A conquista que fez o povo brasileiro virar ‘napoleônico’

17 junho 2025 às 09h05

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“Amigos, estamos atolados na mais brutal euforia. Ontem, quando rompia a primeira estrela da tarde, o Brasil era proclamado bicampeão do mundo. Foi um título que o “scratch” arrancou de sua rutilas entranhas. E, a partir da vitória sumiram os imbecis, e repito: não há mais idiotas nesta terra. Súbito, o brasileiro, do pé rapado ao grã-fino, do Presidente da República ao continuo, o brasileiro, dizia eu, assume uma dimensão inesperada e gigantesca. O bêbado tombado na sarjeta, com a cara enfiada no ralo, também é rei. Somos setenta e cinco milhões de reis. (…) Foi a vitória do “scratch” e mais: foi a vitória do homem brasileiro que é sim o maior homem do mundo. Hoje, o Brasil tem a potencialidade criadora de um povo de napoleões. Convença-se leitor: você é napoleônico.”
Nelson Rodrigues estava eufórico em sua coluna “Meu personagem da semana” publicada no Globo do dia 18 de junho de 1962. E não era para menos! A seleção brasileira conquistava o bicampeonato mundial no Chile, no dia anterior. Quando se esperava o futebol de Pelé, o que se viu foi Amarildo, Garrincha, Vavá. O rei se machucou no começo da competição e não pode continuar jogando.
O Brasil não precisava provar mais nada para ninguém! O Maracanazo era coisa do passado. Como dizia a letra da música que embalou a seleção: “A taça do mundo é nossa com brasileiro não há quem possa”. A seleção campeã, Nelson Rodrigues escrevendo sobre o título. Com brasileiro transformado em Napoleão, ai daquele que quisesse nos enfrentar!