Amoral
31 maio 2014 às 10h28
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Quatro crianças palestinas são detidas na Cisjordânia por tropas israelenses por comerem cerejas. Entregues à polícia, as autoridades justificam a ação porque receberam uma queixa de rouboO caso aconteceu na Cisjordânia e deixou muita gente indignada . Eram 10 horas da manhã de terça-feira, 27, quando quatro meninas, com 11, 13, 14 e 15 anos de idade, foram detidas pelas Forças de Defesa de Israel para esclarecimentos. As “suspeitas” foram acusadas, por colonos judeus, de invadirem um pomar que fica num assentamento conhecido como Havat Maon, e comerem cerejas que estavam prontas para a colheita.
As meninas palestinas são moradoras de um vilarejo muito pobre chamado Tuba, que fica numa colina ao sul de Hebron, e uma delas é surda.
Como ameaças de jovens colonos contra as crianças palestinas desse vilarejo são comuns e frequentes, soldados israelenses, há algum tempo, protegem os menores que vão pra escola. E é geralmente nessa hora que elas são atacadas. Já virou rotina: todos os dias os militares realizam a tarefa de garantir a segurança do caminho por onde passam essas crianças quando vão à escola num outro vilarejo, a-Tawani, que fica próximo do assentamento judeu. Na volta pra casa, elas também são escoltadas.
Só que, na terça-feira, 27, as quatro garotas deixaram a escola mais cedo porque terminaram uma prova rapidamente. Os soldados ainda não tinham chegado, então elas resolveram seguir para casa por conta própria. Quando os militares se encontraram com as estudantes em Havat Maon, elas já tinham sido capturadas pelos colonos. Eles as acusavam de comerem as cerejas de uma mísera árvore, e exigiam que elas fossem presas sob acusação de roubo e invasão de propriedade. E foi exatamente o que os soldados israelenses fizeram. Todas foram detidas para averiguação, mesmo sabendo que pelo menos duas delas, com 11 e 13 anos, não poderiam sequer serem questionadas. Uma porque não tem idade penal suficiente para sofrer um processo, e a outra porque além de ter apenas 11 anos também sofre de surdez.
Elas ficaram sob a guarda dos soldados por pelos menos três horas dentro do assentamento, até que um carro da polícia chegou e as levou para uma delegacia. Lá, já no distrito policial, um pouco de bom senso: as crianças de 11 e 13 anos foram imediatamente liberadas, mas as outras duas tiveram que ficar por mais algum tempo. Ambas negaram ter comido as cerejas, e logo depois foram soltas. A polícia justificou que os depoimentos tinham de ser tomados porque eles receberam uma denúncia de roubo.
Há pouco mais de um mês, outras meninas palestinas foram atacadas no mesmo caminho, também por colonos. Elas foram espancadas a caminho da escola, enquanto soldados, que estavam num jipe bem próximo, viram e não fizeram nada para ajudar. Há meses que isso acontece quase que diariamente e os colonos nunca são presos. O caso levou uma parlamentar aqui de Israel a fazer um desabafo em sua conta pessoal,numa rede social. Zahava Gal escreveu: “…um país cuja lei permite que quatro garotas sejam presas por comerem cerejas de uma árvore qualquer, é um país que perdeu a consciência moral”.