Leitor contesta incursão do dramaturgo Nelson em questão sociólogica | Foto: Arquivo/Agência Estado
Leitor contesta incursão do dramaturgo Nelson em questão sociólogica | Foto: Arquivo/Agência Estado

Cirlei Araujo

A obra de Nélson Rodrigues é seminal no campo da dramaturgia, mas daí a ser enaltecido como sociólogo/antropólogo a distância é muito grande. Generalista no mínimo e falaciosa ao extremo sua afirmação de que “o brasileiro tem complexo de inferioridade”, pois reduz todos os brasileiros à categoria de seres incapazes de se autoafirmarem, ao certo pelo fato de nosso maior dramaturgo e cronista esportivo se acreditar porta-voz da Nação e se esquecer de que, já naquela época, havia inúmeros brasis. Como se vê, Nelson foi acometido de audaciosa presunção.

Por outro lado, ao menos provoca a discussão e a indignação e nos faz rever e defender alguns conceitos. Acredito que projetar um sentimento de inferioridade de atletas, cronistas e dirigentes, a maioria iletrados à época, foi algo que se difundiu mais pela notoriedade do autor da frase do que da pertinência da afirmação. Não li o livro, mas vejo que o autor não abordou a preação de mulheres indígenas e suas importantes consequências para a formação do gentílico brasileiro.

Outro aspecto não abordado e muito importante era a prática do “cunhadismo” entre os indígenas, consubstanciada no oferecimento de várias esposas ao recém-chegado, geralmente um branco e suas inovações tecnológicas. Enfim, foi baseado na necessidade de braços, e não em preocupações e pruridos raciais, que o Brasil foi construído.

Fosse o brilhante dramaturgo pernambucano um pouquinho mais consciente da importância da multiculturalidade (Gobineau, racista e amicíssimo de Dom Pedro II, que acreditava-se descendente do deus nórdico Odin, não era diferente) e das inúmeras omissões dos nossos pais fundadores (ou “fraudadores”), não teria expressado essa infame frase. Vejo isso como um reflexo das teses de supremacia racial que procuravam destacar mais as diferenças do que as semelhanças entre as pessoas sendo que o país foi formado basicamente por imigrantes e estes foram forçados, preados, voluntários, subvencionados e convencidos (antepassados de Rita Lee).

Se ser um vira-lata é não ter raça definida, é não ter pedigree, a maioria dos brasileiros, que é mestiça, por analogia, também o é, e isso não significa ausência de valor. Por outro lado, é preferível estar disposto a aprender sempre e absorver novos conhecimentos, e isso pressupõe capacidade de autocrítica e certa humildade, que se atribuir um valor que não se tem e irresponsavelmente legar às futuras gerações tragédias e sofrimentos evitáveis como os megalomaníacos governantes costumam fazer.

Em resumo, o fatalismo e racismo do conde Gobineau são criticados por ninguém menos que Tocqueville. Este afirmava que as ideias pessimistas do conde refutavam qualquer esforço de se construir um país, ao afirmar que os destinos dos homens estavam atrelados a uma raça. Esse pensamento conduziria a uma resignação e naturalizava a desigualdade, tornando a ação política dos cidadãos ineficaz ao processo de mudanças, eliminando, assim, a iniciativa individual no terreno dos acontecimentos históricos. Hoje sofremos as consequências disso.

Cirlei Araújo é sargento do Exército.
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“Hora de mostrar que somos um povo honesto”

Fernando Borgomoni

Para o jornalista José Maria e Silva, autor do texto “Estudo da FGV sobre benefícios da Copa não passa de propaganda enganosa” (Jornal Opção 2017): Pense bem, exatamente porque “até os esquimós” sabem que somos o país do carnaval e do futebol, e exatamente porque nós sabemos que temos, como povo e como nação, muitas outras qualidades, mostremos com a perfeita organização desse grande evento que somos um povo “honesto, responsável e laborioso”. Ou você não acredita no povo brasileiro?

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“Uma excelente entrevista de Graciliano Ramos”

Gonzalo Armijos

“A última entrevista de Gra­ciliano Ramos” (Jornal Opção 1944, caderno Opção Cultural) é excelente. Uma joia! Uma das primeiras obras brasileiras que li ao chegar ao Brasil, no início dos anos 80, foi “Memórias do Cárcere”, do grande escritor alagoano. Nunca vou esquecer.

Gonzalo Armijos é filósofo e professor da UFG.
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“Guerrilheiros do passado não se converteram à democracia”

Odiombar Rodrigues

Sobre o texto, “Estatuto do Desarmamento não contribui para reduzir a violência” (Jornal Opção 1988), da coluna “Contraponto”, de Irapuan Costa Junior, podemos dizer que o estatuto foi uma medida muito “inteligente”, pois, por meio dele, o governo está construindo o caos social que muito interessa aos “revolucionários” bolivarianos e castristas. Quando ele estiver plenamente instalado, um “salvador” tomará o poder em nome do “restabelecimento” da ordem social. Ninguém imagina que os “guerrilheiros” do passado tenham se convertido à democracia.

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“Juventude tratada brutalmente”

Fernanda Bento

Ainda em tempo sobre a chacina brutal ocorrida no Morro do Mendanha: em toda a imprensa que noticiou esse crime brutal, as vítimas são denominadas mulheres. Só uma observação: apenas uma delas é maior de 18 anos. Foram jovens e adolescentes assassinadas, não mulheres. Mais uma prova de como nossa juventude vem sendo brutalmente tratada.

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