De todas as cantoras brasileiras com mais de 50 anos de carreira, Gal Costa talvez tenha sido a que mais se reinventou ao longo dos anos.  Foram 57 anos de carreira, iniciada em 1965, quando a cantora estreou com músicas inéditas de Caetano Veloso e o Gilberto Gil.

 Ela ainda era Maria da Graça quando lançou “Eu vim da Bahia”, samba de Gil sobre a origem da cantora e do compositor.

Gilberto Gil e Gal Costa

 Com uma enorme capacidade de redescobrir-se a baiana Maria da Graça Costa Pena Burgos, nascida em Salvador em 1945 partiu em na última quarta-feira, 09 de novembro, na cidade de São Paulo, onde vivia há vários anos.

Gal Costa aprendeu cedo a usar a voz como instrumento e levou esse talento às últimas consequências. Versátil e destemida, transitou por diversos gêneros musicais e rompeu com padrões, sempre buscando mais e mais.

Sophie Charlote e Gal Costa

A atriz Sophie Charlote, que viverá Gal Costa no cinema, disse:

“Todas nós mulheres devemos reverenciar a potencia feminina que ela é”.

Também a verdade é que Gal, para além da música, utilizou o corpo inteiro como uma ferramenta de expressão da maior importância. Era o corpo sensual, a boca vermelha, e, a voz afinadíssima, educada e límpida, que passava da suavidade da bossa nova às distorções das guitarras em segundos.

Gal Costa

 Em 1967, em seu primeiro disco dividido com Caetano Veloso, Gal ainda era uma artista de voz doce e tímida, discípula fiel de João Gilberto. Já entre 1969 e 1971, a artista deixa claro o seu potencial para a estridência do rock. Nessa fase, ao tomar certa distância da bossa nova, Gal gravou Roberto e Erasmo Carlos, aproximou-se da jovem guarda e da tropicália, alcançando o equilíbrio perfeito entre “berros e sussurros”.

Em 1971, veio o show “Fa-tal – Gal a todo vapor”, a cantora vestiu uma saia bem abaixo do umbigo e explorou os seus agudos cantando “Eu não tenho nada, antes de você ser eu sou amor da cabeça aos pés”.

“Fa-tal – Gal a todo vapor”, 1971

Gal também mostrou o seu lado político. Seus amigos Caetano e Gilberto Gil foram para o exílio em Londres, e, ela ficou no Brasil evidenciando seu engajamento político ao se colocar como uma das porta-vozes da resistência à ditadura militar.

Os anos de censura, também afetaram Gal. Em 1973, ela teve a capa do disco “Índia” censurada pela mesma ditadura.

“Índia”, 1973

Em 1979, surge “Gal tropical” em que ela usava o timbre claro e definido em faixas como a marchinha pop “Balancê”.

Já por volta de 1994, Gal exibiu os seios nos palcos do Rio de Janeiro, ao cantar “Brasil”, de Cazuza. Além do figurino inesperado, uma camisa larga que podia ser desabotoada com facilidade.  De peito aberto, Gal avançou pelos anos sem medo de mostrar a sua voz e a sua coragem.

Gal Costa cantando Cazuza

Recentemente, a cantora seguiu explorando gêneros como a música eletrônica, o funk carioca, visitando a música sertaneja, na qual fez parceria com a goiana Marilia Mendonça.

Marilia Mendonça e Gal Costa

Perder Gal Costa, a cantora de tantos sucessos que embalaram a trilha de vida de tantos, não é fácil. Seus amigos mais chegados mal conseguem se expressar. Seu filho de 17 anos chora e começa a perceber o furacão Gal Costa.

Gal Costa e seu filho Gabriel Costa

Vai à cantora e fica o seu exemplo, o seu talento e principalmente a sua coragem!

 A Gal de “doce e bárbara”, do tropicalismo, segue nos inspirando e lembrando que, “é preciso estar atenta e forte”. Como é difícil perder Gal Costa. Como é dolorido ver partir a mais nova integrante do quarteto – Maria Bethânia, Gilberto Gil e Caetano Veloso.

Gal Costa, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Caetano Veloso.

A amiga e “irmã de alma” Bethânia fala emocionada:

“Em choque, triste demais, difícil demais. Eu nunca pensei um dia chegar a vocês para falar sobre a dor de perder Gal. O Brasil que ela sempre encantou com sua voz única, magistral, hoje, inteiro, chora. Como eu”.

Lembramos Galem registro ao vivo no qual ela diz:

“Sou eu me projetando no futuro porque a música que a gente faz, que toda minha geração faz, vai ficar para sempre, eterna, uma música que nunca vai ser apagada da memória”.

Como é difícil eleger uma única música para homenageá-la. A escolha então é para que jamais esqueçamos – “Divino Maravilhoso”, composição de Gilberto Gil e Caetano. “É preciso estar atento e forte”.  A gravação é do último show ao vivo realizado por Gal Costa em Pernambuco em julho de 2022. 

Observe a interpretação de Gal Costa com sua voz maviosa. Sem dúvida uma das maiores vozes do Brasil.