P. D. James, autora inglesa, elevou o romance policial à categoria de arte de primeira linha
29 novembro 2014 às 09h24
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Phyllis Dorothy James, que a Inglaterra e o mundo conhecem como P. D. James, morreu na quinta-feira, 27, aos 94 anos. A escritora inglesa, com seu detetive Adam Dalgliesh, personagem de 14 dos seus 20 romances policiais, se tornou uma grande dama da literatura policial. Porém, era um pouco mais do que isto. Era uma escritora notável, de primeira linha e, tecnicamente, irrepreensível.
P. D. James escrevia muito bem e com uma imaginação poderosa. Seus livros têm uma arquitetura impecável, sem arestas. É capaz de segurar o leitor, da primeira à última linha, e sempre surpreendendo-o. Há por trás das histórias, às vezes aparentemente simples — sobretudo quando se termina a leitura —, uma inteligência fina, matemática, psicológica e filosoficamente competente. Ela tinha uma percepção sólida de como funciona a mente do homem. Algumas de suas obras lembram, aqui e ali, sólidas sessões de análise, nas quais se escava fundo, por associações livres ou não, como pensam e agem os criminosos e, ao mesmo tempo, os investigadores dos assassinatos. Um detetive escolado precisa, antes de tudo, pensar como perito, criminoso e, às vezes, criminalista. Sua imaginação costuma estar colada à dos marginais, para entendê-los e, claro, prendê-los.
Não contente em escrever romances policiais refinados, e eventualmente até maliciosos — se o editor arrancar a capa do livro, retirando o nome P. D. James, o leitor poderá pensar muito bem que se trata de um prosador masculino —, P. D. James publicou um livrinho delicioso e perspicaz, “Segredos do Romance Policial” (Três Estrelas, tradução de José Rubens Siqueira). Em escassas 184 páginas — o leitor fica pedindo mais —, explica, com mestria, o que move os romances policiais e como os gênios do ramo montam suas histórias.
“O Enigma de Sally”, de 1962, é seu primeiro romance. Atualmente, seus livros são publicados no Brasil pela Companhia das Letras, com traduções de qualidade.
P. D. James sempre vendeu bem, porque a literatura policial é, no geral, aquela que impulsiona as demais literaturas, atraindo e formando novos leitores. Mas a independência financeira só foi alcançada mesmo com “Sangue Inocente”, da década de 1980, pelo qual ganhou uma fortuna, para os padrões ingleses e da época: 380 mil libras pelos direitos vendidos a uma editora e mais 145 mil libras do cinema.
Era, P. D. James, superior a outras estrelas do romance policial, como Agatha Christie, Ruth Rendell e Patricia Highsmith? Difícil dizer; as quatro são excelentes. Para o meu gosto, P. D. James fica um tantinho acima de Agatha Christie, a pioneira, e é um par de Raymond Chandler, Dashiell Hammett e Georges Simenon (que é brilhantíssimo).
Alguns livros de P. D. James publicados no Brasil: “Causas Nada Naturais”, “Uma Certa Justiça”, “O Crânio Sob a Pele”, “O Farol”, “Mente Assassina”, “Mortalha para uma Enfermeira”, “Morte de um Perito”, “Morte em Pemberley”, “Morte no Seminário”, “Paciente Particular”, “O Pecado Original”, “Sala dos Homicídios”, “A Torre Negra”, “Trabalho Impróprio para uma Mulher”. O leitor por certo perceberá, na literatura da autora, uma certa qualidade uniforme. Não há quedas bruscas de qualidade. Escritores iniciantes deveriam ler seus livros para aprender (ou aperfeiçoar) como se estrutura um romance com tudo no lugar.