A situação atual do Brasil tem levado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a reconhecer que não há caminho para o desenvolvimento do país sem uma necessária aproximação com o setor do agronegócio. Consciente de que uma disputa prolongada poderia afetar negativamente os resultados de seu terceiro mandato, Lula tem mobilizado o governo para estabelecer uma relação mais harmoniosa com os representantes do agronegócio.

No meio dos grandes produtores rurais do Brasil existe uma espécie de ‘demonização’ da figura do presidente, especialmente nos últimos 4 anos. O principal alimento dessa adjetivação é a de que Lula não respeitaria as propriedades privadas e que facilita ações de invasões de terra por parte do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Diante disso Lula tem feito vários acenos ao setor, principalmente, com a liberação de créditos. Prestes a ser anunciado pelo governo, o Plano Safra 2023/2024 é dos grandes trunfos do presidente e já brilha aos olhos de representantes do agronegócio. Com previsão de lançamento para a próxima terça-feira, 27, o programa deverá ter o maior orçamento da história, com valores acima dos 400 bilhões de reais.

Antes de viajar para a Itália nesta semana, o presidente se reuniu com os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Carlos Fávaro (Agricultura) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e insistiu na importância de um plano robusto para a próxima safra e na pacificação das relações do governo com o agronegócio. O aumento dos recursos para o Plano Safra é uma das principais demandas do setor, que queixava-se de migalhas nos anos de Jair Bolsonaro.

Segundo o petista, é “mentira” dizer que os produtores do setor não precisam do governo. “Quem é do agro sabe como foi o Plano Safra no ano passado, talvez o pior plano safra história do agronegócio”, criticou o presidente, em referência à política bolsonarista.

A declaração do presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR), deixa claro que há espaço para entendimento, desde que o governo permita ao setor continuar atuando sem imprevistos. “Ele (Lula) parou de sinalizar ao MST e não nos chamou mais de fascistas. São gestos. Porque não adianta só palavra, é preciso atitude”, afirmou.

Longe do MST

A distância regulamentar de Lula em relação ao MST é o mínimo que se pode esperar de um presidente da República. Gestos como a inclusão do chefe do MST, João Pedro Stédile, na comitiva presidencial, como ocorreu na viagem à China em abril deste ano, são inaceitáveis aos olhos dos grandes produtores rurais. Os produtos agrícolas estão no topo da lista das exportações brasileiras para a China, principal parceiro comercial brasileiro.

Em abril, o MST promoveu o movimento “Abril Vermelho”, realizando invasões de fazendas, de área de preservação ambiental da Embrapa e de sedes do Incra e o que se viu foi um governo acuado e sob pressão. Na CPI sobre o MST na Câmara, representantes dos ruralistas tentam apurar os financiadores das ocupações. Lula defendeu o fim das ocupações em declaração que pareceu mais um apelo do que uma determinação. “Eu disse para o Paulo Teixeira (ministro do Desenvolvimento Agrário) esses dias: não precisa mais invadir terra”, disse o presidente.

Os sinais que o governo federal faz para o setor do agronegócio precisam passar mais confiança, o que requer um prudente e urgente distanciamento ideológico das pautas. O agronegócio é um dos pilares da economia brasileira e para garantir, não só uma maior governabilidade, mas também um maior crescimento econômico, Lula precisa ter mais pulso firme e sustentar melhor suas posições.

Leia mais da coluna Faltou Dizer: