A lista foi elaborada pelo jornal “El Mundo” e traduzida e comentada pelo Jornal Opção. Há boas dicas para as editoras brasileiras

O jornal “El Mundo”, da Espanha, publicou a lista dos melhores livros de não-ficção de 2021 (“Los mejores libros de no ficción de 2021”), organizada por Gonzalo Suárez, Jorge Benítez e José María Robles e diulgada na sexta-feira, 24 de dezembro.

Traduzi o texto do “El Mundo” literalmente, mas, sempre que possível, acrescentando uma palavra, uma informação extra para o leitor brasileiro. Esclareço, por exemplo, se o livro foi publicado em português, o nome da editora e do tradutor. Adiciono informações extras, e, se oportuno, um comentário crítico. Os textos do jornal da Espanha estão sempre entre aspas. As informações entre chaves ou publicadas abaixo das pequenas sínteses de “El Mundo” são de minha autoria.

A lista de “El Mundo” — assim como de outros jornais europeus, norte-americanos, asiáticos e latino-americanos — deveria ser consultada pelas editoras brasileiras. É provável que alguns dos livros já estejam na sua mira.

1
El Ocaso de la Democracia — Anne Applebaum

“As democracias liberais do Ocidente estão sob assédio [perigo]. O auge do autoritarismo é palpável. As mensagens políticas são cada vez mais simples, mais radicais, mas polarizadoras… E, neste panorama, surge a poderosa voz de Anne Applebaum, cujo último ensaio desmonta, de forma concisa as trampas [armadilhas, ardis] da autocracia e, ademais, oferece uma rota poderosa de volta aos valores da democracia liberal.”

Jornal Opção: O livro saiu no Brasil com o título de “O Crepúsculo da Democracia — como o Autoritarismo Seduz e as Amizades São Desfeitas em Nome da Política” (Record, 168 páginas, tradução de Alessandra Bonrruquer). A rigor, as democracias liberais quase sempre estiveram em perigo. Mas estão diante de um novo autoritarismo-totalitarismo similar ao stalinismo e ao nazismo? Tudo indica que não. Os experts possivelmente estão certos ao darem um “susto” nos cidadãos, às vezes acomodados pela sociedade do consumo e da dispersão, por vezes deixando de perceber o que está acontecendo à sua volta (mas desconfio que o “pessimismo” é mais politizado do que real). Na América Latina, depois de uma vaga de direita, a esquerda — democrática, aparentemente — está ressurgindo (Argentina, Chile, Bolívia). No Brasil, Lula da Silva, do PT, tem chance de se eleger presidente em 2022.

2
Abierto — Johan Norberg

“O pensador sueco detalha como, ao longo da história, as sociedades mais abertas a novas ideias, pessoas e tecnologias sempre obtiveram assombrosos aumentos de seu nível de desenvolvimento. Porém, desgraçadamente, a regra também se cumpre ao revés: quando se tornam fechadas, receosas e hostis ao exterior, todos os avanços se dissolvem tão rápido como foram conquistados. Agora, segundo Norberg, nos encontramos justo em um desses pontos de inflexão. Seremos capazes de afrontar os novos desafios com confiança em nossas próprias forças? Ou, pelo contrário, cairemos nas mãos de onda populista que pode arrasar com tudo o que tanto tem custado construir?”

Jornal Opção: o livro “Progresso — Dez Razões Para Acreditar no Futuro” (Record, 252 páginas, tradução de Alessandra Bonrruquer) saiu no Brasil em 2017 e é um contraponto (e, quiçá, um antídoto) às análises pessimistas que têm sido publicadas no país (e se tornaram dominantes). O filósofo sueco assinala: “A despeito do que ouvimos nos telejornais e de muitas autoridades, a grande história de nossa era é que estamos testemunhando o maior aumento nos padrões de vida global de que já se teve notícia. Pobreza, desnutrição, analfabetismo, trabalho infantil e mortalidade neonatal decrescem mais rapidamente que em qualquer outro período da história humana. Em relação ao século passado, a expectativa de vida no nascimento aumentou duas vezes mais do que nos 200 mil anos anteriores. O risco de que um indivíduo seja exposto à guerra, submetido à ditadura ou morra em um desastre natural é o menor de todos os tempos. Uma criança nascida hoje tem mais chance de chegar à aposentadoria que seus antepassados tinham de completar 5 anos de idade”. Recomendo, como leitura complementar, o livro “Os Anjos Bons da Nossa Natureza — Por que a Violência Diminuiu” (Companhia das Letras, 1088 páginas, tradução de Bernardo Joffily e Laura Teixeira Motta), de Steven Pinker, professor de Harvard.

