Lula processa a revista Veja por tê-lo colocado na capa como presidiário

05 novembro 2015 às 16h13
COMPARTILHAR
Mais do que a Justiça, a história dirá se a cobertura agressiva da “Veja” está certa ou exagerada. No caso do mensalão, a revista acertou mais do que errou
A moda de processar para intimidar e tentar “segurar” a imprensa é mais sólida no Brasil do que a estrutura de concretro do Palácio do Planalto. Ainda assim, o processo judicial é a forma civilizada de se resolver pendências. É a busca de um agente, supostamente imparcial e objetivo, o Poder Judiciário, para dirimir dúvidas. Na edição que está nas bancas, a “Veja” expôs o ex-presidente da República Lula da Silva como se fosse presidiário — o que não é. A reportagem interna sugere que o petista-chefe teme ser preso e que as várias denúncias da Operação Lavo-Jato — e outras, envolvendo inclusive pelo menos dois de seus filhos — estão muito próximas, quase coladas, no líder nascido em Garanhuns, Pernambuco, mas consagrado politicamente em São Paulo. Lula decidiu processar a publicação da Editora Abril.
Trata-se de uma ação de reparação por danos morais. O magistrado terá, por certo, que avaliar cuidadosamente a capa e a reportagem. São conectadas, é claro, mas a capa é mais editorializada, por assim dizer, do que o texto. É como se Lula da Silva já tivesse sido julgado, mas os advogados da “Veja” certamente dirão que se trata de uma indução (de uma possibilidade), quer dizer, os fatos podem levar à de detenção do ex-presidente. A revista “não” estaria sugerindo que o chefe do Lulopetismo já é presidiário.
A capa é, sem dúvida, criativa, pois na faixa da roupa de presidiário aparecem os nomes de vários envolvidos nas investigações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. Fica-se com a impressão de que todos são ligados a Lula da Silva. Aos governos do PT, pelo menos, são. O que falta é comprovar a ligação do petista-chefe com todos — o que ainda não está feito, daí a necessidade de cuidados especiais.
O Instituto Lula divulgou nota na qual critica a montagem da fotografia. Porque, assinala, “não possui qualquer lastro na realidade fática ou jurídica. Independentemente das afirmações e críticas contidas no interior da própria revista — sempre com evidente manipulação e falta de critério jornalístico —, não poderia ela estampar em uma capa uma imagem falsa e ofensiva, como se verifica no vertente caso”.
O Instituto Lula frisa que a intenção da revista é “denegrir a honra e a imagem de Lula”. O Instituto sustenta que há mais duas queixas-crime contra repórteres da “Veja” e outra especificamente contra a apresentadora da TVeja, a contundente Joice Hasselman. “Por conta da prática recorrente da revista de atentar contra a honra do ex-presidente.”
A história dirá se, em relação ao petrolão, a “Veja” está certa ou errada. Parece que, apesar de um exagero aqui e acolá — a capa com Lula talvez seja precipitada; mas é preciso sublinhar que, quando se menciona o caso, usa-se “talvez” —, a revista não está no caminho errado. No caso do mensalão, convém lembrar, a “Veja” acertou quase tudo.