A odisseia de andar de Uber em São Paulo e em Goiânia. Lá o serviço é mais eficiente

30 agosto 2016 às 19h34

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O preço do Uber compensa e o atendimento no geral é de qualidade. Mas um motorista do Uber deixou eu e minha mulher na mão na porta do Aeroporto Santa Genoveva
Eu e minha mulher, a psicanalista Candice, para aproveitar passagens mais baratas, vamos para São Paulo — terra natal dela — por Guarulhos. Em julho, usamos um serviço de táxi compartilhado, tendo como companheiros de jornada uma pernambucana, servidora da Universidade Federal, e um pernambucano, funcionário de uma empresa da área de tecnologia (curiosamente, não se conheciam). Nós pagamos 90 reais pelo transporte de Guarulhos a São Paulo. Voltamos à capital paulista, para a Bienal do Livro, em agosto, e optamos pelo Uber. Pagamos 61 reais pelo serviço, além de contar com a agradável companhia do motorista, o baiano Cláudio. Além de motorista de ambulância (“a empresa tinha 25 ambulâncias e agora só tem 12”), canta samba e aprecia a música caipira e a música sertaneja. Chegou a citar o cantor Leandro, falecido, mas não seu irmão, Leonardo. Quando disse que mora em São Paulo há 53 anos, Candice comentou: “O sr. é praticamente paulista”. Rindo, enfatizou: “Não, baiano”. Tem orgulho de ser baiano e mantém a afabilidade de seus conterrâneos.
No sábado, 27, na porta de nosso hotel, na Avenida Paulista, pegamos o automóvel de um motorista associado ao Uber. Ele trabalhou numa oficina mecânica, mora em São Paulo com a mulher e filhos e agora alugou um automóvel para reorganizar sua vida financeira. O objetivo é voltar para Arapiraca, em Alagoas, onde mora sua família e é dono de um caminhão. “A vida de São Paulo é muito doida”, assinala, desacorçoado. Nas suas próprias palavras, como “ficava preso na oficina”, quase não conhece a cidade. De fato, para ir ao Anhembi, mesmo usando o Waze, deu uma longa volta e, de repente, disse, alarmado: “Faltam 215 quilômetros!” Candice pegou o celular e, com o Waze, descobriu que estávamos a 11 quilômetros do Anhembi, onde se realiza a Bienal do Livro.
Mais tarde, ao examinar a fatura do cartão de crédito, descobrimos que a viagem de Guarulhos para São Paulo, um percurso muito mais longo, havia custado o mesmo valor de uma viagem da Avenida Paulista até o Anhembi. Ao deixar a Bienal do Livro — fraca, por sinal —, optamos mais uma vez por um veículo de um motorista associado ao Uber. Agora, no Uber Pool. O motorista, pernambucano de Recife, não localizou a outra passageira. Mesmo assim, do Anhembi à Paulista, pagamos menos de 15 reais. Com base neste dado, Candice entrou em contato com o Uber, que se prontificou a averiguar o que havia ocorrido com o motorista anterior. Mais tarde, os 61 reais se tornaram 20 reais e economizamos 41 anos. O Uber mostrou respeito ao usuário de seu serviço.
O Uber em São Paulo é eficiente e, sobretudo, mais barato do que o serviço de táxi. O único problema é que, enquanto os taxistas conhecem a cidade, muitos motoristas do Uber não têm informações sobre locais básicos da capital. Eles se perdem mesmo usando o Waze ou o Google Maps. Nas conversas com os motoristas, percebe-se que a maioria é desempregada ou, então, está fazendo bico. Na visita de julho, uma motorista nos levou à Pizzaria Braz, em Pinheiros. Era cuidadora de uma senhora, que faleceu, e, para manter o padrão de vida, pegou o Sandero do genro e pôs-se a trabalhar, inclusive à noite. O motorista que nos levou ao Tuca, o teatro da PUC, onde assistimos a peça “Histeria”, com Pedro Paulo Rangel e elenco em estado de graça, estava desempregado. Parecia não ter noção do trajeto mais curto, mesmo usando tecnologia avançada.