3
Valle Inquietante — Anna Wiener

“Em 2013, com 25 anos, Anna Wiener abandonou seu emprego precário [sem estabilidade] no mundo editorial novaiorquino e se fixou numa startup tecnológica e passou a ganhar o dobro, logo o triplo, o quadruplo… Acabou mudando-se para São Francisco e aí mergulhou de vez na cultura corporativa do Vale do Silício, um micromundo cheio de privilégios, excentricidades e abusos — com um lado obscuro —, que retrata em um livro que desmonta todos os mitos e os falsos ideais do suposto paraíso tecnológico. Seu relato pode ser lido como um romance que viaja desde o inexorável que exercem as redes sobre nós à brutal desigualdade que seu modelo de negócio tem gerado”.

Jornal Opção: “Vale Inquietante”, sobre o Vale do Silício, não saiu no Brasil. A autora tem sido elogiada com uma intelectual que, ao se tornar insider, pôde compreender e explicar o que realmente ocorre na meca tecnológica da Califórnia (no e para além dos bastidores). Rebecca Solnik assinalou: “Joan Didion numa startup”. Sohpia Nguyen escreveu, no “Washington Post”: “Este livro nos faz tomar distância da internet tal e como agora a conhecemos, recordando-nos os desejos e as ambições humanas que têm moldado sua evolução (?). Um livro rico de agudas observações”. Editoras patropis, eis uma dica para 2022. Na Espanha, o livro saiu pela Editora Libros del Asteroide, com 328 páginas e tradução de Javier Calvo.

4
La Guerra: Cómo nos Han Marcado los Conflictos — Margaret MacMillan

“Neste ensaio, a ex-reitora do St. Antony’s College de Oxford analisa o impacto da cultura, sociedade e política no enfrentamento [guerra] e vice-versa. Os campos de batalha têm provocado morte e destruição, mas têm contribuído para o nascimento do Estado moderno, a mudança social, o desenvolvimento técnico e a medicina. Há algumas verdades incômodas, porém ela avisa: para entender a história, para analisar o mundo e para poder viver e desfrutar a paz, temos de pensar mais na guerra.”

Jornal Opção: O livro saiu na Espanha pela Editora Turner, com 352 páginas (não consegui encontrar o nome do tradutor nem mesmo no portal da Turner). Joseph S. Nye Jr., professor de Harvard, escreveu: “Uma historiadora de renome decifra uma das forças centrais da história humana. Persuasivo e de leitura acessível, este livro é mais uma proeza extraordinária de Margaret MacMillan!”. Da edição portuguesa, “Guerra — Como Moldou a História da Humanidade” (Temas e Debates, 368 páginas), retiro um trecho: “Como historiadora tenho firme convicção de que temos de incluir a guerra no nosso estudo da história humana se quisermos entender o passado. Os seus efeitos foram tão profundos que excluí-la é ignorar uma das grandes forças que, em conjunto com a geografia, os recursos, a economia, as ideias e as alterações sociais e políticas, moldaram o desenvolvimento humano e mudaram a história”. Fica a dica para as editoras do Brasil.

5
El Imperio del Dor — Patrick Radden Keefe

“Depois do êxito de ‘No Digas Nada’, o jornalista investigativo volta com a história da dinastia Sackler, uma das famílias mais ricas do mundo, benfeitora [mecenas] das artes e das ciências… e possuidora de um intrigante lado obscuro. Depois de enriquecer com o Valium, sua fortuna se multiplicou graças ao OxyContin, um potente analgésico que detonou a crise dos opiáceos nos Estados Unidos. Ainda que o livro não alcance o assumbroso nível de sua obra anterior, Radden Keefe exibe uma variedade de fontes e um domínio do relato jornalístico ao alcance de muito poucos.”

