“A Poeira da Glória”, o melhor livro de crítica literária de 2015, é de Martim Vasques Cunha

03 janeiro 2016 às 00h41
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O doutor em Filosofia enfrenta com coragem e competência tanto a obra de Machado de Assis quanto a crítica de Antonio Candido e Wilson Martins
“A Poeira da Glória — Uma (Inesperada) História da Literatura Brasileira” (Record, 628 páginas), de Martim Vasques da Cunha, é uma poderosa e polêmica crítica tanto da literatura patropi quanto de seus críticos. Não é apenas uma “história” da literatura.
Martim Vasques da Cunha, autor de uma obra ousada — ousadíssima —, relê a literatura brasileira com seus olhos (e não só com base em bibliografia), com interpretações originais das obras de Manuel Antônio de Almeida, José de Alencar, Aluísio Azevedo, Machado de Assis, Euclides da Cunha e, entre outros, Lima Barreto. A leitura de Machado de Assis, original e diversa da maioria das críticas publicadas, merece um debate com os principais intérpretes de sua obra. Infelizmente, como o autor não é um crítico canônico das universidades, sua obra ainda não mereceu nenhuma crítica consistente.
Enquanto faz uma releitura das obras literárias — um exame direto, com insights extraordinários —, Martim Vasques da Cunha (foto abaixo) examina também a leitura de críticos consagrados e não se agacha para nenhum deles. Pelo contrário, Antonio Candido, quase um santo nas universidades, é criticado duramente. Os acertos de Wilson Martins, um crítico pouco aceito por acadêmicos locais, são apontados, mas às vezes com ressalvas.
Atenção: o livro não é obra de um jovem rebelde, que rejeita tudo o que fizeram antes. Resulta de uma pesquisa exaustiva de um doutor em Ética e Filosofia Política pela Universidade de São Paulo. Trata-se de uma obra madura, que faz interpretações atentas e perspicazes daquilo que critica.
A obra de Martim Vasques da Cunha é um portento e precisa ser lida e digerida aos poucos, mas não pode e não deve ser ignorada pela universidade. Críticos mais abertos, como os professores universitários Alcir Pécora e João Cezar de Castro Rocha, além de Rodrigo Gurgel, deveriam ler e comentar o livro mais extensamente.
Recomento como uma espécie de complemento da análise de Martim Vasques da Cunha — ainda que não cuidando de prosa — o livro “Uma História da Poesia Brasileira” (G. Ermakoff, 456 páginas), de Alexei Bueno. Ele conta, por exemplo, que Bruno Tolentino teria começado sua carreira de poeta plagiando o poeta goiano Afonso Felix de Sousa.