Os tempos são sombrios mas a democracia pede tolerância e respeito à divergência
25 março 2016 às 16h36
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Ao final, Lula vai se arrepender de ter caído nas mãos de Teori Zavascki, que é um magistrado correto, duro e infenso a controle político
O conflito é típico da democracia. O consenso como produto do conflito — do debate vivo e duro —, por vezes incorporando ideias dos contendores, fortalece a sociedade. Ditaduras trabalham só com o consenso, pois impedem ou tentam impedir o conflito, o que resulta numa sociedade relativamente amorfa, sem vida ativa, temerosa de dizer o que pensa publicamente. Porém, mesmo o conflito sendo necessário, vital mesmo, é preciso admitir que há certos limites — a violência é um deles. É relevante que os indivíduos discutam se a presidente Dilma Rousseff deve continuar ou não no governo, mas respeitando as regras democráticas — sem ameaças físicas ou de golpe político de esquerda ou de direita. Neste momento, em que o Brasil vive uma crise política e econômica desmedida, é crucial que os cidadãos sejam tolerantes uns com os outros.
O jornalista Diogo Escosteguy, editor-chefe da revista “Época”, escreveu no Twitter: “Para vencer o juridiquês, que mais escamoteia do que revela: Teori, na prática, suspendeu a investigação contra Lula”. Em seguida, sublinhou: “A decisão de Teori nada muda na delação da Odebrecht. A empreiteira está encrencada à vera — no Brasil, nos Estados Unidos e na Suíça”. E concluiu: “Esclarecidos esses pontos, friso: será difícil conter o ânimo da população contra Teori. A revolta começou agora e vai piorar imensamente”.
Há excessos na escrita de Diego Escosteguy? A respeito de Teori Zavascki, que acredito que vai surpreender a todos — demonstrando ser um legalista acima do que pensam petistas, tucanos e independentes —, não se pode dizer que há exagero. O que há, isto sim, é uma crítica. Não há nenhum chamado à violência, e sim uma constatação: a maioria dos brasileiros está revoltada com o ministro do Supremo Tribunal Federal — pois estaria reduzindo a força do juiz Sergio Moro, ao retirar-lhe a investigação sobre o ex-presidente Lula da Silva — e isto não tem a ver com o comentário do jornalista da “Época”. A minha impressão — e prefiro falar em impressão — é que, ao final, Lula vai se arrepender de ter caído nas mãos de Teori Zavascki, que é um magistrado correto, duro e infenso a controle político. Tende a se tornar um Joaquim Barbosa mais ponderado e menos barulhento.
Se Diego Escosteguy é moderado, embora firme, alguns internautas, pelo contrário, decidiram atacá-lo e, sobretudo, ameaçá-lo de morte. Ameaças de redes sociais podem nada dizer, pois, às vezes, refletem apenas a raiva do momento, a possibilidade de uma briga à distância — sem feridos. Mas num tempo de conflagração social e política, no qual se discute a questão do poder, há, sim, riscos à integridade do repórter. “Ele merece acordar cheio de formiga na boca”, disse um usuário do Twitter. Não é, claro, uma resposta adequada ao que disse o jornalista. “Cuidado, inconsequente, você fica disseminando o ódio, pode acabar experimentando do próprio veneno”, ameaçou outro internauta.
Diego Escosteguy colheu os textos ameaçadores e disse que tomará as medidas necessárias — policiais e judiciais — para se proteger. “As ameaças, por sua vez, que não param, serão encaminhadas às autoridades competentes”, disse o editor.
As respostas que foram dadas a Diego Escosteguy não têm o mesmo nível de sua crítica. Ele expõe o conflito, posiciona-se, mas, no lugar de respondê-lo no campo das ideias, optaram por sugerir que pode ser assassinado. O Brasil vive dias sombrios.