Repelente desenvolvido pela UFG é eficaz na prevenção à dengue e à febre maculosa
27 junho 2023 às 16h56
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A população brasileira está enfrentando um grande temor devido ao aumento no número de casos de febre maculosa e dengue, doenças transmitidas por insetos. Essa situação tem gerado um alerta para as autoridades de saúde, que buscam soluções eficazes para prevenir essas doenças. Entre as medidas de prevenção sugeridas por especialistas, destaca-se o uso constante de repelente. No entanto, no mercado nacional, ainda não existe um produto de uso diário simples que não exija reaplicação.
Para solucionar esse problema, os pesquisadores do Laboratório de Nanosistemas e Dispositivos de Liberação Modificada de Fármacos (NanoSYS), da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Goiás (UFG), em parceria com a Indústria Química do Estado de Goiás (Iquego), liderados pelos professores Ricardo Neves Marreto e Stephânia Fleury Taveira, desenvolveram um repelente com ação prolongada, segura e eficaz.
Esse novo repelente requer apenas uma aplicação diária e é eficaz no combate aos mosquitos, como o Aedes aegypti, transmissor da dengue, chikungunya e zika, e ao carrapato-estrela, transmissor da febre maculosa.
A principal característica desse repelente é minimizar a penetração dos ativos na pele, o que o diferencia dos produtos disponíveis atualmente no mercado e, consequentemente, aumenta a segurança da aplicação.
A pesquisa teve início em agosto de 2016, quando o Ministério da Saúde solicitou aos laboratórios oficiais o desenvolvimento de novos produtos para combater a epidemia de dengue e zika. O objetivo era encontrar um produto seguro para grávidas e crianças menores de dois anos, além de ser economicamente acessível.
Em maio de 2020, foi estabelecido um acordo de parceria para pesquisa, desenvolvimento e inovação entre a UFG e a Iquego. A Iquego contribuiu financeiramente com R$ 30 mil reais como contrapartida, além de receber apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG). O acordo previa o desenvolvimento e a produção em escala piloto de formulações semissólidas e líquidas contendo repelente de insetos.
Patente
Como resultado desse projeto de pesquisa, foram desenvolvidos sistemas dispersos e nanoestruturados para a liberação controlada do DEET, evitando o uso de solventes orgânicos e melhorando sua eficácia e segurança.
Como resultado, foi feito um pedido de patente intitulado “Composição e método para reduzir a permeação cutânea de substâncias repelentes na pele, aumentando a segurança e eficácia de formulações repelentes de mosquito e carrapato” (BR 10 2023 012382 1), de propriedade conjunta da UFG e da Iquego (50% cada).
A próxima etapa é a produção em escala industrial do novo repelente pela Iquego, o que deve ocorrer em aproximadamente um ano. No entanto, para que isso seja possível, são necessários investimentos nessa indústria.
“Ainda precisamos de recursos para os estudos de formulação e desenvolvimento da plataforma produtiva na Iquego, para que possamos produzir em escala que atenda o SUS. Estimamos que seja necessário um investimento na ordem de R$ 10 milhões”, pontua José Carlos dos Santos.
“O investimento deve gerar uma economia inestimável na política de controle de vetores do país, sendo o primeiro produto comprovadamente eficaz contra mosquitos e carrapatos estrela (causador da febre maculosa). Trata-se de um repelente com características superiores e com custo equivalente ou menor àqueles encontrados no mercado. Tal inovação alcança benefícios para a universidade, para o estado, e principalmente, para o SUS e para a sociedade brasileira”, completa.
Dados
Segundo os dados do Ministério da Saúde, no período de janeiro de 2013 a 14 de junho de 2023, o Brasil apresentou 2.059 casos de febre maculosa, resultando em um total de 703 óbitos, sendo 8 deles ocorridos neste ano.
A febre maculosa é uma enfermidade infecciosa causada pela picada de uma das espécies de carrapato, transmitida por uma bactéria. Em relação à dengue, doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, o Brasil registrou, de janeiro a junho deste ano, 1.379.983 casos, com 635 mortes.