“Cheguei a dizer que o nosso maior erro foi eleger meu pai a deputado. A sua vinda para Goiânia enfraqueceu o movimento. Ele era um líder importante na região”

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Ele é filho do deputado desaparecido José Porfírio de Souza [fotos ao lado, em dois momentos], o Zé Profiro, rei de Trombas e Formoso, e se orgulha disso. Manoel Porfírio, ou Mané Preto, como ele prefere ser chamado, explica que a Revolta de Trombas foi o resultado da luta pela posse da terra, de início espontânea e depois organizada politicamente pelo PCB (Partido Comunista Brasileiro).

Diz que seu pai sabia, “duas semanas antes”, avisado por um militar parente do deputado Aldo Arantes, do golpe militar de 64. Assegura que José Porfírio rompeu com o PCB, ou Partidão, porque este acreditava que a transição para o socialismo se daria de forma pacífica. Manoel Porfírio revela que ainda existem armas enterradas em Trombas. “Elas devem estar enferrujadas.”. Afirma que foi um erro a eleição de José Porfírio a deputado estadual. “Ela esvaziou o movimento de Trombas.”

Com visível emoção e uma memória fabulosa, ele fala do desaparecimento do pai e do “assassinato” de Rosa, sua mãe. Ele defende que a União assuma o desaparecimento de José Porfírio. Nesta entrevista exclusiva, que durou mais de duas horas, ele falou também que seu pai era autodidata, leitor de Jorge Amado, Ernest Hemingway, Marx, Engels e Lênin, mulherengo e bom dançarino de forró. O filho de José Porfírio nasceu em 1944, em Pedro Afonso, é casado pela segunda vez e tem quatro filhos, dois deles com o mesmo nome: José Porfírio de Souza Neto, uma homenagem dupla ao pai. Mora próximo a Paranã e diz que continua “preto, pobre e comunista”.

O que explica a revolta camponesa de Formoso e Trombas?

Manoel Porfírio — Foi uma luta de trabalhadores rurais, espontânea, iniciada em 1950, pela terra, pela sobrevivência. É preciso deixar claro que ela se iniciou antes da chegada dos comunistas. O primeiro comunista a chegar na região foi João Soares (não confundir com o grileiro João Soares; os dois eram morenos e baianos). Depois veio Geraldo Tibúrcio [ex-vereador em Anápolis, falecido em 2003, e pai do jogador de futebol Caçapava). É melhor lutar pela terra que engrossar o número de desempregados nas cidades.

Como é que a luta espontânea foi se transformando numa luta política? Quais eram as reivindicações das pessoas?

A luta educa as pessoas. Ela começou pela posse da terra e nós a conquistamos na região de Trombas. A luta durou 11 anos e foi a luta camponesa mais bem-sucedida do mundo. Cada córrego tinha seu conselho com certo número de trabalhadores. O pessoal discutia no seu próprio conselho, levava as decisões para a associação, que discutia e deliberava. Foi um negócio muito bonito para se ter perdido.

José Porfírio da guerrilha jose_porfirio2

Quantas propriedades foram criadas? Quantas pessoas moravam no local?

Chegou a se conquistar 21 mil propriedades, isto quer dizer 21 mil pais de família.

Qual o tamanho das propriedades e da área dividida?

Eu não sei exatamente. Abarcou parte do município de Uruaçu, Amaro Leite (hoje Mara Rosa), Porangatu e Peixe.

Quem era o proprietário das terras: o Estado ou algum fazendeiro?

Era o Estado. Eram terras devolutas.

Qual foi o papel de Euzébio Martins (ex-prefeito de Porangatu, já falecido), Cristino César e Júlia Martins, Antenor Pereira (já falecido), Antônio Navarro, Antônio Camapum e Peroca?

…José da Silva, os Caiados e Sebastião Sebba. Eles eram donos da fazenda Onça — e os camponeses, durante a luta, a respeitaram. Mas a área de Trombas era devoluta. Meu pai quis comprar a terra, mas Júlia não assinou a escritura.

