Camargo Guarnieri e sua relação com Goiânia: uma homenagem ao amor pela música brasileira

20 junho 2023 às 14h31

COMPARTILHAR
Camargo Guarnieri, agraciado com o prêmio “Gabriela Mistral” pela Organização dos Estados Americanos (OEA) em Washington, é considerado, ao lado de Villa-Lobos, um dos maiores compositores do Brasil.
Nascido em Tietê-SP, filho de músicos, Guarnieri recebeu o nome de Mozart Camargo Guarnieri. Iniciou seus estudos musicais aos 10 anos com Virgínio Dias, a quem dedicou sua primeira obra. Foi após a Semana de Arte Moderna que Guarnieri começou a compor regularmente.
Guarnieri representa a concretização musical do nacionalismo modernista. Suas relações com as ideias modernistas, e particularmente com Mário de Andrade, têm características relevantes para música brasileira. Mário de Andrade (1893-1945) e Lamberto Baldi (1895-1979) foram os responsáveis pela formação do então jovem compositor. Baldi trabalhava os aspectos técnicos musicais enquanto Mário de Andrade o orientava em estética e cultura geral.
“Devo toda a minha formação humanitária a Mário de Andrade. Ele foi meu exemplo de caráter, honestidade e bondade”.
Camargo Guarnieri

O nacionalismo, traço marcante na obra de Guarnieri, não consiste em citar melodias folclóricas nem empregar elementos folclóricos não modificados, ele escreve uma música brasileira, de forma intelectual e criativa.
“Não foi antes de Guarnieri que a produção musical erudita nacional atingiu plena maturidade. O compositor paulista soube como nenhum outro no Brasil dar universalidade à linguagem musical, sem perder de vista as fontes nacionais nem sua marca pessoal, peculiaríssima (…)”.
Wolney Unes
E onde entra a cidade de Goiânia na vida do eminente compositor? Segundo, uma de suas biógrafas goianas, Consuelo Quirese Rosa, seu primeiro contato com a Universidade Federal de Goiás se deu nos anos sessenta.

Guarnieri veio à primeira vez em Goiânia, após convite, da então aluna Glacy Antunes de Oliveira, para que o compositor fosse paraninfo da turma de formandas de Piano do Conservatório Goiano de Música.
A partir desse momento, inicia-se a estreita relação de Camargo Guarnieri e a cidade.
O compositor paulista passa a integrar o corpo docente do Conservatório Goiano de Música e a conviver intimamente com a comunidade. Aqui fez amigos, compartilhou ideias e influenciou a vida musical. Foi muito amado e homenageado em Goiânia.
O maestro, por sua vez, retribuiu dedicando obras a vários goianos como as alunas, Flávia Cruz e Mônica Rassi, às musicistas: Glacy Antunes, Wanda Amorim, Consuelo Rosa, Custódia Annunziata, Maria Lúcia Roriz, Celina Szrvinsk, Mércia Mendonça, Ângela Barra, Maria Stela Cunha, Maria Lucy Teixeira, Wanda Goldfeld, Elciene Oliveira, Tânia Póvoa. A vice-diretora da Escola de Música, à época, Raulice Bahia e a saudosa e grande divulgadora da obra de Guarnieri, Belkiss Spencieri Carneiro de Mendonça.

Em 1987, Camargo Guarnieri, por indicação do Maestro Norton Morozowicz, recebeu da Universidade Federal de Goiás o importante título de Doutor honoris causa e assim se pronunciou:
“Devo prestar uma homenagem ao povo goiano que, acolheu-me como filho adotivo, permitiu que eu desfrutasse aqui do convício de sincero amor pela música brasileira”.

Guarnieri muito contribuiu para a literatura pianística. Para piano solo compôs: Ponteios, Valsas, Momentos Musicais, Improvisos, Sonatas, Sonatinas, Estudos dentre outras. Aqui destacamos os 10 Improvisos para piano. Os improvisos de Guarnieri foram compostos entre os anos de 1948 e 1981: Calmo (1948); Lentamente (1960); Nostálgico (1970); Saudoso (1970); Alegre (1981); Tristonho (1974); Tranquilo (1978); Profundamente triste ()1980); Melancólico (1975); Dengoso (1981).
Ouviremos o Improviso VII dedicado à Maria Luísa Póvoa da Cruz (à saudosa Dona Tania – uma das fundadoras do Conservatório Goiano de Música, hoje Escola de Música e Artes Cênicas da UFG) interpretado pela pianista goiana Belkiss S. Carneiro de Mendonça.).
Observe a textura polifônica, a harmonia e o caráter polifônico trabalhado por Guarnieri no improviso VIII.