Jornal Opção: A nota acima merece uma ressalva, pois quem ganhou dinheiro, como “publicitário”, ao divulgar o Valium, foi um dos membros da dinastia, Arthur Sackler. Richard Sackler, seu sobrinho, foi quem, com o laboratório Purdue Pharma, ganhou dinheiro com o OxyContin. “O Império da Dor — A História Secreta da Dinastia que Reinou na Indústria Farmacêutica” saiu na Espanha pela Reservoir Books, com 688 páginas, e tradução de Alino Sánchez, Luis Jesús Negro García e Francesc Pedrosa Martín. Patrick Radden Keefe é autor de um livro respeitado sobre o Exército Republicano Irlandês, o IRA, “No Digas Nada”¹. Duas dicas para as editoras Record, Companhia das Letras, entre outras.

6
La España de las Piscinas — Jorge Dioni López

“Um livro sobre o sonho urbanístico da Espanha do ‘pelotazo’ [literalmente, bolada; uma espécie de mudança brusca, uma espécie de revolução] que transformou a sociedade. Durante os anos do boom imobiliário, foram construídas 5 milhões de casas seguindo o modelo do subúrbio dos Estados Unidos. São ilhas verdes — com zonas comuns — e azuis, por causa das piscinas, situadas fora das cidades e nas quais reside boa parte da chamada classe média em ascensão de nosso país. É a história dos filhos e netos da Espanha vazia.”

Jornal Opção: “A Espanha das Piscinas — Como o Urbanismo Neoliberal Conquistou a Espanha e Transformou Seu Mapa Político” (Arpa Editores, 272 páginas) não foi editado no Brasil, mas deveria, pois o modelo descrito no livro e tornou universal. As classes altas e médias estão se segregando em condomínios, em ilhas de prosperidade e, em tese, segurança. Goiânia, por exemplo, parece uma cidade cercada por várias cidades medievais — nas quais vivem classes sociais dissociadas do restante da sociedade. No site da Livraria Casa del Libro, da Espanha, acrescenta-se à síntese acima, publicada por “El Mundo”: “Estes bairros de nova criação conformam o que Jorge Dioni Lópes denomina ‘a Espanha de las piscinas’. Um mundo feito de chalés, urbanizações, hipotecas, alarmes [rede de segurança], colégios concertados, múltiplos automóveis por unidade familiar, centros comerciais, consumo online, seguro médico privado. Um mundo que favorece o individualismo e a desconexão social e cuja importância política é hoje fundamental, pois dele depende a evolução do mapa político, sobretudo, o voto conservador. O debate sobre a casa e o território centra-se somente sobre temas como ‘gentrificación’ [aburguesamento], o preço dos aluguéis e o vazio rural. A Espanha das piscinas põe sobre a mesa outra questão essencial: a análise de nosso principal modelo de desenvolvimento urbano e como está transformando a maneira de entender o mundo, as aspirações e a ideologia de milhões de espanhóis”.

7
El Siglo de la Soledade — Noreena Hertz

“A economista analisa as causas do grande mal de nossa era, que afeta mais aos jovens — e o coronavírus agravou a sensação de abandono de milhões de pessoas. Não obstante, já antes de que a Covid-19 nos familiarizasse com conceitos como confinamento ou distanciamento social, numerosos estudos alertavam que o sentido de comunidade e as relações pessoais estavam ‘rompendo’ dramaticamente em todo o mundo. A vampirização tecnológica da comunicação, o êxodo massivo para as cidades, a reorganização radical do entorno do trabalho, o desmantelamento das instituições cívicas e as consequências de quatro décadas de políticas neoliberais têm levado milhões de pessoas a um isolamento extremo. Independentemente do sexo, da idade, da nacionalidade, do estado civil ou da renda.”

Jornal Opção: “O Século da Solidão — Restabelecer Conexões em um Mundo Fragmentado” (Record, 414 páginas, tradução de Marina Vargas) pode ser lido em português. E há também “História da Solidão e dos Solitários” (Unesp, 514 páginas, tradução de Maria das Graças de Souza), de Georges Minois. Sobre a questão da Covid-19, que levou a um distanciamento social, com o objetivo de garantir a sobrevivência das pessoas, é preciso dizer também que criou uma onda de solidariedade pelo mundo. No Brasil, a fome grassou, dado o aumento do desemprego, e centenas de pessoas saíram às ruas levando alimentação para os pobres. Trata-se de um trabalho anônimo, de uma reconexão entre diferenças (ou diferentes). Mas é inegável que há um solidão, anterior à Covid-19, altamente preocupante.