O governo de Mauro Borges agiu corretamente na questão da posse da terra?

Como bom burguês, ele proporcionou a divisão das terras, fez com que o Estado arcasse com as despesas e entregasse as escrituras aos trabalhadores. Depois, a gente registrava e pagava.

É verdade que seu pai era autoritário no relacionamento com os camponeses?

Para quem pensa assim, eu indico o livro “Trombas — A Guerrilha de Zé Porfírio” [Editora Goethe, 138 páginas, de 1985], do jornalista e advogado Sebastião de Barros Abreu. A historiadora Janaína Amado (sobrinha de Jorge Amado, ex-professora da Universidade Federal de Goiás) fez a apresentação.Manoel Porfírio 2

Qual foi o período mais intenso da luta?

No começo da década de 50, principalmente em 54, e até 58.

Como e quando se começa a ter uma consciência mais ampla da luta?

Quando meu velho, diante do que já existia espontaneamente na região, resolveu assumir as coisas e disse para Pedro Coelho que era possível solucionar os problemas da terra. Depois, descambou numa luta armada.

A influência comunista é conhecida, mas houve dinheiro e armas de Cuba e União Soviética em Trombas?

Quando meu pai era deputado, ele debateu com Anapolino de Faria e outros no “Programa Falando a Verdade Somente a Verdade”, da Rádio Carajás de Anápolis. Ele esteve em Cuba, com Olinto Meireles e Geraldo Tibúrcio, mas não recebeu dinheiro do exterior. Ele adorou Cuba.

É verdade que seu pai foi levado pelo Exército para desenterrar armas em Trombas?

Não é verdade. Quem ajudou a desenterrar foi meu tio Manoel Porfírio (não gosto do meu nome por causa dele; prefiro ser chamado de Mané Preto) e Bartolomeu da Silva, em 1971. As armas eram adquiridas no Brasil e o Exército não conseguiu achar sequer um terço. Hoje, elas continuam enterradas e enferrujadas. (Nota da redação: há pouco tempo, ao patrolar as redondezas da cidade, encontraram um revólver enferrujado.).

Qual foi o líder mais importante da revolta, depois de José Porfírio?

Nego Carreiro, sua mulher (a repressão arrancou suas unhas, mas ela sequer gemeu), Geraldão, o velho Bertoldo (que participou da Coluna Prestes e mora em Goiânia, no Setor Urias Magalhães), José Ribeiro, grande organizador…

E as mulheres?

A dona Leonilha, que mora em Minaçu, era um caso à parte. Quando um cabra baqueava, ela oferecia a saia e pedia a calça dele. A Joaninha, a Dirce Machado e a dona Margarida, dona de uma pensão, também foram grandes líderes.

Gregório Bezerra esteve na região?

Ele era meu amigo e uma pessoa interessante…

O PCB “aparelhou” e “atrapalhou” a luta dos camponeses?

Atrapalhou muito. No início, o Partidão foi útil na organização política dos camponeses. Depois de 1956, com a visão de que a passagem do capitalismo ao socialismo se daria pacificamente, o negócio desandou.
Manoel Porfírio 1
Essa mudança refletiu na luta de Trombas? O PCB abandonou a ideia de luta armada na região?

Houve muita divergência e os quadros do PCB ficaram isolados, politicamente.

Qual foi a linha que prevaleceu?

A da resistência armada.

Há uma corrente historiográfica que procura reportar a história dos vencidos. A revolta de Trombas se insere entre as revoltas derrotadas?

Não concordo. Ela foi bem-sucedida.

Como está a região hoje, em termos de pequenas propriedades?

Arrasada. A família Dourado (Adailton e Misael), dona do Expresso Universo, manda praticamente em tudo.

Como é a memória das pessoas da região de Trombas e Formoso sobre José Porfírio?

Quando eu vou lá encontro companheiros e eles me abraçam e choram a falta de meu pai. Não gosto de ir à região.

José Porfírio foi deputado estadual pelo PTB. Onde ele obteve mais votos?

