Nagorno-Karabakh: mais uma peça no frágil quebra-cabeça da geopolítica mundial
25 setembro 2023 às 13h31
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Durante os últimos dias, a tensão entre a Armênia e o Azerbaijão pela região contestada de Nagorno-Karabakh voltou aos noticiários mundiais. Iniciado em 2020, o conflito armado durou pouco mais de um mês e resultou em milhares de mortos, incluindo militares e civis de ambos os países. Entretanto, como compreender essa peça dentro da intensa geopolítica mundial?
Primeiro é necessário entender a origem do conflito entre a Armênia e o Azerbaijão não é recente, algo que acontece desde o século passado. Na época, os países disputavam territórios do Cáucaso do Sul, principalmente na região de Nagorno-Karabakh. Os armênios ocupavam o local, mas o Azerbaijão reivindicava a posse da localidade.
Durante a era da União Soviética, o Cáucaso do Sul passou a ser a República Socialista Federativa Soviética Transcaucasiana. Com a absorção dos territórios, o líder comunista na época, Josef Stalin, entregou o território de Nagorno-Karabakh para o Azerbaijão. A decisão foi tomada para buscar aproximação dos turcos, que possuíam desavenças com os armênios.
Com cenário ideal para conflitos, as hostilidades cessaram por conta da forte presença militar da URSS durante o último século. Entretanto, com o fim do regime soviético, a Armênia e o Azerbaijão conquistaram a independência. Durante a década de 1990, um movimento separatista ganhou força na região e uma guerra foi trava entre as duas nações.
Décadas depois, em setembro de 2020, um novo conflito estourou e o Azerbaijão conquistou alguns assentamentos em Nagorno-Karabakh até o cessar fogo em novembro. Entretanto, as hostilidades voltaram neste ano e mais de seis mil armênios fugiram da região após nova ocupação de azerbaijanos, segundo a Sputnik Armênia. No momento, um novo cessar fogo está sendo conduzido durante as negociações diplomáticas.
Apesar de ter menos habitantes do que diversas cidades do interior, a região de Nagorno-Karabakh é rica em petróleo. Fora que possui a atenção e interesse de nações com grande poderio bélico, como Turquia e Rússia.
No caso, os turcos apoiam o Azerbaijão por conta do histórico com a Armênia, incluindo um que resultou no Genocídio Armênio. Em 1915, o Império Otomano durante e após a Primeira Guerra Mundial, matou cerca de 1,5 milhão de armênios. Já a Rússia é uma aliada histórica da Armênia e enviou tropas para a manutenção da paz e mediar o cessar fogo.
Só que a geopolítica começou a bagunçar a situação, com a Armênia buscando proximidade com o Ocidente, ao mesmo tempo se afastando da Rússia. Uma situação que pode permitir o Azerbaijão sair vitorioso. Por outro lado, os russo estão concentrados na guerra contra a Ucrânia e não possuem força militar para acompanhar os dois conflitos.
Por fim, ainda é necessário destacar que a Turquia faz parte da Otan e controla o estreito de Bósforo, que liga o mar Negro ao mar de Mármara. Ou seja, os turcos controlam as embarcações que entram e saem na região. Por isso, a Rússia pode não desejar irritar os turcos.
Ao mesmo tempo, a aproximação do Ocidente com a Armênia pode causar um desconforto para os membros da Otan. Lembrando que recentemente a Turquia aprovou a entrada da Suécia na aliança, com muito custo. Ou seja, qualquer passo que for dado para ajudar os armênios precisaria ser bem calculado.