Objetivamente, o Brasil necessita, urgentemente mudar os rumos de sua educação, que não está direcionada como o foi nos países que apresentam as melhores condições de vida

A trajetória do homem sobre a Terra se resume na busca da sobrevivência em sociedade nas melhores condições individuais possíveis, sem perder de vista as condições daqueles que o cercam. É a busca do encontro entre o individual e o coletivo, entre o desejável e o possível, entre o egoísmo e o altruísmo. Em resumo, entre o polido e o selvagem, o civilizado e o primitivo.

A luta pela sobrevivência está escrita no código da natureza. É uma lei irrevogável sancionada pelo Poder Absoluto. Em outras palavras, é um mandamento divino, dogmático. Gênesis 3:19 – “Com o suor do teu rosto comerás o teu pão, até que voltes à terra, pois da terra foste formado, porque és pó e ao pó voltarás”. Mandamento indiscutível. Não se conhecem exceções. Para conviver, contudo, não basta apenas ganhar o seu pão. Ele deve existir também para os que convivem, devem existir as condições para que os outros também o ganhem.

O vagar pelo planeta por milhares de anos deixou na genética humana traços da selvageria das cavernas, que a civilização busca manter recolhida, pois ela é, em última análise, a negação da própria condição humana, a de animal que raciocina, a de homo sapiens.

Esse equilíbrio entre o civilizado e o primitivo, sempre instável, em toda história conhecida, só se conseguiu com o apoio da educação, com o esclarecimento, fazendo com que o poder cognitivo de cada um aumentasse, à medida que recuasse seu instinto selvagem. Sempre que se descuidou dessa vigilância, surgiu a barbárie, e a história, até recente, mostra exemplos. A tentativa de melhores condições de vida de um grupo social que não fosse pela civilização natural e gradativa e pela busca desse equilíbrio mutável, sempre resultou em desastre. A selvageria é parte da genética humana, vem do homem das cavernas, pode surgir a cada momento. Só para ficar na história moderna, foi a selvageria do governo otomano que provocou o genocídio armênio, em que foram assassinados quase dois milhões, durante a Primeira Guerra Mundial. Foi a barbárie nazista que provocou – e isso numa das sociedades mais civilizadas do mundo, a alemã – o Holocausto Judeu, na Segunda Guerra, em que foram executados seis milhões. E o Holomodor (Terror pela Fome) Ucraniano, com que o governo soviético fez morrer de inanição dez milhões de ucranianos, na década de 1930. A barbárie, mesmo não chegando ao extermínio, pode ser extremamente cruel, provocando miséria, fome e privação da saúde e da liberdade, como ocorre hoje na vizinha Venezuela, país rico, mas com uma população atingida pela pobreza em mais de noventa por cento. 

Como afastar a barbárie e fazer avançar a civilização? Como fazer que o homem viva melhor ao mesmo tempo em que vivem melhor seus semelhantes? É a grande pergunta. E a resposta não pode ser só filosófica. Há que ser também prática, objetiva. Tem que ser racional, mas deve se mirar em exemplos. E quer pelo raciocínio, quer pela observação, a resposta é única: O caminho para a sobrevivência harmônica da sociedade e para a melhoria da condição de existência passa pela educação. Educar e civilizar são sinônimos. Que o digam os países com melhor qualidade de vida.