Quando foi lançado candidato, em 1961, ele estava em Cuba. Como o PCB estava na ilegalidade, foi lançado por uma coligação PSD-PTB. Em termos proporcionais, foi mais votado que Iris Rezende para governador em 82. Ele foi o mais votado, bateu Almerinda Arantes, Olinto Meireles, Gilberto Santana.

Onde ele foi mais votado?

Eu não sei dizer. Mas em Catalão ele obteve dois votos, mas foram de excelente qualidade. Os reacionários ficaram procurando os dois eleitores de Porfírio, durante muito tempo, para matá-los.

Como foi a vida parlamentar do Porfírio? Ele ficou decepcionado com o Poder Legislativo?

Eu cheguei, com o meu pai e outros companheiros, a dizer que o nosso maior erro foi eleger meu pai a deputado. A sua vinda para Goiânia enfraqueceu o movimento. Ele era um líder importante na região, deveria ter ficado lá. Ser deputado é insignificante.

Você lembra de seu pai reclamar alguma vez da impotência do Legislativo?

Muitas vezes. Mais tarde, ele compreendeu que a sua saída de Trombas esvaziou o movimento. Ele era um elemento aglutinador.

Quais os projetos que ele apresentou?

Eu me lembro de dois: a emancipação de Formoso, em 1963, e a construção da segunda etapa de Cachoeira Dourada. Era um deputado temido e agredido verbalmente pelos reacionários.

A classe média era eleitora de Porfírio?

Não sei.

Depois do golpe civil-militar de 1964, como se deu a evasão de Trombas?

No dia do golpe estávamos na casa de um companheiro chamado Pedro, na Fama. Saímos de Goiânia e fomos para Trombas. Tivemos que tomar uma Rural da Organização Jaime Câmara e ir para Anápolis, fomos para a casa de João Querubino (já falecido). Daí fomos para uma chácara de Basileu Toledo. Depois fomos para Trombas, pensando em resistir ao golpe, com Geraldo Tibúrcio, que assumiu uma posição correta a favor da resistência, um mecânico chamado Zizi e outras pessoas. Na ponte entre Ceres e Rialma houve uns tiros. Encontrei o pessoal em Uruaçu e fomos para Trombas, mas lá não havia nada organizado. João Soares estava bêbado e José Ribeiro queria fazer alguma coisa. Fomos para a chácara de Geraldão, o mais preocupado. Em 24 horas, reunimos mais de 2 mil pessoas na chácara de Gentilês. Todos armados e dispostos a resistir.

Como foi a saída para o Maranhão?

Gastamos 28 dias para ir ao Maranhão. Nós saímos de canoa. Roubamos uma canoa de Félix, nosso primo, e fomos pelo Rio Tocantins.

E a prisão de José Porfírio?

Ele foi preso na fazenda Angical, município de Riachão, no Maranhão, entre 31 de dezembro e 1º de janeiro de 1971.

A versão corrente é que seu pai foi libertado, foi à casa de sua advogada, à rodoviária de Brasília, veio para Goiânia, dormiu na casa de José Sobrinho [líder goiano do PCB], e desapareceu. Você confirma a versão? Seu pai, embora um homem experiente, teria sido ingênuo?

Eu solicitei que a advogada Elizabeth Diniz Souto conseguisse a prisão preventiva de meu pai. Na medida em que a Justiça assumisse a responsabilidade de sua prisão nós lutaríamos para mantê-lo vivo. A Beth chegou a falar que foi a primeira vez na história do Direto no Brasil que um filho pediu a prisão de seu pai. Meu velho foi “colocado em liberdade” em 8 de junho de 1973. Ele saiu do PIC (Pelotão de Investigações Criminais), cujo comandante era o general Antônio Bandeira, em Brasília, e foi para o apartamento da Beth. (Na época, eu estava preso em São Paulo e a Beth era a nossa intermediária para troca de correspondência.) Ele falou para a Beth: “Vou à rodoviária tomar um ônibus, vou visitar a minha família (Dorinha, sua esposa e os filhos) em Miranorte e depois volto para São Paulo, para trabalhar e ficar ao lado de Manoelzinho”. Ele gostava muito de mim. Fiquei na cadeia de 73 a 77, no DOI-Codi, no Rio de Janeiro, onde fui torturado até ficar paralítico das pernas; terminei de cumprir a pena em São Paulo e já posso andar.

