A difícil missão de ser cristão na Terra Santa
17 maio 2014 às 14h19
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Jesus é israelense ou palestino? Israel afirma que, sem dúvida, ele é um sabra (nascido em Israel); a OLP não perdeu tempo e declarou Jesus um verdadeiro palestino
Nesta semana o Papa Francisco fará sua primeira viagem ao Oriente Médio. O pontífice vai passar pela Jordânia, Palestina e Israel. A expectativa da chegada de Francisco vem provocando distúrbios na região, principalmente no Estado judeu. A possibilidade de que a propriedade do prédio onde fica o Cenáculo (local onde Jesus teria realizado a Santa Ceia) ser repassado ao Vaticano causou revolta entre os judeus ortodoxos, que acreditam que no mesmo local está enterrado o Rei Davi. E foi por causa disso que a Igreja Católica teve vários de seus monumentais prédios em Jerusalém pichados com frases de intimidação e até ameaças. Os atos de vandalismo se espalharam de tal forma, que diariamente uma igreja amanhece com os muros sujos com frases como essas: “Maria é prostituta” ou “Jesus é um porco”. Há ainda ameaças, como “morte aos cristãos”. A disputa da guarda do prédio trouxe à tona outras questões que afligem muito mais a Santa Sé, principalmente o desaparecimento da população cristã do Oriente Médio.
Desde a criação do Estado de Israel em 1948, o país assumiu o título de protetor e até “salvador” da minoria cristã. Israel faz questão de lembrar aos membros dessas comunidades que pelo menos aqui os cristãos têm plena liberdade de credo e que os lugares “santos” são respeitados, o que não acontece na maioria dos países muçulmanos, onde a perseguição aos cristãos é uma realidade.
Um site palestino revelou que a população cristã da Cisjordânia, nos últimos 60 anos, decresceu. Eram 10%, e agora não chegam a 2%. Não é segredo que os líderes religiosos muçulmanos palestinos, há muitos anos, iniciaram um processo de perseguição e conversão de cristãos, o que dura até hoje. A pequena cidade de Belém, onde Jesus teria nascido, com exceção da Igreja da Natividade, em nada lembra um local cristão. As mesquitas estão por todos os lados. Belém é hoje uma cidade muçulmana.
Em Israel a situação não é diferente. Há 66 anos os cristão eram 8% da população nativa do embrionário Estado judeu. Hoje não chegam a 1%, e a razão para o declínio é praticamente a mesma: discriminação, que vai desde os atos de vandalismo e desrespeito ao completo isolamento. Tanto em Israel como na Palestina são poucos os cristãos que conseguem chegar a um cargo de confiança.
Nesse ponto o governo palestino discrimina um pouco menos, mas é possível contar nos dedos os felizardos: o porta-voz do presidente Mahmoud Abbbas, dois membros importantes dos Ministérios do Trabalho e do Turismo, outros dois do comitê executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e só. Mas apesar dos números irrisórios, pelo menos o governo palestino tenta disfarçar tanta discriminação, participando de eventos importantes como a Páscoa e o Natal. Já Israel, desde a sua criação nunca teve sequer um cristão em um cargo de confiança. No parlamento há apenas dois políticos cristãos, mas de origem árabe, e devido a isso eles quase não têm representatividade. Na Palestina são oito os parlamentares cristãos. No campo diplomático os palestinos possuem cinco embaixadores de origem cristã, incluindo os de Londres e Berlim. Já Israel não tem nenhum. As árvores de natal são proibidas no parlamento israelense, e o primeiro-ministro não visita igrejas em 25 de dezembro. Na verdade Netanyahu possui uma relação estremecidada com a comunidade cristã de Israel desde o seu primeiro mandato, na década de 90, quando autorizou a construção de uma mesquita bem ao lado da Basílica da Anunciação em Nazaré. Na época até o arqui-inimigo Yasser Arafat foi contra, mas não adiantou, e o premiê deixou passar. Os cristãos de Nazaré jamais esqueceram esse episódio.
Enquanto finalizam os preparativos para a chegada do Papa, uma questão, dessa vez cômica, foi levantada entre judeus e árabes: afinal Jesus é israelense ou palestino? Israel afirma que como judeu que era, sem dúvida ele é um sabra ( nascido em Israel); a OLP não perdeu tempo e declarou Jesus um verdadeiro palestino. É mais uma disputa, que nem o Papa vai conseguir resolver.