Heitor dos Prazeres: um artista que rompeu barreiras e valorizou a cultura afro-brasileira

11 julho 2023 às 16h17


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Um nome que se destaca na história da arte brasileira, Heitor dos Prazeres (1898-1966), foi um verdadeiro pioneiro em múltiplas formas de expressão. Em sua trajetória abrangeu tanto a música quanto a pintura, explorando temas relacionados à cultura afro-brasileira, estabelecendo novos caminhos na arte nacional.
Nascido no Rio de Janeiro durante o período pós-abolição, Heitor viveu em um momento em que a cultura brasileira estava sendo influenciada pela rica herança afro-brasileira. Enquanto as elites se voltavam para os valores da matriz europeia branca, ele replicava em suas obras as vivências como homem negro: as migrações dos africanos e seus descendentes, a transição do campo para a cidade, a religiosidade, a repressão policial; a capoeira; o samba; a afetividade e outros temas relevantes.
Como sambista Heitor dos Prazeres, desempenhou um papel fundamental na criação de blocos e ranchos, além de participar na fundação das primeiras escolas de samba do Rio de Janeiro, como a Mangueira, Portela e Deixa Falar (que posteriormente se tornou a Estácio de Sá). Ele frequentava a casa de Tia Ciata, onde convivia com renomados artistas: Noel Rosa, Cartola, Paulo da Portela e Pixinguinha. Em parceria com Noel Rosa, compôs a famosa canção “Pierrô Apaixonado” e muitas outras de sua própria autoria.
Artista renomado, Heitor dos Prazeres, estabeleceu estreita relação com grande sambistas cariocas da época. Suas canções eram tão apreciadas que eram frequentemente gravadas por interpretes de grande sucesso, como Francisco Alves, Mário Reis e Aracy de Almeida. Durante a década de 1930, ele era presença assídua nos programas das rádios e fazia parte do seleto grupo de artistas contratados pelo prestigioso Cassino da Urca. Seu talento musical e carisma conquistaram um público cada vez maior, solidificando sua posição como um dos principais nomes do cenário musical da época.
“Foi um dos fundadores da Portela, tanto quanto Cartola foi um dos fundadores da Mangueira [em 1928]. A diferença é que, enquanto Heitor dos Prazeres adquiriu uma popularidade notável [desde o início da carreira], Cartola ficou escondido na Mangueira, só tendo sido realçado no final dos anos 1950”. Heitor era, enfim, um bamba no meio dos bambas.
Ricardo Cravo Albin, pesquisador.
Paralelamente à sua carreira musical, Heitor dos Prazeres explorou a pintura como uma forma de expressão artística. Sua incursão nesse campo aconteceu quando já era reconhecido na música e no samba. Suas obras retratavam a vida e a cultura das favelas cariocas, com cenas que incluíam morenas, rodas de samba, crianças soltando balões e pipas, a vida boêmia nas ruas da Lapa, as primeiras casas nos morros e as festas de rua. Sua pintura era marcada por cores vibrantes e alegres.


Heitor dos Prazeres participou de importantes mostras e exposições tanto no Brasil como internacionalmente. Em 1951, recebeu um prêmio na I Bienal de Arte de São Paulo, na categoria de pintura nacional Dois anos depois, suas obras foram exibidas em uma sala especial da II Bienal de São Paulo. Em 1961, expôs no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ). Em 1966, participou do I Festival de Artes Negras em Dakar, no Senegal, em seu último ano de vida.
A obra de Heitor dos Prazeres rompeu fronteiras artísticas, sendo reconhecido como um artista multimídia antes mesmo do termo ser popularizado. Sua contribuição para a cultura brasileira é imensurável, e a apresentação de sua trajetória em exposições e eventos culturais é uma honra para os curadores, como Haroldo Costa, Raquel Barreto e Pablo León de La Barra.
Heitor dos Prazeres faleceu no Rio de Janeiro em 4 de outubro de 1966, mas seu legado perdura como um testemunho de pioneirismo artístico e um elo valioso com a expressão afro-brasileira. Sua capacidade de traduzir em sua arte a realidade e a essência da cultura do povo negro continua a inspirar gerações de artistas e apreciadores das artes no Brasil e além.
Na capital carioca, a exposição “Heitor dos Prazeres é meu nome” é uma oportunidade imperdível para conhecer e apreciar o trabalho desse artista multifacetado, que deixou um legado significativo para a música, às artes visuais e a cultura brasileira como um todo. Patrocinada pelo Banco do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a mostra está aberta ao público de 28 de junho a 18 de setembro no CCBB RJ.


Ouviremos “Pierrô Apaixonado” de Heitor dos Prazeres e Noel Rosa, em gravação da Turnê/DVD do 22º @premiomusicabr, homenageando Noel Rosa! Voz – Lenine e Zélia Duncan Arranjo, piano e direção musical – João Carlos Coutinho Violão – Lula Galvão Baixo – Rômulo Gomes Bateria – Jurim Moreira Percussão – Armando Marçal Sax – José Canuto – Cello – Marcio Malard.
Observe a beleza dessa banda, dos arranjos e das vozes de Lenine e Zélia Duncan.
Viva a arte brasileira. Viva Heitor dos Prazeres!