Voltando ao seu pai…

Ele saiu do apartamento da Beth, foi com ela até o edifício Pioneiros Sociais, em frente à rodoviária velha de Brasília, desceu para tomar um ônibus (no Plano Piloto) e dali, pura e simplesmente, desapareceu.

A partir daí, você não teve mais nenhuma informação?

Nenhuma. Desde que saí da Penitenciária de Barro Branco, em São Paulo, em 1977, tenho “rebolado” por aí a procura de meu pai. Já consegui encontrar cinco José Porfírios. O primeiro numa cidadezinha chamada Amaralina (entre Mara Rosa e Mutunópolis), é um homem que mexe com plantio, compra e venda de bananas no Ceasa de Goiânia e em São Paulo. O segundo trabalha numa fábrica de carrocerias, em Anápolis. O terceiro eu encontrei na Ilha do Bananal: é primo primeiro de meu pai e se chama José Porfírio. O quarto eu localizei em Juiz de Fora, Minas Gerais, mas ele não é José Porfírio — é José Profiro, um coronel do Exército aposentado. O quinto foi em Mato Grosso, na região de Arapotanga. Nenhuma dessas pessoas é meu pai.

O PCB, legenda a qual seu pai foi filiado, contribuiu com a sua investigação? O partido “traiu” Porfírio?

Eu não acho, pelo seguinte: em 64, antes do golpe, nós tínhamos uma divergência com o PCB na região de Trombas, já estávamos rachando, sobretudo meu pai, eu e Geraldão. O PCB não me ajudou a procurar José Porfírio.

O grupo de vocês estava tendendo para qual corrente?

A nenhuma corrente, porque não havia outra corrente na época. Nós acreditávamos que poderia haver um golpe militar no Brasil, pois o coronel Petrônio, que vive na região de Trombas hoje, chegou a avisar para meu pai que os militares iam dar um golpe.

Em 1964?

Duas semanas antes do golpe. O coronel Petrônio Arantes (parente de Aldo Arantes) era bastante informado.

Então, seu pai tinha visão de que o golpe ia acontecer e rachou com o PCB…

Exatamente! Aí começou o pau. Meu pai havia pedido, por escrito, o desligamento do PCB, no início de 64. Geraldão também se desligou.

Mas qual o motivo central do racha? Só a divergência quanto a questão do golpe, ou havia outros aspectos?

O 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética, sob o comando de [Nikita] Kruschev, com as famosas teses de coexistência pacífica com o inimigo, a transição pacífica para o socialismo, descaracterizou o PCB. Mas em Trombas a luta acabou se impondo.

Isso significa que José Porfírio era stalinista?

Não. Os intelectuais de esquerda criticam Stálin sem fazer uma avaliação correta do seu papel histórico. Ele era autoritário, mas se não fosse o seu pulso forte, quando os nazifascistas invadiram a União Soviética e mataram 20 milhões de pessoas, a história do mundo hoje seria outra. Com o desligamento do PCB, meu pai não se aproximou de outra legenda.

Vamos fazer um exercício de “futurologia”. Hoje ele estaria no PT, com o sr.? O PT não defende a luta armada, e o sr. defende…

Hoje ele estaria comigo. Sou petista, mas, se o PT não defender a luta armada, eu defendo.

José Porfírio era um liberal na intimidade? Como ele se relacionava com os filhos e a mulher?

O meu velho era compreensivo e amigo, apesar de ser um simples camponês. Ele gostava de amarrar a calça com palha de milho. Era mais amigo que um pai.

Ele batia nos filhos?

Ele me bateu duas vezes, mas foi merecido. Uma vez eu fiquei num campo vigiando sacos de cereais e larguei para bodocar passarinhos. O gado rasgou os sacos. Meu pai tinha um chapéu grande, tirou-o e me deu duas pancadas, que foram muito mais doídas que todas as pisas que minha mãe me deu durante a vida dela. Minha mãe era uma fera.

