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Depois uma década de investigação, Israel prova que entidades filantrópicas e até a ONU foram roubadas pelo grupo terrorista

Khalil Hamra
Khalil Hamra

A investigação do serviço secreto israelense, o Shin Bet, que durou 12 anos, chegou ao fim esta semana com a prisão de um morador da Faixa de Gaza que trabalhava como diretor regional de uma organização não governamental internacional: a World Vision, uma ONG conhecida no mundo inteiro que realiza trabalhos de assistência humanitária.

No relatório oficial, o serviço de inteligência interna acusa o Hamas de inflitrar Mohamed el Halabi na World Vision para desviar fundos, equipamentos e materiais de construção que são transferidos, diariamente, para a Faixa de Gaza. Halabi foi preso no dia 15 dia junho quando atravessava a fronteira entre Israel e Gaza. O Shin Bet acredita que desde que foi contratado, há seis anos, Mohamed el Halabi desviou milhões de dólares para o braço militar do Hamas.

A revelação pode abalar as estruturas do grupo terrorista em vários aspectos, mas o principal deles é a reputação de funcionários locais que trabalham e supervisionam a transferência de dinheiro de entidades filantrópicas, que pensam que estão ajudando o povo palestino, mas que na verdade estão financiando o terrorismo. A fonte que jorra dinheiro nos cofres dos dirigentes do Hamas corre o risco de secar. O grupo que construiu a imagem de uma organização incorruptível, bem diferente do rival, a Autoridade Palestina, que nunca roubou e cujos membros do alto escalão jamais desviaram fundos para benefício próprio, foi demascarado com o depoimento de Halabi aos agentes isrelenses. O palestino confirmou que transferiu dinheiro para as famílias de militantes do Hamas que reconstruíram suas casas bem antes de milhares de pessoas que ainda continuam morando em ruínas mais de dois anos depois do ultimo confronto com Israel.

A revelação foi feita no comeco da semana passada e veio com outra denúncia que chegou da Cisjordânia por um jornal local: os impostos excessivos que a população de Gaza paga ao governo do Hamas servem, também, para financiar militarmente o grupo.

Quatro dias depois dessa revelação, o Shin Bet tornou público outro escândalo de desvio de dinheiro, dessa vez envolvendo o Hamas e a ONU. Um funcionário do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, que também está preso, foi indiciado por beneficiar o grupo palestino com informações confidenciais. Wahid Borsh, de 38 anos, trabalhava desde 2014 como um dos engenheiros do Programa de Desenvol­vimento da ONU na Faixa de Gaza. Sua missão era desviar fundos para reconstruir as casas do dirigentes do Hamas e informar quando e onde outras moradias passariam por reconstrução. Muitas delas, em seus subsolos guardam entradas de túneis ou depósitos de armas. Teorica­mente, quando armamentos são encontrados, a ONU se encarrega de recolher e destruí-los. Mas em Gaza isso não acontece. Com funcionários infiltrados como Wahid, o grupo islamita sempre chega antes, fecha os locais e enche caminhões com muitas armas pesadas, entre elas mísseis de curto e longo alcance.

No final da semana passada, as Forças de Defesa de Israel publicaram imagens aéreas em redes sociais que mostravam com detalhes uma base marítima construída pelo Hamas no norte da Faixa de Gaza. Segundo os serviços de inteligência do país, a estrutura militar foi financiada com dinheiro desviado da ONU. A marina do Hamas fica bem próxima de Askelon, uma cidade importante na costa israelense. A investigação prova que Wahid Borsh, militante do Hamas, foi in­flitrado na Agência de Desen­volvimento das Nações Unidas para conseguir os fundos necessários para o desenvolvimento do comando naval do grupo que seria usado para futuras operações. De acordo com o depoimento de Borsh, a unidade de combate marítma do Hamas é formada por centenas de homens que sabem mergulhar com equipamentos de combate, todos prontos para emergir em praias israelenses e dali partir para um ataque terrorista.

O Hamas nega todas as acusações, diz que as alegações são falsas e que fazem parte de um plano de Israel para enfraquecer o grupo. Segundo os dirigentes, a intenção de Israel é interromper o fluxo de ajuda humanitária que chega ao território palestino. Prometeram até iniciar uma guerra se as revelações continuarem, mas apesar de todas as descobertas recentes, o exército israelense acredita que o Hamas não está pronto para um enfrentamento. A reconstrução da Faixa de Gaza, que foi devastada na guerra de 2014, é lenta, e enfraquece o grupo internamente com a insatisfação da população de Gaza. Além disso, o Hamas não conta mais com o apoio estratégico que vinha do Egito antes da revolução que varreu Mubarack do poder. A organização também não procurou estabelecer alianças alternativas com outros países muçulmanos como Turquia, Irã, Arábia Saudita e até Catar. Com a destruição dos túneis ilegais que ligavam a Faixa de Gaza ao Egito, os depósitos de armas do Hamas estão vazios, o grupo possui apenas foguetes de fabricação caseira que são lançados sem precisão e geralmente destruídos no ar pelo sistema antimísseis de Israel, por isso as chances de uma guerra entre o Hamas e Israel nos próximos meses são mínimas, mas outros escândalos de corrupção envolvendo não só o Hamas, mas também a Autoridade Palestina, devem vir a tona nos próximos dias. A nova arma de Israel contra os dois governos palestinos é desmascará-los e mostrar para comunidae internacional que o dinheiro que deveria matar a fome e prover um telhado, na verdade está sendo usado para insuflar ainda mais violência.