Entenda por qual motivo não se encontram agências do Itaú e do Bradesco na Europa

19 setembro 2021 às 00h00

COMPARTILHAR
Gigantes no Brasil, não teriam o menor espaço porque nenhum banco central europeu aceitaria lá serem os correntistas tratados como o são no Brasil
“A máquina política triunfa porque é uma minoria unida contra uma maioria dividida.” — Will Durant
Há dias escrevíamos neste espaço sobre o corporativismo legislativo que age contra os interesses nacionais. Na verdade, existe um entrelaçamento entre vários setores da vida nacional agindo em benefício próprio, alimentando-se dos recursos públicos, e se beneficiando de sua capacidade de organização e ligações políticas. É uma minoria organizada. Já a grande massa desorganizada ou desinformada de contribuintes — e eleitores — permanece inerme perante esse quase assalto (pois se baseia em disposições legais que a minoria organizada obtém) aos cofres públicos, benefício de poucos em detrimento do sacrifício de muitos.
Além dos exageros do Legislativo, de que já falamos, e onde pesam sobre os recursos públicos os salários altos dos parlamentares, suas verbas de gabinete, auxílios como o da moradia e muitos outros, ainda se somam os fundos eleitorais e partidários, as verbas pessoais e de bancada. E os benefícios extraordinários que os funcionários da Câmara dos Deputados e do Senado acabam obtendo, pois os “chefes” não dando o exemplo, não podem restringir os subordinados. É velho o exemplo citado dos ascensoristas do Senado, que ganhavam mais para pilotar um simples elevador do que os pilotos da FAB para pilotar um caça de alguns milhões de dólares. Os salários altos e cheios de penduricalhos do Judiciário também se inscrevem nessa rubrica, e sabemos a Justiça brasileira cara e lenta.
Ao se entrelaçar com a classe política, boa parte do empresariado nacional participa dessa distorção, pela qual dezenas de milhões de lutadores enchem os cofres públicos enquanto alguns milhares conseguem perfurá-los em benefício próprio.
Por décadas, praticamente toda a indústria nordestina vivia de subsídios e financiamentos nunca pagos, em concubinato e sob proteção de chefes políticos regionais que financiavam e que se eternizavam nos mandatos.
Industriais de alguns setores, incapazes de competir no mercado, como deveriam fazer, viveram de favores governamentais e da vaidade de governadores, que tudo cediam para atrair algumas fábricas. Empresas se enriqueceram com esses favores e muitas se tornaram mesmo multinacionais, à custa desses benefícios lícitos, mas discutíveis, embora muitas vezes os houvesse ilícitos também.
Um exemplo é a Braskem, multinacional fabricante de resinas, que durante anos pertenceu a duas famílias baianas, e na qual a Petrobrás era minoritária, mas que fornecia a ela matéria prima a preços que concorrentes não podiam obter, ainda que em prejuízo da própria Petrobrás. Ou da CBC, fabricante de munições, monopólio em seu campo, pertencente a uma família paulista, na qual as Forças Armadas são minoritárias. Os donos conseguiram impingir no governo federal a ideia de que se tratava de uma indústria estratégica, que não poderia ter concorrentes. Hoje é uma multinacional, com fábricas também fora do Brasil, e continua sem concorrentes aqui.
Nos governos passados, alguns empresários avessos à livre concorrência e amigos do petismo tudo podiam junto ao BNDES.
O setor financeiro conseguiu ume extrema concentração, domesticou o Banco Central, maximizou seus ganhos muito à custa do Tesouro Nacional e implantou uma automação bancária extremamente vantajosa para os bancos, enquanto usuários, principalmente pessoas físicas, têm o pior serviço bancário do mundo
O setor financeiro privado é outro exemplo. Conseguiu ume extrema concentração, domesticou o Banco Central, maximizou seus ganhos muito à custa do Tesouro Nacional e implantou uma automação bancária extremamente vantajosa para os bancos, enquanto usuários, principalmente pessoas físicas, têm o pior serviço bancário do mundo. Há bancos estrangeiros atuando no Brasil, inclusive no varejo. Mas o leitor não encontrará agências do Itaú ou Bradesco na Europa, embora dominem eles o mercado brasileiro, e sejam gigantes. É de se perguntar por que, e parte da resposta é que nenhum banco central europeu aceitaria lá serem os correntistas tratados como o são no Brasil.
Mas essa organização minoritária não subsistiria sem o entrelaçamento político, e os bancos estão entre os grandes financiadores de políticos no país, na parte visível e na discretíssima.
Pergunte o leitor, por exemplo, quem financiou — e financia — desde a fundação, o pomposo Instituto Fernando Henrique Cardoso, do vaidoso e “socialista” ex-presidente, e templo do finório PSDB.
As empresas públicas se prestaram ainda melhor a esses abusos, dado as regras mais frouxas de fiscalização e controle. A Petrobrás é o grande exemplo. Já foi, desde sempre, muito explorada pelo concubinato entre funcionários, diretoria, empreiteiros e políticos. Empreguismo, superfaturamento, salários estratosféricos e indicações políticas para cargos de chefia sempre existiram ali. E tudo explodiu nos governos petistas, pois até uma gigante monopolista em um país de 210 milhões de habitantes tem seus limites no saque indevido.
Fala-se muito nos exageros de Itaipu também no empreguismo, nos patrocínios e obséquios indevidos, até a figuras do alto Judiciário.
Uma minoria organizada, os artistas e “intelectuais” brasileiros também aprenderam a viver do dinheiro público, do patrocínio farto, da relação próxima com o governo, enfim. Houve até casos escandalosos, como o de uma atriz famosa, já falecida, que obteve um gordo patrocínio para fazer um filme. Patrocínio total e com sobra. Liberado adiantado e de uma só vez. A atriz, de posse do dinheiro, comprou através de uma sua empresa no exterior um belo apartamento duplex na zona sul carioca, para lá se mudou, não fez o filme e morreu sem ressarcir os cofres públicos. A
imprensa, por fim, se acostumou, graças a seu poder de influência sobre os eleitores, a extorquir os governos. As grandes empresas públicas e de economia mista, quando não o próprio governo central, sempre se renderam a essa minoria organizada e ávida. Eram grandes anunciantes, além do próprio governo, Petrobrás, Eletrobrás, Furnas, Caixa Econômica, Banco do Brasil e outros mais.
O governo federal atual resolveu promover um “desmame” radical da mídia, o que em boa parte explica a fúria da chamada “grande imprensa” contra ele. Se o tivesse feito de maneira gradual, talvez não apanhasse tanto, e tivesse seus feitos positivos publicados, ao invés de escondidos, como acontece. Como vê o leitor, o escritor americano, além de historiador e filósofo Will Durant tem razão. Mas como impedir que uma minoria unida continue a se beneficiar dos cofres públicos que são abastecidos com o suor da grande maioria desorganizada? Não há como impedir, a não ser por um longo processo de educação, mas há como limitar, privatizando, cerceando o crescimento dos governos e restringindo a criação de empresas públicas, algo que o Brasil está a pedir.