Juscelino Kubitschek, os IPMs da ditadura e a prisão arbitrária

14 junho 2023 às 10h19

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A foto do “Periscópio” de hoje mostra Juscelino Kubitschek chegando à sede do 1º Batalhão da Polícia do Exército, em meados dos anos 1960, na Rua Barão de Mesquita, no bairro Tijuca, no Rio de Janeiro. Sem mandato, sem direitos políticos, ele foi alvo dos vários Inquéritos Policiais Militares e respondia as mais variadas perguntas de insignificantes militares que queriam mostrar serviço para os seus superiores (num livro publicado pela FGV, o presidente-general Ernesto Geisel diz que não havia nada grave contra JK).
O ex-presidente contou com a defesa do advogado Sobral Pinto, que, desde a ditadura do Estado Novo, defendia presos políticos. Kubitschek ainda não tinha sido preso, mas deveria comparecer aos depoimentos dos IPMs.
Tem uma cena da minissérie “JK”, exibida na Globo em 2006, mostrando o ex-presidente respondendo às perguntas. Um dos soldados o chamou de “Seu Juscelino”. Foi nessa hora que Sobral, com seu jeito enérgico de defender seus clientes, se levantou da cadeira e falou firme para o soldado: “Seu Juscelino não! Doutor Juscelino! Mais respeito com aquele que foi presidente da República e comandante em chefe das Forças Armadas, que foi tenente-coronel da valorosa Polícia Militar mineira!” O soldado mandou Sobral Pinto se retirar da sala.
Cansado daqueles depoimentos longos e que só tinham como objetivo desgastar a sua imagem, Juscelino Kubitschek decidiu sair do país juntamente com sua mulher, Sarah Kubitschek. Eles passaram um tempo em Portugal e depois nos Estados Unidos. Kubitschek voltou em 1965. Três anos depois, logo após a publicação do AI-5, enquanto saía do Theatro Municipal, no Rio de Janeiro, onde participou de uma colação de grau, foi preso e levado para o Forte de Copacabana.
Nos anos 1970, o ex-presidente lançou os volumes dos seus livros de memórias pela editora do grande amigo Adolpho Bloch. Juscelino Kubitschek nunca mais voltaria à política e morreu sem ver o país ser uma democracia.