8
Vivir la Lucidez — Alberto Camus

“Publicados pela primeira vez em um único volume, estes cadernos são o diário descontínuo que Albert Camus manteve desde 1935, quando, todavia, era um completo desconhecido na Europa, até poucos dias antes de sua morte em 1960, no apogeu de sua carreira como intelectual [e escritor]. Um reflexo de sua forma de trabalhar, sua vida interior e o clima intelectual de um tempo apaixonante.”

Jornal Opção: “Vivir la Lucidez: Todos los Carnets — 1935-1950” (Debate, 616 páginas, tradução de Paz Lestón e Lencera) saiu na Espanha. No Brasil, há dois livros com trechos dos diários: “Cadernos (1935-37) — Esperança do Mundo” (Hedra, 134 páginas, tradução de Samara Geske e Rafael Araújo) e “Cadernos (1939-1942) — A Guerra Começou, Onde Está a Guerra?” (Hedra, 128 páginas, tradução de Raphael Gomes de Araújo e Samara Geske).

9
Agente Sonya — Ben Macyntyre

“Em 1942, num tranquilo povoado dos Cotswolds ingleses, Ursula Burton, conhecida como uma esposa atenta e mãe de três filhos, parecia levar uma vida sem pretensões. Não se sabia que, por trás dessa fachada, se escondia uma importante oficial da Inteligência soviética que pretendia ajudar a União Soviética a construir a bomba atômica. O jornalista Ben Macintyre, um dos grandes historiadores da espionagem, teve acesso aos diários e à correspondência privada de Sonya para desvelar a fascinante história da única mulher que sobreviveu e prosperou durante duas décadas em um mundo dominado por homens. Ele detalha o enorme esforço emocional de uma mulher que era, ao mesmo tempo, esposa, mãe, soldado e espiã.”

Jornal Opção: “Agente Sonya — Amante, Madre, Soldado, Espía” (Editorial Crítica, 464 páginas, tradução de Efrén del Valle) saiu na Espanha, mas não no Brasil. O jornalista e pesquisador Ben Macintyre é autor de um estupendo livro, “O Espião e o Traidor — O Caso de Espionagem Que Acelerou o Fim da Guerra Fria” (Sextante, 351 páginas, tradução de Simone Reisner). É a história do russo Oleg Gordievsky, que espionou para o MI6, o serviço de Inteligência da Inglaterra.

10
El Siglo Soviético — Karl Schlögel

“Este volume enciclopédico reconstrói, com detalhamento, erudição e sensibilidade, o império devastado por intermédio dos espaços, costumes e a vida cotidiana dos russos. Assim, a partir do micro, explica toda uma sociedade: um gesto do exilado Nuréyev, um elefante de porcelana em cima do piano, a dacha popularizada por Tchékhov, o papel de embrulho que se usava… Todos contam muito do funcionamento e da mentalidade de um país marcado pelo terror e pela miséria, onde a alegria e o espontâneo eram tesouros, por escassos, e a denúncia, a prisão e o extermínio eram uma possibilidade, todos os dias.”

Jornal Opção: “El Siglo Soviético — Arqueología de un Mundo Perdido” (Galaxia Gutenberg, 928 páginas, tradução de Paula Aguiriano Aizpurua) é apontado como um dos mais importantes livros sobre a ruína do comunismo na União Soviética (o regime resistiu por 74 anos, de 1917 a 1991). É provável que esteja no radar de alguma editora brasileira, mas não figura na lista recente que Daniel Dago publicou sobre os possíveis lançamentos para 2022.

11
Desde Dentro — Martin Amis

“Depois de ‘Experiência’, Amis explora nesta obra sem gênero concreto [definido] recordações das grandes personalidades que conheceu, centrando-se em seu mentor, Saul Bellow, no seu amigo e polemista Christopher Hitchens e no poeta Philip Larkin, e recolhe suas muitas e interessantes reflexões sobre literatura. Uma obra memorialística dividida em pequenos episódios que combina o ensaio com a autoficção.”

Jornal Opção: “Desde Dentro” (Anagrama, 760 páginas, tradução de Jesús Zulaika Goicoechea) conta também o relacionamento de Martin Amis com seu pai, o poeta Kingsley Amis, e relata a história de uma irmã que morreu cedo por causa do alcoolismo. Registra seus amores da juventude, discute o terrorismo e o antissemitismo. O forte da obra é a literatura.

