Porque, em geral, são de esquerda. Muitos porque os militares obrigaram jornalistas a pagar impostos, o que não ocorria antes

Não é preciso muita perspicácia — basta ver a TV ou ler os jornais — para se convencer de que os jornalistas da “grande imprensa”, mestres em encontrar preconceitos nos outros, portam também seus preconceitos. Um dos alvos mais evidentes desses preconceitos é o militar, principalmente desde meados de 1964. Falo, evidentemente, do nosso Brasil. O fato de existir hoje uma hegemonia de esquerda no ambiente jornalístico brasileiro — como existe no ambiente universitário — ajuda a explicar a implicância, mas não a desvenda de todo.

Para demonstrar que não vai aqui nenhuma afirmativa gratuita, basta lembrar alguns episódios que deixam em evidência esse preconceito dos jornalistas para com a farda.

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Dilma Rousseff na Comissão da Verdade | Foto: Reprodução

Quando foi criada, pela lei 12.528, de novembro de 2011, no governo Dilma Rousseff (por sinal comunista e guerrilheira), a chamada Comissão Nacional da Verdade, a imprensa exultou. E exultou mais ainda quando a Comissão entregou seu relatório à “presidenta”, três anos mais tarde, carregando contra os militares, e descumprindo a Lei da Anistia. Mas já se sabia, mesmo antes de sua criação, que essa Comissão era uma farsa.

Criada pretensamente para investigar violações de direitos humanos desde o fim da ditadura Vargas até o final do regime militar, era público e notório, por seus membros e pelo que se dizia nos corredores do governo, que seu fim era mesmo responsabilizar os militares pelos excessos ocorridos de 1964 até 1985. E ocultar os crimes cometidos pelas esquerdas armadas e treinadas em Cuba e na China. Elas haviam deflagrado uma guerra de guerrilhas — urbana e rural — para implantar aqui um regime comunista.

Também era objetivo da Comissão fixar na mente dos brasileiros a mentira de que guerrilheiros e terroristas lutavam pela democracia (e não pelo comunismo). Era mais que público (a composição da comissão gritava isso) que só um dos lados — o dos guerrilheiros e terroristas — teria voz, no proclamar a “verdade” da Comissão. Não havia diálogo, ali. Era um monólogo de duas bocas — só uma tinha o direito de falar.

E assim foi, para delírio da imprensa, que pôde extravasar sobre os militares todo esse preconceito, sem em momento algum apontar a parcialidade da Comissão, que acabou conhecida, nos meios mais esclarecidos, como a Comissão da Meia Verdade.

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Eduardo Pazuello e Jair Bolsonaro| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mais recentemente, no início da pandemia de Covid, a imprensa escolheu como alvo para seus ataques, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que não por coincidência, é general do Exército Brasileiro.

Quando o mundo todo (cientistas inclusive), atordoado, não sabia como enfrentar a doença, o Ministério da Saúde, Pazuello à frente, procurava fazer seu melhor, com as asas tolhidas pelo Supremo Tribunal Federal, que retirou do governo federal e entregou aos dirigentes estaduais e municipais o poder de tomar medidas para combate à enfermidade.

Mas a imprensa — que havia poupado seu antecessor, o ortopedista Luiz Henrique Mandetta, o mais perdido de todos os ministros que enfrentaram a pandemia — culpava Pazuello por tudo de mau que ocorria no rastro da patologia, mesmo sem apontar objetivamente no que ele poderia estar falhando. Ele “encheu o Ministério de militares”, dizia uma colunista, como se isso agravasse a pandemia — e nada melhor que um militar para um momento de crise —, censurando Pazuello por ter convocado alguns colegas de farda para auxiliá-lo na dura tarefa.

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Para citar mais um exemplo, recentíssimo, faz-se uma enorme celeuma, pela imprensa, com a compra de Sildenafila (um fármaco usado em UTI nos casos de hipertensão pulmonar), que tem o mesmo princípio ativo do famoso Viagra, pelos hospitais das Forças Armadas, compra que esses jornalistas têm como indevida — alegam se tratar do Viagra — e superfaturada.

Os mesmos jornalistas, diga-se, que não cobraram e não cobram a abertura da caixa preta do BNDES, diante de cujos desvios, a compra da Sildenafila é apenas um ridículo infinitésimo.

