O “lockdown” não conseguiu se mostrar como algo que indiscutivelmente funciona. Há que se buscar algo diferente

Se tiver curiosidade e comparar as reportagens dos jornais brasileiros e estrangeiros, o leitor ficará pasmo com a diferença no trato das notícias da pandemia. Enquanto um jornal como o português “Diário de Notícias”, mesmo no pico da doença, foi comedido e cuidadoso nas suas matérias, foi apaziguador e em nenhum momento foi alarmista ou atacou o governo português, os jornais brasileiros, quase todos, foram sensacionalistas, exagerados, aterradores, e, o que é pior, acusadores sem provas do governo federal, por tudo de mau que a pandemia gera. Procure e comprove: em nenhum lugar do planeta, a imprensa espalhou o pânico e politizou a pandemia como no Brasil. Somos forçados a conviver com alguns mitos, mesmo com o descrédito que já acompanha boa parte da imprensa em nosso país.

Apresentamos alguns exemplos a seguir.

Deficiência de UTIs precede a Bolsonaro

Tratou-se a deficiência de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) como se fosse algo de agora, ligado à presença do vírus, e oriundo do descaso do atual governo. A imprensa elevou essa interpretação à potência máxima, dentro de sua intenção de apavorar a população e desgastar o governo. Ocorre que a deficiência de UTIs é crônica no país, há décadas. Se alguém pode ser culpado, não é Bolsonaro. O Jornal Opção já havia, há anos, dado o alerta.

Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, e Jair Bolsonaro, presidente | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Com mais base, poder-se-ia culpar a ex-presidente Dilma Rousseff, e refresco a memória do leitor, republicando o que estava nesta coluna em maio de 2016, quando sequer poder-se-ia imaginar algo como a Covid-19 e suas mutações: “Conto um fato, para mais uma vez repisar que fazem muita falta aqui as dezenas de bilhões de dólares que os petistas enviaram para Cuba, Venezuela, Nicarágua, Equador, El Salvador, Angola, Moçambique e outras ditaduras, quase sempre como empréstimos do BNDES que dificilmente serão pagos. Um importante político goiano, meses atrás, teve uma complicação de saúde e correu sério risco de vida por não encontrar vaga em UTI. Imaginemos o que ocorre com pessoas humildes, que não têm a quem recorrer. As televisões mostram sobejamente que em todo o território nacional faltam leitos em UTI, e muitas mortes advêm dessa deficiência. Contas que o leitor precisa conhecer: O Brasil tem aproximadamente 26.000 leitos de UTI. O recomendado pela Organização Mundial da Saúde seria, por nossa população, 66.000 leitos. Faltam, pois, 40.000. A R$100 mil por leito, custo aproximado de sua implantação, seriam necessários 4 bilhões de reais para cobrir nossa deficiência de UTIs hospitalares. Ou 1 bilhão de dólares, justamente o valor dado de presente à ditadura cubana, para construção do Porto de Mariel, em Havana” (Jornal Opção n° 2133, de 19/05/2016).

Portanto, o problema não é de hoje. A pandemia apenas o agravou. E bastaria para sua solução aplicar em UTIs o que Dilma Rousseff aplicou apenas no porto cubano de Mariel, com dinheiro do trabalhador brasileiro, e para beneficiar um ditador seu correligionário. Com dois agravantes: Cuba nunca pagou e provavelmente nunca pagará o empréstimo brasileiro; e o trabalhador patrício precisa pungentemente desse numerário, para suas necessidades, como essa de saúde.

Raúl Castro e Dilma Rousseff: aliança política regada a dinheiro dos brasileiros | Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
O mito do lockdown

Outro mito, muito mais profundo, porque mundial, é o mito do “lockdown”. Logo no início da pandemia, temendo superlotação de hospitais, alguns governos europeus resolveram impor um distanciamento social radical, com fechamento compulsório de empresas industriais, comerciais e de serviços, acompanhado de restrição de circulação. Não tardou, e políticos do mundo todo, como um bando de carneiros, adotaram a medida sem discuti-la, apesar dos protestos generalizados: era fácil de impor, e representava uma solução simples, embora dirigida a um problema muito complexo. Além disso, não afetava os que a impunham: políticos, burocratas, altos funcionários não têm suas rendas comprometidas se ficam isolados em casa. Os afetados, e drasticamente, são os menos favorecidos, que dependem de seu trabalho diário para a sobrevivência. Mas estes são importantes apenas no mundo da retórica.

Além disso, toda a esquerda apoiou o “lockdown”, como ação que emanava do Estado, o substituto de Deus. A disseminação do “lockdown” trouxe graves problemas econômicos para o mundo todo, e os mais atingidos foram precisamente os mais humildes: no empresariado, as pequenas ou microempresas, notadamente as pessoais ou familiares; nos empregados, aqueles que exerciam as funções menos especiais, e por isso mais dispensáveis. A despeito da revolta que gerou — e falo do globo inteiro onde a pandemia se manifestou de maneira mais virulenta —, as autoridades persistem no “lockdown”, muitas vezes à custa de forte repressão policial que cai sobre não os marginais, mas sobre os trabalhadores honestos, mas necessitados.

Poucos perguntam sobre a efetividade da medida, preocupados apenas com as UTIs que faltam (há quanto tempo!) e preocupados em “achatar a curva” de contaminação para não sobrecarregar os hospitais públicos. Pouquíssimos prefeitos ou governadores foram criativos no tentar amenizar os efeitos da medida, limitando-a ao máximo, ou a flexibilizando. Avaliação de sua eficácia não houve.

Ninguém — nem a OMS — buscou alternativas que combatessem o vírus sem o sacrifício dos mais fracos. No Brasil, as autoridades do governo federal, que foram desautorizadas pela Suprema Corte em benefício dos governantes estaduais e municipais, se insurgiram contra o “lockdown”, mas, além de não poder agir, foram execradas por todo o establishment esquerdista e tachadas de “genocidas”.

E ficam duas perguntas importantes, que precisariam de resposta, enquanto a vacinação não chega a níveis adequados, revertendo contaminação e mortes em número elevado: 1) Há alternativas ao “lockdown”? 2) O “lockdown” dá resultados?

A resposta — positiva — à primeira pergunta está nas medidas que tomaram os países que menos sentiram os efeitos dos vírus. Ou nas condições naturais presentes nos que foram pouco afetados por ele. Infeliz e inexplicavelmente, ninguém, a começar por quem deveria de início fazê-lo, a OMS, buscou saber como e por que alguns países foram poucos afetados enquanto outros mergulharam no caos por ação da pandemia.

Como o vírus não chegou com força em vários países da África, como na República Democrática do Congo, em Uganda, na Costa do Marfim ou na Nigéria? Ou em locais asiáticos como Vietnã, Taiwan, Mongólia, China, Singapura, Sri Lanka, Malásia ou Japão? A resposta estará nesses locais, e é espantoso saber que nem as nações mais adiantadas da Europa, que tanto sofrem com a pandemia buscam “in loco” essa resposta. A impressão que fica é de que houve uma perplexidade global com o ataque do vírus, que redundou em uma catatonia generalizada dos políticos e cientistas, que não se moveram para buscar em campo as respostas que todos pedimos, e que cabia a eles encontrar. Era mais fácil ficar com o “lockdown”.

A segunda pergunta também não é de fácil resposta, até porque o “lockdown” foi aplicado com diferentes graus de rigidez pelo mundo afora.

Um laboratório excelente para essa avaliação seria a Europa, onde houve uma aplicação generalizada do “lockdown”, com maior ou menor severidade, quer de um local para outro, quer ao longo do tempo, dentro de um mesmo país.

Mas fica difícil defender esse tipo de fechamento, pois, apesar dessa diversidade de “lockdowns”, e até de países que praticamente não o aplicaram, como a Suécia, a variação dos graus de contaminação e a mortalidade por Covid não variou muito de um país europeu para outro.

Pode-se mesmo dizer que a Europa foi a região mais afetada pela pandemia, apesar do “lockdown”.

Já o exemplo caseiro do “lockdown” é desanimador, mesmo se apenas examinarmos seu efeito sanitário, deixando de lado as consequências econômicas. Ele não pode ser implantado “in totum”, pois há os que não sobreviveriam uma semana confinados, justamente os mais pobres. Daí uma desobediência civil, presente em todos os pontos do país. Dificilmente, em alguma cidade brasileira, a efetividade da medida chegou a 50%.

Os próprios governos estaduais e municipais, ao promovê-la, a inviabilizam. Exemplo? Tomemos um fato que ocorre em Goiânia: mesmo sob severo “lockdown”, o poder público promove diariamente, e finge não ver, por aqui, alguns milhares de aglomerações. Cada uma das 3.000 ou 4.000 viagens diárias de ônibus da cidade é uma aglomeração obrigatória de várias dezenas de pessoas, sem efetiva proteção contra o vírus.

O “lockdown”, na verdade, não conseguiu se mostrar como algo que indiscutivelmente funciona. Há que se buscar algo diferente.