12
No-Cosas — Byung-Chul Han

“O filósofo sul-coreano é um expert em detectar as ansiedades da sociedade contemporânea. Neste livro, ataca a dissolução do mundo material e a perda da memória propiciadas pelos avanços tecnológicos. Seu principal alvo é o telefone inteligente [o smartfone], ferramenta a serviço do regime neoliberal que compara com o rosário como aparato de submissão. Ainda que o pensador não se fixe aí: também critica a obsessão com os selfies e se mostra pouco confiante na inteligência artificial. Tudo isso condensado em menos de 150 páginas.”

Jornal Opção: “No-Cosas — Quiebras del Mundo de Hoy” saiu na Espanha pela Taurus, com 144 páginas e tradução de Joaquín Chamorro Mielke. “Hoje estamos em transição da era das coisas à era das não-coisas. Não são as coisas, e sim a informação, o que determina o mundo em que vivemos”, frisa o pensador coreano radicado na Alemanha. No Brasil, saíram vários livros do filósofo especializado em Heidegger. Além de “Sociedade Paliativa — A Dor de Hoje”, foram publicados “O Desaparecimento dos Rituais — Uma Topologia do Presente”, “Bom Entretenimento”, “Capitalismo e Impulso de Morte — Ensaios e Entrevistas” e “A Sociedade do Cansaço”.

13
Filipo y Alejandro — Adrian Goldsworthy

“Adrian Goldworthy, um dos mais respeitados historiadores da Grécia e Roma antigas, descreve, de maneira competente, como pai e filho [Felipe II e Alexandre Magno] transformaram a Macedônia, um reino fraco do norte da Grécia, num império global para, assim, mudar o curso da história para sempre.”

Jornal Opção: O livro “Filipo y Alejandro — Reyes y Conquistadores” (La Esfera dos Libros, 628 páginas, tradução de Gonzalo Quesada) é um dos sucessos editoriais do doutor em História por Oxford. No Brasil saíram “Em Nome de Roma — Os Conquistadores Que Formaram o Império Romano” e, entre outros, “César — A Vida de um Soberano”.

14
Vidas Truncadas — Fernando del Rey e Manuel Álvarez Tardío

“Um impactante ensaio histórico que reproduz oito casos de violência selvagem registradas nas origens da Guerra Civil que mostram uma sociedade polarizada e cheia de ódio. Naqueles dias os vizinhos eram o inimigo.”

Jornal Opção: “Vidas Truncadas — Historias de Violencia en la España de 1936” (Galaxia Gutenberg, 592 páginas) não tem edição brasileira. Organizado por Fernando del Rey e Manuel Álvarez Tardío, o livro mostra que a violência começou bem cedo, o que agudizou a batalha encarniçada na Guerra Civil Espanhola (1936-1936). “A Batalha pela Espanha — A Guerra Civil Espanhola: 1936-1939” (Record, 711 páginas, tradução de Maria Beatriz de Medina), de Antony Beevor, é um excelente livro sobre a luta que chamou a atenção do mundo. Brasileiros, como Apolonio de Carvalho, participaram da peleja. Vale a pena ler “A Solidariedade Antifascista — Brasileiros na Guerra Civil Espanhola” (Edusp, 236 páginas), de Thaís Battibugli.

15
Casta — Isabel Wilkerson

“A primeira jornalista afro-americana a ganhar o Prêmio Pulitzer analisa, em um ensaio portentoso, as raízes históricas do sistema hierárquico [por certo, as classes sociais] dos Estados Unidos e seu impacto cotidiano em todas as esferas da vida: da economia à saúde [o serviço de saúde], da política ao consumo. Ao mesmo tempo, compara o sistema de castas americano com o que funciona, há séculos, na Índia — e inclusive com o que se impôs na Alemanha nazista. Tudo isso recheado com duros testemunhos na primeira pessoa.”

