Clécio Alves pôs seu nome como autor da proposta de aumento de cadeiras e salários no Legislativo goianiense, mas não gostou quando isso virou notícia

Vereador Clécio Alves | Foto: Alberto Maia / Câmara Municipal

Um político faz besteira e a imprensa noticia. Acontece muito. Mas, então, o político fica bravo, não com sua própria derrapada, mas com o fato de a coisa ter ganhado a condição de informação pública e publicada. Ocorre quase na mesma proporção. E, então, em quem desconta a raiva? Claro, na própria imprensa. Outra coisa que acontece frequentemente.

Esse, por exemplo, foi o roteiro que o vereador Clécio Alves (MDB) fez questão de seguir na semana passada. Está na Câmara de Goiânia uma proposta de mudança na Lei Orgânica do município para alterar de 35 para 39 o número de vereadores da cidade, de autoria dele – embora o próprio emedebista negue, conforme se verá a seguir.

O pedido havia sido formalizado na sexta-feira, 17. A mesma proposta abre a possibilidade de que, por meio de outro projeto de lei, os vencimentos dos legisladores goianienses sejam reajustados. O salário de cada vereador passaria de R$ 15,6 mil para R$ 18,9 mil.

Na terça-feira, 21, Clécio foi à tribuna da Câmara de Goiânia para atacar a imprensa, especialmente o jornal O Popular, por ter divulgado que ele seria o autor da matéria. E é. A ata da sessão mostra exatamente isso – e não, por acaso, o vereador pediu para o documento ser alterado. No site da Casa, também está registrado o nome dele como autor.

Como se não bastasse tudo isso – a ata e o site –, o próprio Clécio Alves foi flagrado pela própria TV Câmara abordando o colega, Sargento Novandir (Republicanos), com uma papelada na mão. Como o microfone estava aberto, a transmissão captou a conversa entre ambos. Novandir pergunta o que é aquilo e Clécio diz para assinar o projeto, para aumentar cadeiras e salários de vereadores.

Seria injustiça condenar apenas Clécio Alves pelo fato em si. Há uma estratégia, observada há tempos na Câmara de Goiânia, em que há um revezamento de nomes de autores para “carregar” nas costas propostas polêmicas. Ou seja, ele provavelmente não teve essa “ideia” sozinho – até porque interessa a todos. Como a imprensa abriu a informação e agiu de forma correta, o nome dele foi exposto. A tática que lhe sobrou foi insultar os veículos de imprensa.

Na Antiguidade e na Idade Média, quando não havia revistas ou jornais, as informações chegavam nos reinos por meio dos arautos, os mensageiros daqueles períodos. Quando a notícia era ruim, alguns mandatários executavam quem a trazia. Dizem ter sido a decisão tomada por Dario III, rei da Pérsia, quando o mensageiro lhe informou sobre a derrota de seu exército para Alexandre, o Grande.

A boa notícia é que hoje as leis protegem o trabalho da imprensa, ainda que em tempos bastante atribulados. Ela existe, resiste e continuará, pelos mais diversos veículos e meios, levando as informações, boas ou ruins para fulano ou sicrano, até seu destino: o conhecimento público.