História da cachorra que terminou maratona de 21 quilômetros em sétimo lugar

26 janeiro 2016 às 11h07
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Cachorros são bichos espertíssimos. O labrador João sabe das coisas. Luidivine, surpreendendo até sua dona, ganhou medalha por participar de uma maratona
Meu labrador João Fidelis, de 2 anos, é um cachorro espertíssimo. Como é muito manso, apanha até do nosso schnauzer cego, o Sartoris, de 6 anos. Sartoris é o dono do terreiro.
No início, João parecia achar graça e corria o quintal inteiro; agora, quando Sartoris começa a tentar mordê-lo, procura logo um lugar para se esconder.
Se adora brincadeira, João detesta briga, por isso mantém um relacionamento mais cordial com Frida, outra schnauzer. Frida late para o João, mas, pacífica, não tenta mordê-lo.
Às vezes, para que os schnauzers fiquem no quintal com mais liberdade, eu e Candice, minha mulher, prendemos o João. Aliás, ele está com crise de identidade: ora pensa que seu nome é João, ora pensa que é Fidelis, mas o nome preferido é João.
Mas há dias em que é praticamente impossível pegá-lo, porque, elétrico, quer brincar o tempo todo. Como adora ficar na sala, abrimos a porta e o convidamos a entrar.
Se percebe que o convite significa que vamos prendê-lo, João não entra de jeito nenhum. Porém, se entende que não vamos prendê-lo e que poderá brincar na sala, correndo de um lado para o outro, dando voltas ao redor da mesa, eventualmente subindo no sofá para roer um osso ou oferecendo uma bola para a gente jogar — ficamos exaustos de tanto jogar a bola, mas ele continua insistindo —, João entra correndo. Se instado a sair, deita-se e parece grudar-se no chão. A sala é seu Mutirama.
Especialistas dirão que o instinto às vezes “fala” mais alto ou que, se há um padrão, o cachorro acostumou-se a ele e, assim, responde a ele de duas maneiras.
Mesmo não especialista, diria que há um grau de inteligência — quiçá um senso mínimo de observação, até do nosso humor (o faro seria porta-voz do cérebro?) — que permite ao João [foto acima; ele está cantando? Na verdade, protesta por que Candice e eu estamos saindo e deixando ele sozinho] entender se vamos brincar ou se vamos prendê-lo. Aqueles que criam cachorros, mantendo um relacionamento mais cordial com eles — sem o distanciamento de alguns —, certamente vivem situações semelhantes.
As estripulias diárias e a alegria permanente de João, que levam eu e Candice a rirmos com frequência, vieram à minha mente ao ler pequenas reportagens sobre a cachorra Luidivine.
Luidivine, de 2 anos e meio, é uma bela cachorra da raça bloodhound. Ela e sua proprietária, April Hamlin, moram em Elkmont, no Alabama, Estados Unidos. Recentemente, Luidivine saiu para fazer xixi na rua, como era seu costume, e desapareceu.
Distanciando-se um pouco de sua casa, Luidivine acabou deparando-se com pessoas correndo a Maratona de Trackless Train Trek, no dia 17 de janeiro deste ano. Olhou, parece ter gostado e tomou uma decisão: também correria a maratona. Não foi bem assim, é claro, mas é fato que a cachorra participou da corrida, sem sair da pista.
Um dos corredores, Jim Clemens, contou à imprensa americana que passou a observar Luidivine com frequência, durante a prova. Ele diz que corria e olhava para trás, acreditando que a cachorra iria desistir e voltar para sua casa e seus donos. Nada disso, quando se virava para observar, ficava surpreso: lá estava Luidivine, com a língua para fora, mas impávida, correndo, aproximando-se.
Quando a corrida terminou, descobriu-se que Luidivine, superando centenas de maratonistas, havia chegado em sétimo lugar. Ela correu 21 quilômetros, aparentemente sem reclamar de dores e cansaço. Nem tomou água durante o perímetro da prova. Provando que americanos têm humor, os diretores da prova premiaram Luidivine com uma medalha. A cachorra, parecendo entender o que estava acontecendo, até “posou” para fotografias — e com um ar bem animado.
Jim Clemens, que chegou em quarto lugar, avalia que Luidivine não foi melhor “classificada” porque parou para verificar um coelho morto e perdeu alguns minutos.
April Hamlin diz que ficou surpresa com o desempenho de Luidivine na maratona. “Ela é bem preguiçosa”, disse à revista “Runner’s World”. Imagine se não fosse!
A primeira reação de April Hamlin foi de vergonha. Ela diz que ficou preocupada, pois a cachorra poderia ter atrapalhado os demais corredores. Mas ninguém reclamou. Pelo contrário, a prova ganhou destaque internacional graças a Luidivine.