Jornal Opção: “Casta — El Origem de lo que nos Divide” (Paidos Iberica, 520 páginas, tradução de Antonio Francisc Rodríguez Esteban) felizmente ganhou uma edição brasileira, com o título de “Casta — As Origens do Nosso Mal-Estar” (Zahar, 464 páginas, tradução de Denise Bottmann e Carlos Alberto Medeiros)

16
El Apagón — Adam Tooze

“2020 é um ano de inflexão. O grande cronista da recente crise financeira apresenta análise bem-informada sobre a história do ‘isolamento social’ provocado pela Covid-19 e suas consequências econômicas e políticas. O acesso de Tooze a informação privilegiada de personagens e instituições e sua facilidade para explicar temas complexos permitem deixar uma mensagem do que nos espera no futuro.”

Jornal Opção: “El Apagón — Cómo el Coronavirus Sacudió la Economía Mundial” (Crítica, 432 páginas, tradução de Iván Barbeitos) também saiu no Brasil, com o título de “Portas Fechadas — Como a Covid Abalou a Economia Mundial” (Todavia, 380 páginas, tradução de José Geraldo Couto). Na página 296, o historiador e professor de Columbia escreve: “Quanto ao futuro estabelecido em 2020, o desafio parece claro. Ou encontramos meios de converter em trilhões ou bilhões investidos em pesquisa, desenvolvimento e tecnologias futuristas, ou levamos a sério a necessidade de construir economias e sociedades mais sustentáveis e resilientes que possibilitem uma resposta rápida a crises imprevisíveis, ou então seremos subjugados pelo contragolpe do ambiente natural”.

17
Por qué Estamos Polarizados — Ezra Klein

“Livro muito interessante para os amantes da política dos Estados Unidos. Escrito por um dos mais brilhantes analistas do país. A obra trata de um mapeamento do complexo — e, às vezes, disfuncional — sistema da democracia mais poderosa do mundo, desde os eleitores até os jornalistas e o presidente. Klein considera que a política americana está polarizada em torno das políticas de identidade do século passado e que seu legado condiciona também seu futuro.”

Jornal Opção: “Por qué Estamos Polarizados” (Capitan Swing, 328 páginas, tradução de Antonio M. Jaime), de Erza Klein, não tem edição brasileira. No site da Livraria Casa del Libro acrescenta-se informações a respeito do livro: “Todos os envolvidos na política norte-americana estão envolvidos, em algum nível, em políticas de identidade. Durante os últimos cinquenta anos nos Estados Unidos, as identidades partidárias têm se fundido com a identidades raciais, religiosas, geográficas, ideológicas e culturais. Essas identidades em fusão alcançaram um peso que está influenciando muito na política do país e rompendo os laços que mantiveram o país unido”. O professor de Columbia Mark Lilla discute a questão no livro “O Progressista de Ontem e o do Amanhã — Desafios da Democracia Liberal no Mundo Pós-Políticas Identitárias” (Companhia das Letras, 118 páginas, tradução de Berilo Vargas).

18
Racionalidade — Steven Pinker

“O psicólogo da Universidade Harvard procura desmontar, em seu último livro, um dos dogmas mais populares das últimas décadas: que os homens são seres irracionais, uma espécie de homens das cavernas transplantados para o mundo moderno sem as armas cognitivas para entender a realidade. Pinker sustenta o contrário: não só somos racionais, mas também somos capazes de polir [aperfeiçoar] nossas habilidades lógicas e, assim, alcançar a prosperidade.”

Jornal Opção: Não há tradução brasileira para o livro “Racionalidade — Que És, Por qué Escasea y Como Promoverla” (Paidós, 536 páginas, tradução Pablo Hermida Lazcano). No site da Paidós (o mesmo da Planeta, em espanhol), é possível ler o primeiro capítulo do livro. A obra de Steven Pinker, tida como original e controversa, tem sido publicada no Brasil pela Companha das Letras. O último lançamento da editora é “O Novo Iluminismo — Em Defesa da Razão, da Ciência e do Humanismo” (664 páginas, tradução de Laura Teixeira Motta e Pedra Maia Soares).

19
Blanco o Negro — Kevin Dutton

“Mods ou rockers? Siesta ou Tour? Esquerda Malasanã ou direita Gabana? O doutor em Psicologia e ensaísta britânico dedica seu último livro ao pensamento binário, o mecanismo mental que permitiu ao ser humano progredir como espécie desde os tempos da caverna, mas que no complexo mundo atual — com a fragmentação da realidade — está se tornando obsoleto. Em consequência, as posições polarizadas são cada vez maiores e mais perigosas: o Estado Islâmico, a extrema direita, o Brexit, Trump…”.