Chamamos um Uber para nos levar ao Centro Cultural da Caixa Econômica Federal, no Centro, nas proximidades da Catedral da Sé. Fomos ver a exposição A Valise Mexicana, de Robert Capa, Gerda Taro e David “Chim” Seymour. São as fotografias do trio a respeito da Guerra Civil Espanhola. Um verdadeiro portento. O motorista deu voltas e mais voltas, pois não conhecia o trajeto e usava mal o Google Maps. Candice, mais atenta do que eu, que sou distraído e não enxergo muito bem, chegou a tentar orientá-lo. O Uber refez seus cálculos, tornando a corrida um pouco mais barata. O que ocorreu? Além das voltas a mais, o chofer não finalizou a corrida ao nos deixar na porta do local da exposição fotográfica.
O motorista que nos levou ao Instituto Tomie Otahke, um senhor de rara distinção, havia se aposentado, mas, para melhorar a renda, havia voltado a trabalhar (ele tem casa própria, quitada). Ao perder o emprego, pôs seu automóvel a serviço do Uber. Conhece a cidade e fornece informações precisas sobre bairros e locais interessantes.
Compensa se associar ao Uber?
A todos os motoristas, fiz a mesma pergunta: “Compensa ser associado ao Uber?” Todos disseram que “sim”, uns de maneira enfática, outros não. Há os que estabelecem uma meta de faturamento diário — entre 200 e 300 reais. Enquanto não conseguem cumpri-la, não voltam para casa. Assim, trabalham de 13 a 14 horas por dia. Alguns precisam pagar o aluguel do carro; outros, a prestação do veículo. Eles dizem que os automóveis não podem ser velhos, até por uma exigência do Uber, porque senão a manutenção, com revisões e peças, e o custo com combustível levam todo o lucro.
O Uber é um bom negócio para os proprietários do Uber, em primeiro lugar, para os usuários, em segundo lugar, e para os motoristas, em último lugar. Parece que esta é a síntese verdadeira. Em Goiânia, conheço motoristas que abandonaram o Uber rapidamente, alegando que o negócio é “excelente” para a empresa, mas não para eles. Mas há muitos motoristas que se mostram satisfeitos por dois motivos: afirmam que têm lucro, ainda que não muito alto, e finalmente conseguiram o que avaliam como um “emprego”.
Se em São Paulo não tivemos problemas com o Uber, em Goiânia podemos apontar pelo menos um. Ao chegar ao Aeroporto Santa Genoveva, na segunda-feira, 29, acionamos o Uber. Logo apareceu a informação de que um motorista de um Citröen C-4 Pallas nos buscaria. Ficamos tranquilos, pois o Uber é confiável. O motorista está chegando, avisava o visor do celular. Está a 3 minutos. E nada. Depois de meia hora, e de tentativas infrutíferas de entrar em contato com o motorista, cancelamos a corrida e o Uber nos cobrou 6 reais. Candice deixou o seu celular e pegou o meu e fez nova ligação. De novo, o mesmo motorista, que supostamente estava na região, informou que estava indo nos pegar. Esperamos um bom tempo, e nada. Depois, o próprio motorista cancelou a viagem, não se sabe por quê.
Tivemos de pegar um táxi, bem mais caro do que o Uber e com um motorista — vestido com uma camisa da Seleção Argentina, com o nome do craque Messi estampado nas costas — que corria feito um alucinado tanto na BR-153 quanto na GO-020. Precisava voltar para pegar outros passageiros, pondo sua vida e a nossa em risco. Chegou a nos dizer que o outro motorista do táxi havia batido o automóvel recentemente.
Uma coisa é certa: o Uber veio para ficar e, portanto, é incontornável. Resta ao serviço de táxi modernizar-se, como já está ocorrendo (os descontos, por exemplo, pode equipará-lo ao Uber).