Mais: na semana passada, uma jornalista de “O Globo” escarafunchava gravações do Superior Tribunal Militar de quase 50 anos atrás, na busca de indícios de tortura pretensamente feita pelos militares (todos já falecidos), embora pudesse investigar casos mais importantes e bem mais recentes, como o dos mandantes da tentativa de morte contra o presidente Jair Bolsonaro.

Os jornalistas de esquerda não gostam dos militares pelo 31 de março de 1964. Afinal, eles impediram que Jango levasse o país para a esquerda e, mais que isso, derrotaram os guerrilheiros que queriam repetir aqui a Sierra Maestra cubana. O próprio presidente Bolsonaro, por ter sido militar, carrega parte desse preconceito. Mas há algo mais que alimenta o preconceito, que a imprensa não conta, mas que vamos contar.

O Artigo 113, item 36, da Constituição Brasileira de 1934 rezava: “Nenhum imposto direto gravará a profissão de escritor, jornalista ou professor”. Embora esse artigo desaparecesse na Constituição de 1937 (A “Polaca”), na Constituição de 1946, lá estava ele outra vez, agora no artigo 203, e com redação equivalente: “Nenhum imposto gravará diretamente os direitos do autor, nem a remuneração de professores e jornalistas”.

Não se sabe como surgiu essa estranha isenção, que beneficiava apenas escritores, professores e jornalistas, profissões de relevância social não maiores que a de médico, policial ou bombeiro, estas últimas nunca contempladas com qualquer desobrigação. O injusto privilégio chamava a atenção dos demais contribuintes, mas ninguém se mexia. Os jornalistas, satisfeitos, não tocavam no assunto e aproveitavam. Afinal, não pagavam Imposto de Renda, IPTU e todos os demais impostos que sufocam a nós, os mortais. Executivo, Legislativo e Judiciário, por sua vez, não se arriscavam a desagradar os profissionais de imprensa. Por outro lado, malandros de outras profissões, que haviam obtido uma carteira de jornalista para se isentar de impostos, pululavam por aí.

E veio o regime militar, em março de 1964, que, por meio da Emenda Constitucional n° 9, de julho de 1964, acabou com a farra, dando ao artigo 203 nova redação: “Nenhum imposto gravará diretamente os direitos do autor, nem a remuneração de professores e jornalistas, excetuando-se das isenções os impostos gerais”. Ora, “impostos gerais” era o Imposto de Renda sobre proventos quaisquer, que os jornalistas, a partir daí, teriam que pagar.

O Regime Militar, já nos seus primórdios, atingia os jornalistas (e professores e escritores) em sua parte mais sensível: o bolso. Como reagiram os atingidos? Silenciosos e furiosos. Não é de admirar que vários jornalistas, que haviam apoiado o movimento militar, dele se distanciassem, depois disso. Foi o caso dos falecidos Otto Lara Resende, Otto Maria Carpeaux e Carlos Heitor Cony. Outros, esclarecidos, dos mais antigos que cobriram os acontecimentos do regime militar, não se abalaram e não demonstram preconceito, como J. R. Guzzo, Alexandre Garcia ou Augusto Nunes. Afinal, era um privilégio indevido que desaparecia. Alguns, também mais velhos, porém mais à esquerda, até hoje não escondem o preconceito. Ao esquerdismo somaram o baque da retirada da isenção dos impostos. Estão por aí, no “Estadão”, na Globo, no Uol, na “Folha de S. Paulo”, na mídia em geral, deitando falação. E há a turma dos mais novos, nesses mesmos órgãos, pertencente ao “progressismo” — novo nome do marxismo —, aquela que não estuda nem lê, e é encantada com chavões e palavras de ordem que aprendeu na faculdade, onde recebeu uma educação deficiente, que se deixa levar, e mesmo sem saber bem por que, embarca também no preconceito. Enquanto isso as organizações militares brasileiras — as Forças Armadas —, aparecem, em todas as pesquisas feitas avaliando as instituições nacionais, como as mais confiáveis. E os nossos militares ignoram solenemente esses preconceitos, o que deixa os preconceituosos ainda mais furiosos.