Jornal Opção: “Blanco o Negro — Cómo Vencer al Cerebro y Escapar del Pensamiento Binario” (Ariel, 432 páginas, tradução de Juanjo Estrella González) não tem tradução brasileira. No site da Livraria Casa del Libro há mais informações: “‘Blanco o Negro’ é um alerta. Em meio a uma onda crescente de intolerância cultural e extremismo político, e depois de uma pandemia global, este livro nos mostra que, ao observar nossa história evolutiva e compreender o funcionamento binário do cérebro, poderemos superar a tendência a agrupar, etiquetar e classificar tudo o que nos rodeia, e então tomaremos decisões muito mais sutis e menos radicais”. Um capítulo do livro pode ser lido no site espanhol da Editorial Ariel/Planeta. Kewin Dutton é pesquisador de Oxford e Cambridge. No Brasil saiu um livro do autor, “A Sabedoria dos Psicopatas — O que Santos, Espiões e Serial Killerr Podem nos Ensinar Sobre o Sucesso” (Record, 280 páginas, tradução de Alessandra Bonrruquer).

20
La Ciudad de la Euforia — Rodrigo Terrasa

“Na última grande época de bonança econômica, Valencia era um referencial internacional, com circuito da Fórmula 1, Copa América e obras faraônicas com a assinatura de grandes arquitetos. Tudo era uma grande festa. O dinheiro não era de ninguém e a ganância era de todos. Uma miragem [ilusão] criada por uma série de políticos, empresários e chupopteros [aproveitadores; “pessoas que, sem trabalhar nem realizar nenhum esforço, intentam conseguir o máximo de ganhos e benefícios”, segundo o “Diccionario Esencial de la Lengua Española”] que exploravam o sentimento de ‘agravio’ [ofensa; talvez despeito?] que os valencianos sentiam a respeito de Madri e Barcelona, depois das grandes manifestações de 1992, para enriquecer-se às custas dos cofres públicos. Tudo sob o silêncio cúmplice da sociedade, salvo as exceções que se atreveram a lutar contra a corrupção.”

Jornal Opção: “La Ciudad de la Euforia — Una Hipótesis de la Mafia” (Livros del K. O., 300 páginas) não tem edição brasileira. No site da Casa del Libro acrescenta-se: “Circulava um chiste que dizia que a corrupção era como a paelha, que se fazia [e havia] em todas as partes, mas em nenhum lugar como em Valência”.

21
Barco de Esclavos — Marcus Rediker

“Buscando em velhos documentos, mapas e relatos autobiográficos, o historiador norte-americanos apresenta um bestiário — nunca melhor dito — de escravistas, traficantes e marinheiros, mas também uma completíssima radiografia sobre o perfil das vítimas, um mapa tétrico das rotas do tráfico de escravos e, sobretudo, um catálogo dos navios que, no decorrer do século 18, se converterem em instrumento imprescindível da maior migração forçada da história. Segundo as cifras apresentadas por Rediker em seu livro, entre o século 15 e finais do século 19 — os quase 400 anos que durou o tráfico — 12,4 milhões de pessoas foram transportadas em barcos de escravos e repartidas em centenas de pontos ao longo de milhares de quilômetros do outro lado do Atlântico. Quase 2 milhões morreram pelo caminho e seus corpos foram jogados no mar.”

Jornal Opção: “Barco de Esclavos — La Trata a Través del Atlántico” (Capitán Swing, 504 páginas, tradução de Esther Pérez e Alex Borucki) não tem tradução brasileira. Mas saíram dois livros de Marcus Rediker no Brasil: “O Navio Negreiro — Uma História Humana” (Companhia das Letras, 464 páginas, tradução de Luciano Vieira Machado) e “A Hidra de Muitas Cabeças — Marinheiros, Escravos, Plebeus e a História Oculta do Atlântico Revolucionário” (Companhia das Letras, 448 páginas, tradução de Berilo Vargas). O segundo livro foi publicado em parceria com Peter Linebaugh. Redikee é professor de História do Atlântico na Universidade de Pittsburgh e pesquisador sênior no Collège d’Études Mondiales/Fondation Maison des Scienses de L’Homme em Paris.

¹ Leia sobre “No Digas Nada”, de Patrick Radden Keefe

Livro de repórter da New Yorker conta a história subterrânea do IRA, o Exército Republicano Irlandês