Eu estou na merd* do puerpério
06 setembro 2024 às 19h10
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Coluna Nos Detalhes
Tem absolutamente 122 dias que eu não durmo por mais de 3h seguidas e eu nunca estive tão feliz. A última semana me pegou numa virose lascada com mais de 40 idas ao banheiro durante o dia e madrugada. Eu estava saindo pra buscar minha criança na escola na terça-feira e caguei na roupa. Três empregos, amamentação em livre demanda, duas crianças, lanche, almoço, janta, motorista da mais velha, tarefas domésticas divididas com marido e um monte de boleto atrasado. Claro, não dá pra escrever essas coisas na testa nem sair contando pra todo mundo cada BO que você vive. A não ser que você seja cronista de um jornal e possa contar o que você bem entender. Mas o objetivo não é gerar pena. Ah, tadinha….Não! Eu fiz minhas escolhas e tô feliz com elas. É só pedir pra galera ser gentil. Tá vendo uma mãe? seja gentil, por favor!
A gente jamais esquece as gentilezas que nos são feitas no puerpério. Ao longo da vida tem muita gente incrível que fará por você coisas incríveis e que talvez você esqueça. Mas eu te garanto que a memória do puerpério – até pra quem, assim como eu, vai buscar água na cozinha e esquece o que foi fazer – é diferenciada. Toda gentileza recebida depois do nascimento de um filho é eternizada que nem as memórias da Riley em Divertidamente! Hoje eu acordei correndo pra lavar a louça antes de começar o dia de trabalho e tcharã…. o marido tinha lavado antes de sair de casa. Antes das 6h da matina, a louça da janta que entupiu a pia estava lavada. Cara, isso não tem preço.
Eu sou gentil sempre? Claro que não, ninguém é. Mas eu tô tentando. Sabe quando a vontade é dizer: olha, isso aqui que você fez tá uma merda! Eu tenho dito mais ou menos assim: vamos dar uma melhorada nisso? Como posso te ajudar? É que eu também não sei quantos dramas a pessoa tá vivendo. Não tem como ser trabalhador e ser completamente feliz. Gente, esse negócio de que trabalho dignifica o homem é bobagem. Eu trabalho porque eu preciso. Amo o que eu faço? Amo. Mas se eu não precisasse, ia ser voluntária, trabalhar de vez em quando e passar a tarde brincando com meus filhos. No clube, aula de beach tennis. Eu ia ficar 2 horas do dia cheirando o pescocinho do Matheus e mais 2 horas brincando com as Barbies da Cecília que eu sonhava em ter quando era criança. Eu acordo todo dia querendo ser herdeira.
Hoje eu dei um google pra saber quanto tempo dura o puerpério. A resposta média foi de 60 dias. Mas em vários sites confiáveis a resposta era: quando a mulher volta a ovular. Depois que a Cecília nasceu eu só ovulei depois de 2 anos e meio. Enquanto a minha criança mamava no meu peito, nenhuma ovulação. Eu achava até que isso era comum… mas não é. No geral, quando acaba a amamentação exclusiva, volta a ovulação. Comigo não foi assim. Dessa vez eu tive um medo imenso do pós-parto vir coberto de crises de ansiedade e depressão. As gentilezas me salvaram. De um chefe, da família, dos amigos, de colegas. A gentileza é poderosa demais, minha gente. Não é fórmula de sucesso, mas pode ajudar, eu garanto.
Eu tenho um amigo que de vez em quando, geralmente adivinhando meus piores dias, me manda uns áudios dizendo assim: “Passando pra dizer que te amo e que você é MARAVILHOSA”. Eu já chorei tantas vezes ouvindo esse garoto. Eu tenho mania de acreditar que Deus arruma seu jeitinho de falar com a gente. De vez em quando eu penso que naquele dia eu fui péssima mãe, ou fui péssima profissional, ou fui péssima esposa. Mas aí, é no detalhe e na gentileza que eu me reencontro. Outro dia eu ganhei um voucher de spa pra ir com a Cecília. Foi num dia caótico. Os detalhes.
Se você tá aí perdida no puerpério, achando que nunca mais vai voltar a se perceber como gente, como pessoa… sem saber direito quem você é agora, tenta reparar nos detalhes. Tenta se cercar de pessoas gentis e vai com calma. Aquilo sobre passar rápido quando a gente fala das crianças é verdade. A primeira nasceu ontem e agora tá aqui invadindo meu guarda-roupas e destruindo meus sapatos, mas o pescocinho dela ainda tem cheiro de bebê e ela ainda conta os minutos pra gente brincar de boneca.
Vai passar! Tenta aproveitar a viagem.