O milagre de Trump

27 maio 2017 às 11h08

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Presidente dos EUA até quer fechar o acordo dos acordos para a paz entre palestinos e judeus, mas não sabe como
Nunca houve, e jamais haverá uma oportunidade como essa. Até mesmo o primeiro-ministro de Israel, Benyamin Netanyahu, pela primeirra vez, consegue enxergar uma janela de oportunidade. Algo inusitado está para acontecer no Oriente Médio. A paz entre palestinos e israelenses nunca esteve tão próxima. Tal qual o dedo de Deus que quase toca o de Adão na obra prima de Michelangelo “A Criação de Adão”, a paz está por um toque.
Deus, neste caso, Donald Trump, está destinado a esticar o dedo que fará o milagre. E em breve a embaixada da Arábia Saudita poderá hastear sua bandeira na Terra Santa. Os países do Golfo, em cooperação e prova de amizade irão bancar milhares de edifícios que vão abrigar jovens israelenses e futuros casais, é claro. Os palestinos certamente abrirão mão do direiro do retorno dos refugiados e de Jerusalém oriental como sua capital. Os assentamentos judaicos na Cisjordânia, onde moram mais de meio milhão de judeus, serão anexados ao território israelense e Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina, será coroado Rei da Palestina.
De volta à realidade. Ou melhor, de volta ao pesadelo chamado realidade. Há poucos meses, a Suprema Côrte de Israel determinou a retirada de colonos judeus de um assentamento ilegal na Cisjordânia chamado Amona. Era a decisão final da Justiça, os colonos teriam que sair das terras palestinas. Depois de dez anos nos tribunais, e mesmo com a decisão final para a retirada dos moradores de Amona, foi preciso chamar o exército para garantir o cumprimento da ordem. A quem de fato pertence o Muro das Lamentações? Segundo a Unesco, o lugar mais sagrado do judaismo está em terras palestinas, já que a ONU não reconhece a soberania de Israel sobre Jerusalém oriental, e o muro está justamente depois da linha da fronteira de 1967 que os palestinos querem como capital de um futuro Estado. Donald Trump, que fez questão de visitar o local de forma privada, sem a presença de lideranças políticas, se recusou a reconhecer, oficialmente, a soberania de Israel sobre o muro.
Será que Trump vai mesmo decidir onde ficarão as fronteiras que irão separar Israel do Estado Palestino?
Ao discursar no Museu de Israel, em Jerusalém, ponto final da visita que durou 30 horas, Donald Trump não ofereceu nenhuma solução para o que pôde ver de perto. Ele naõ reconheceu o direito dos palestinos de autodeterminação, mas também não demonstrou publicamente o apoio exigido pelo governo israelense para que os palestinos reconheçam a existência do Estado Judeu. Trump também não mencionou a solução para “dois Estados”, e muito menos um Estado com direitos iguais para todos os cidadãos. Não falou de fronteiras nem de assentamentos. Muito menos tocou no assunto sobre o reconhecimento de Jersualém como capital indivisível de Israel. Disse apenas o todos já sabem: “A mudança deve vir de dentro”.
Há menos de quatro meses, na Casa Branca, o presidente americano disse em coletiva, juntamente com o primeiro-ministro de Israel, que o visitava logo depois da posse, que “dois Estados, ou um Estado”, qualquer decisão pra ele não importava. Depois da gafe, um pouco antes de embarcar para o Oriente Médio, a Casa Branca chegou a dizer que desde então, Trump passou a se inteirar um pouco mais sobre a história dos judeus e, principalmente, sobre o conflito entre israelenses e palestinos. Os assessores do presidente americano garantem que depois de estudar profundamente Trump já sabe o que é ou não possível para tentar alcançar um acordo de paz.
Só que é justamente isso que preocupa os dois lados. Porque é no momento em que você entende o conflito, passa a compreender também que o sonho é apenas um sonho. Barack Obama, Richard Nixon e Bill Clinton logo perceberam o que é impossível, e por enquanto ninguém sabe, talvez nem ele mesmo, que fórmula Trump vai usar para colocar abaixo a muralha que separa palestinos e israelenses.
Talvez o Rei Salman da Arábia Saudita e os outros líderes árabes que estiveram com Trump em Ryad tenham dado ao presidente americano motivos para ele pensar que os árabes estão dispostos a uma aproximação com Israel em troca de um acordo final com os palestinos. Talvez, talvez, talvez. Por enquanto o que se sabe da visita ao Oriente Médio é o que se viu: muita pompa, discursos de paz mas poucos ou nenhum resultado concreto.
Mas sabe como é, em terra de profetas milagres acontecem. Jesus andou sobre as águas do Mar da Galileia e Sara, aos 90, deu à luz a Isaac. Trump terá que realizar algo desse tipo. Só assim ele vai suceder na sua maior ambição: fechar o acordo dos acordos.