Eleitor derrotou o projeto de país criado pela família Kirchner, que leva ao não crescimento e à hipertrofia do Estado. Missão de Macri é incentivar o crescimento econômico e deskirchnerizar o país

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Quem visita Buenos Aires percebe, de imediato, que em cada esquina duas ou mais pessoas (argentinos e, até, cubanos) estão comprando reais e, sobretudo, dólares. É sinal de que a moeda, local, o peso vale quase nada. A economia está “realizada” (sim, do real brasileiro) e, ainda mais, dolarizada.

Sob o governo populista, que gasta mais do que arrecada, a crise econômica se tornou incontrolável. Os sinais de pobreza são evidentes. Em visita recente, além de verificar o aumento do número de mendigos nas ruas, conversei com trabalhadores que, apesar de elogiarem a presidente Cristina Kirchner, por “sua humanidade” — “gosta dos pobres”, disse um kirchnerista, leitor do “Camisa 12”, em frente ao estádio do Boca Junior —, disseram que a Argentina precisava de uma “mudança, antes que seja tarde demais”.  Taxistas, antenas de uma cidade, eram unânimes: a presidente das cirurgias plásticas e relacionamentos conturbados era responsável pela quebradeira do país.

A mulher de Néstor Kirchner é uma assistencialista de primeira linha, senhora de uma máquina corrompida e, aparentemente, sem uma visão ampla do que é o Estado. O kirchnerismo apropriou-se do Estado, privatizando-o, apesar de hipertrofiá-lo. “O Estado sou eu” — poderia dizer a presidente, uma mulher riquíssima.

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No domingo, 22, os argentinos disseram, nas eleições presidenciais, um não rotundo não exatamente a Daniel Scioli, da Frente para Vitória (FPV), e sim a Cristina Kirchner. Direta ou indiretamente, o presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, do partido Cambienos, foi o instrumento para arrancar do poder a responsável pela crise estrutural da nação.

Scioli e Macri são ricos e, até a disputa, eram amigos. Chegaram à política um pouco tarde, mas para valer.

Scioli, embora apoiado por Cristina Kirchner, não é kirchnerista, ou não o é inteiramente. Se eleito, adotaria um plano mais austero, com proposta de enxugamento do Estado e de recuperação da economia. Sua retórica não é, claro, liberal. Porém, se eleito, para recuperar a economia do país, teria de adotar medidas de contenção dos gastos públicos semelhantes às propostas dos liberais.

Macri é um liberal, embora seja visto como conservador. Sabe que, se tomar medidas muito duras inicialmente, verá sua popularidade despencar. Ao mesmo tempo, tem ciência de que foi eleito para “refazer” o país, para deskirchnerizá-lo. Especialistas sustentam que fará ajustes, mas de maneira gradual, para não chocar uma população (sobretudo os mais pobres) que, no momento, se tornou dependente do Estado.

Empresários internos e externos avaliam que, com a vitória de Macri, vai melhorar a reputação internacional da Argentina. Acredita-se que o empresário fará um governo responsável, preocupado em reduzir o déficit público e em fazer a economia crescer.

O esquerdismo nacionalista tinha três bastiões na América do Sul — o Brasil, moderado, a Venezuela, extremista, e a Argentina, de um populismo avassalador. Agora, com a vitória de Macri, perde um de seus principais eixos. A relação do país com os Estados Unidos, por exemplo, tende a se tornar mais equilibrada e responsável.

A eleição de Macri é, também, um recado para o Brasil: o nacionalismo esquerdista do Lulopetismo pode ser a próxima vítima dos eleitores.

(Na segunda foto, Mauricio Macri beija sua mulher, Juliana Awada, com evidente prazer. Scioli olha, aparentemente surpreso e, quem sabe, com inveja. O fato ocorreu depois de um debate)