José Porfírio era mulherengo?

[Risos…] Demais. Ele era bonito, tinha os olhos azuis, era moreno claro, de braços cabeludos, tinha 1 metro e 66 de altura, aproximadamente, e pesava cerca de 70 quilos. Ele era musculoso. Nasceu no dia 12 de junho de 1912 em Serra Talhada (hoje Vila Bela), em Pernambuco. O seu pai, Teófilo Porfírio de Souza, bem branco, era descendente de mexicanos, e a mãe, baiana, era moreninha. Meu pai teve nove irmãos. Ele era moreno claro, sarará, as mulheres gostavam dele e ele chegava no pedaço [risos]. Meu velho teve 21 filhos; 17 estão vivos. Um deles, Durvalino Porfírio, foi assassinado pela repressão em 1966, aos 15 anos. Ele se casou novamente em 57, com Dorinha Porfírio da Silva, que é viva e mora em Minaçu, e tem aproximadamente 57 anos.

Seu pai tinha vícios?

Ele não bebia, não fumava.

 

José Porfírio era leitor de Jorge Amado, Hemingway e Marx

Ele gostava de ler?

Muito. Era autodidata. Um dos melhores matemáticos que vi na minha vida. Foi o primeiro professor da região de Trombas, inclusive foi o primeiro professor de Raimundo Medrado, hoje advogado e diretor da Faculdade de Porangatu. Lia muito literatura de cordel, “Capitães de Areia”, de Jorge Amado; “O Velho e o Mar”, de Hemingway; “O Capital”, de Marx; “O Que Fazer” e “O Imperialismo”, ambos de Lênin, “O Anti-During”, de Engels. Ele gostava de ler sobre a violência. E escrevia poesias.

E sua mãe, era ciumenta? Como era ela?

Ela era uma fera. Eles brigavam, mas ele era delicado. Minha velha havia tido uma criança, Jeová (hoje residente em Colmeia), mas fazendeiros e policiais queimaram o nosso barraco. Falaram para ela sair, ela não saiu e dois policiais a arrastaram pelas pernas, pegaram Jeová, de apenas quatro dias, e incendiaram a casa. Ela entrou em estado de choque e, dois dias depois, faleceu. Foi um assassinato. E minha “velha”, Rosa Amélia de Souza Farias, a “Roseira”, tinha apenas 26 anos.

Seu pai dançava?

Era um pé-de-forró. Era campeão.

Além da produção jornalística, o que você acha da produção universitária sobre Trombas?

Eu escrevi cinco matérias sobre meu pai para o “Cinco de Março”. Batista Custódio e Consuelo Nasser abriram um importante espaço para mim. Batista Custódio escreveu um artigo chamado “Procura-se vivo ou morto o deputado desaparecido” e fez uma cobrança à Assembleia Legislativa, que cassou o direito do jornal fazer cobertura no seu recinto. Djalba Lima, Valterli Guedes, todos me ajudaram. O jornalista Sebastião Abreu, a meu pedido, escreveu um livro sobre meu pai.

E o trabalho universitário?

A dissertação de mestrado de Maria Esperança, “A Revolta Camponesa de Formoso e Trombas”, compreende bem a penetração do capitalismo no campo. O trabalho de Janaína Amado avança mais.

E o filme?

Vai ser mais ou menos um documentário.

O sr. tem esperança que Porfírio esteja vivo?

Nenhuma. Quero que a União assuma o desaparecimento de José Porfírio, meu pai. Não quero indenização, já ofereceram dinheiro para eu calar a boca.

Data da entrevista

A entrevista de Manoel Porfírio foi publicada no “Diário da Manhã” em 6 de janeiro de 1988, há 27 anos. Contei com a participação de meu pai, Raul Belém, ao entrevistá-lo numa casa da Rua 24 (ou 20), no Centro de Goiânia. O filho de José Porfírio, o guerrilheiro de Trombas e deputado estadual, já faleceu.