Esse Dia das Mães está diferente. Com os acontecimentos desastrosos no Sul do país, se torna urgente debater as consequências para as mães e crianças desabrigadas e desamparadas nesse momento. Mais uma vez o “Conversas de Mãe” fez uma parceria com a Marcella Brito, psicanalista, professora, escritora e pesquisadora. Mestranda em psicologia social, especialista em teoria psicanalítica. Essa super profissional atende jovens e adultos de modo remoto, oferece supervisão clínica e cursos nas áreas de saúde mental e psicanálise. Mãe do Fernando, Miguel e Isabella, topou conversar com a gente e fez o relato abaixo para falar um pouco sobre como lidar a longo prazo com essas situações de estresse agudo. Infelizmente, esse será um trauma de um precisaremos lidar socialmente por muito tempo. Vamos conversar?

Com a palavra, Marcella Brito:

“Lidar com situações de estresse agudo como desastres, catástrofes naturais e demais violências podem gerar um impacto emocional intenso devido ao choque do imprevisível. 

Um olhar psicossocial para o enfrentamento de violências e violações de direitos é indispensável, demandando ações imediatas do poder público e de instituições a fim de assegurar a segurança e salubridade das vítimas.

No âmbito psicológico esses episódios traumáticos implicam também num processo de luto que é um fenômeno de difícil simbolização, pois atravessa o sujeito em suas bases afetivas e identidade. A perda de referências históricas, memórias, de bens materiais e, em muitos casos, a despedida abrupta de pessoas amadas arremessam o sujeito num estado profundo de desamparo; nessa hora é importantíssimo o acolhimento familiar, da comunidade e o fortalecimento de laços coletivos através das redes de solidariedade para fomentar condições mínimas de suportabilidade diante do caos.

Nesse sentido a construção de uma rede de apoio que assegure um espaço de fala para a troca de sensações, vivências e sentimentos a fim de fortalecer o senso de pertencimento e a legitimação do vivido é fundamental, pois somente aquilo que é reconhecido é passivo de ser processado psiquicamente.

Já no âmbito individual o desenvolvimento da resiliência, fé (independente de crença religiosa) e empatia podem auxiliar na travessia de situações extremamente adversas. 

Outro ponto que merece destaque é a busca por ajuda especializada, pois para alguns suportar o real, a carga emocional da angústia e desamparo gera muita dor e sofrimento.  Por mais que o acolhimento dos pares seja importante nesses momentos, eles não substituem o trabalho de um profissional de saúde mental, somente esses terão ferramentas para oferecer um suporte qualificado em momentos de crise.

Desabafar pode ser aliviar, mas não substitui um acompanhamento terapêutico!

Universidades e associações oferecem atendimentos gratuitos para primeiros socorros psicológicos em situações de calamidade. Busque também por profissionais qualificados no site Mapa da Saúde Mental: https://mapasaudemental.com.br