E a educação é formal, é familiar e é religiosa. A educação formal, a que se aprende na escola, visa dar ao cidadão a profissão, isto é, as condições de desenvolver sua inteligência, para que sobreviva com seu trabalho, respeitando o trabalho dos que com ele convivem. Visa a prepara-lo para a escolha de seus líderes e capacitá-lo para uma vida com saúde, lazer e harmonia familiar e social. A compreender os fatos que lhe dizem respeito. A respeitar as leis. Já a educação familiar deve ter como objetivo mostrar a importância do afeto, do respeito, da limitação dos apetites e ambições e da importância da convivência dentro e fora de casa, onde a liberdade de um termina onde começa a do próximo. A educação familiar deve mostrar consideração pela velhice, pela fraqueza e pela natureza, incluídos nela todos os seres da criação. E deve enfatizar sempre a honestidade, a veracidade e os valores dos bons sentimentos e da boa cultura do corpo e do espirito. Deve salientar o equilíbrio entre direitos e deveres. Deve mostrar o valor das tradições. A educação religiosa, embora esteja na moda criticá-la, é responsável pela convivência social tanto quanto as outras duas. Não fosse importante a religião, ela não estaria presente em praticamente todos os lugares do mundo, e não teria exemplos de sobrevivência milenar, como conhecemos. Os Dez Mandamentos, das religiões abraamicas, fizeram mais pela paz social que os tratados de política.  A Regra de Ouro, de Confúcio, adotada e pregada pelo cristianismo – “Não faças aos outros o que não queres que te façam” – vale por todo um tratado de ética e moral. Como dizia Spencer: “O sentimento religioso contribuiu de alguma forma para o bem-estar da humanidade”. As doutrinas políticas que tentaram eliminar o sentimento religioso do meio social não o conseguiram, mesmo à custa de terríveis perseguições, e acabaram por fracassar inteiramente no seu intento. 

É evidente que o sucesso da educação, na sua meta de melhorar a sociedade, depende de quem educa: o professor, os pais, os religiosos. Se quem educa não é educado, forma-se um círculo vicioso, difícil de quebrar, e que mesmo quebrado demanda décadas para apresentar resultados. Mas chega de blábláblá, dirá o leitor. Sejamos objetivos. Sim, sejamos. 

Objetivamente, o Brasil necessita, urgentemente mudar os rumos de sua educação, que não está direcionada como o foi nos países que apresentam as melhores condições de vida. Há décadas, não visa formar cidadãos, mas militantes. Não consegue formar bons profissionais, mas faz analfabetos funcionais e não consegue fazer civilizados em convivência, mas antagonistas: empregados contra patrões, negros contra brancos, camponeses contra fazendeiros, civis contra militares, homens contra mulheres, professores contra alunos, homossexuais contra heterossexuais. Não desenvolve a inteligência, e até a confunde, como com a chamada “Ideologia de Gênero”. Nossa educação, por tudo isso, chegou aos mais baixos patamares da avaliação mundial. Pois se os professores não ensinam, os pais não aprendem e não sabem como educar, também. E os religiosos, principalmente na religião católica, outrora grandes educadores, vêm se afastando da educação tradicional, muitas vezes contaminados pelo “politicamente correto”, onde o ateísmo, quase sempre disfarçado, está presente. Padres e até bispos até adotam a “Pedagogia do Oprimido”, do comunista Paulo Freire, aceitam essa caricatura de ensino – logo toleram o ateísmo –, o que em um religioso só se pode explicar pela burrice, pela ignorância ou pela má-fé, ou seja, pela selvageria no seio da religião. Conhece-se o resultado: Não foi educado e tem a barbárie na alma o burocrata do ministério que frauda uma licitação e ganha propina com isso. Nem foi educado o político que além de ganhar os maiores salários da nação, ainda enche os bolsos com a corrupção. Não é selvageria do eleito ignorar o eleitor que luta para pagar seus impostos, muitas vezes tirando-os da mesa ou da educação dos filhos, e se locupletar deles? Não é barbárie roubar recursos da Saúde, importantes para a redução da mortalidade infantil e da proteção às crianças que muitas vezes vivem sobre palafitas insalubres? Esse político é educado, na verdadeira acepção do termo? É civilizado o juiz dos tribunais superiores que descura de suas funções e além disso acumula aos altos salários outras inúmeras vantagens, à custa do esforço de sua doméstica, de seu barbeiro ou do engraxate que lhe lustra os caros sapatos, e que pagam suas contribuições em dia, a duras penas? Se tudo isso acontece, é que nossa educação não está civilizando, mas contribuindo com a selvageria, com a rudeza. Em muitos países, onde se vive e se convive melhor que aqui, não é assim. Temos que mudar.