O ex-presidente do Internacional de Porto Alegre Fernando Miranda esmurra o repórter Julio Ribeiro durante programa de televisão

JulioRibeiro, diretor da revista "Press", foi agredido por um ex-dirigente do time do Internacional, de Porto Alegre | Foto: De seu Facebook
Julio Ribeiro, diretor da revista “Press”, foi agredido por um ex-dirigente do time do Internacional, de Porto Alegre | Foto: De seu Facebook

Na década de 1970, os torcedores eram mais amenos, quiçá menos fanáticos. Eu mesmo torcia vários times, como Grêmio, no Rio Grande do Sul; Atlético, em Minas Gerais; Fluminense, no Rio de Janeiro; Santos, em São Paulo; e Goiás, em Goiás. Porém, mesmo apreciando o Grêmio, sempre tive o maior respeito pelo Internacional — um time de primeira linha. O Grêmio e o Inter sempre disputaram de igual para igual com os grandes times de São Paulo e Rio de Janeiro. Não há a menor dúvida de que, embora lamentável, o Inter merecia mesmo ser rebaixado para a Série B, porque jogou mal durante quase todo o Campeonato Brasileiro Série A.

Mas o time do Inter não está perdendo apenas fora do campo. Na segunda-feira, 12, como se estivesse “ensinando” os torcedores na Escola da Barbárie do Internacional, o ex-presidente do time Fernando Miranda deu um soco no rosto do jornalista Julio Ribeiro, diretor-geral da revista “Press”, durante a apresentação do programa “Cadeia Cativa”, da Ultra TV (recolho a informação do portal Comunique-se, do Portal Imprensa e de um vídeo postado na internet).

O que Julio Ribeiro disse de tão grave para despertar o bárbaro que habita o ser de Fernando Miranda? Nada de tão pesado assim. O jornalista criticou “a politicagem” nos clubes de futebol. Irritado, Fernando Miranda gritou que o repórter era “asqueroso” e “babaca”. Na resposta, o jornalista usou uma palavra do cartola: “Babaca é tu”. Aí, perdendo as estribeiras, o ex-presidente do Inter atacou fisicamente. O jornalista não estava criticando — ao apontar a politicagem que prejudica o Inter — de Fernando Miranda. Ele estava falando, aparentemente, de maneira genérica. Porém, este, sentindo-se agredido verbalmente, levantou-se e socou-o. Curiosamente, o que não parece ter percebido por aqueles que comentaram a nota na imprensa, os discursos de ambos não eram contraditórios: os dois estavam criticando a politicagem no futebol. O problema é que Fernando Miranda pensou que o jornalista estava falando especificamente dele — o que, tudo indica, não era. Depois, quando começaram a discutir, aí, sim, Julio Ribeiro sugeriu que Fernando Miranda ficava falando “eu, eu, eu, eu”. De fato, o ego do dirigente esportivo não parece pequeno, mas é fato que também criticou a politicagem no futebol.

Fernando Miranda, ex-presidente do Internacional de Porto Alegre | Foto: Portal Imprensa
Fernando Miranda, ex-presidente do Internacional de Porto Alegre | Foto: Portal Imprensa

No Facebook, Júlio Ribeiro escreveu: “Estou bem fisicamente, mas muito abalado emocionalmente. Amanhã pela manhã, vou contar detalhadamente o que aconteceu. Já tem vídeo rolando pela internet — editado, sem a minha fala de menos de um minuto. Já acionei meu advogado e amanhã mesmo ingresso com uma ação contra esse descontrolado”. A fala é de terça-feira, 13.

Uma fala do apresentador do programa, Luiz Carlos Reche, no lugar de criticar duramente a agressão, contemporiza: “Infelizmente acontece, os nervos estão à flor da pele, o presidente se sentiu ofendido e acabou partindo para as vias de fato. Fazer o quê? Aconteceu. Peça desculpas”. Na verdade, deveria ter condenado a agressão. Fica-se com a impressão de que, de algum modo, está justificando-a.

Na terça-feira, 13, a Associação Riograndense de Imprensa divulgou uma nota na qual condena a violência: “A ARI manifesta indignação e denuncia mais um ato violento de desrespeito à liberdade de expressão e a profissão de jornalista. Condenável, sobre todos os aspectos, a agressão física do ex-presidente do Internacional Fernando Miranda ao jornalista Julio Ribeiro, diretor da revista ‘Press’, durante programa de televisão, sob o comando de Luiz Carlos Reche, da Ulbra TV, ultrapassou todos os limites, demonstrando intolerância e incivilidade. Estamos solidários com o colega em todas as medidas que venha adotar para que este episódio triste não resulte impune. Atos de selvageria não têm qualquer relação justificável com o tempo em que vivemos. O público que acompanhava o programa foi também ofendido”.

Numa entrevista à Rádio Bandeirantes, na terça-feira, 13, no lugar de pedir desculpas, tanto ao jornalista quanto aos telespectadores e aos torcedores, Fernando Miranda manteve-se no ataque: “Não estou em um confessionário. Essa história de arrependimento, não é esse o aspecto de que estamos falando. O que aconteceu ali foi de um ser humano, não foi pensado. Quem nunca teve um bate-pronto, foi reativo a algo que estava acontecendo? Tem algumas pessoas que, como têm rabo (preso), elas aguentam. Eu não tenho rabo. Nunca tiveram nada para dizer a meu respeito”. O que está dizendo é que, quando um indivíduo fica irritado ao ser criticado, pode sair esmurrando as outras pessoas? É o que parece.

O futebol brasileiro vive um mau momento — dentro e fora do campo. Talvez mais fora.