. O grupo transformou o sul do Líbano num sub-estado conhecido como Hezbolastão. Portanto, não há como comparar um Estado democrático como Israel ao totalitarismo terrorista praticado pelo grupo.
Não há interesse de um conflito nem pelo lado de Israel nem do Hezbollah. Mas a escalada da semana passada foi um sinal de que o terceiro round está a caminho. Só que a próxima guerra será devastadora. Israel promete pulverizar o Hezbollah e o grupo já anunciou que uma chuva de milhares de mísseis vai cair sobre o inimigo judeu. Dessa vez, foi a prudência que evitou a catastofre, mas até quando os dois lados vão se segurar, ninguém sabe. Quando começar, não poderão voltar atrás, e o resultado certamente será trágico.