Opção cultural

Mais um Playlist Opção para a sua noite de sexta-feira! Aperte o play e se divirta. https://www.youtube.com/watch?v=_40V2lcxM7k https://www.youtube.com/watch?v=KDz5wVc-4QI https://www.youtube.com/watch?v=s1Kkl6jd9-Y&feature=youtu.be https://www.youtube.com/watch?v=S_7jacG2KsY https://www.youtube.com/watch?v=D7krrRoJpT0 https://www.youtube.com/watch?v=StYsZqLkuPI https://www.youtube.com/watch?v=AI6nIJ-anYQ

Renato Mendonça Lucas dá tratamento dramático a texto de Pe. Vieira em que é relatado seu debate com outro padre jesuíta, Jerônimo Cattaneo, ocorrido em 1674, a respeito do pensamento dos filósofos gentios Demócrito e Heráclito
[caption id="attachment_93453" align="alignleft" width="620"] Cartaz de divulgação do espetáculo "Antinomia"[/caption]
Nos próximos dias 5, 6, às 21h, e no dia 7, às 20h, ocorrem, no Teatro Goiânia, apresentações do espetáculo “Antinomia”, produzido pelo Gradiva Centro Cultural, pela Associação dos Amigos do Art Film Festival, de Asolo-Itália (AFA) e pelo Núcleo Freudiano de Psicanálise em Goiânia. A direção está a cargo do psicanalista Renato Mendonça Lucas, que também atuará, junto com Celso Rabelo.
O espetáculo tem como base o texto O Pranto e o Riso, ou as lágrimas de Heráclito defendidas em Roma pelo padre Antônio Vieira contra o riso de Demócrito, de autoria do próprio Pe. Vieira, escrito em decorrência do debate travado no palácio da rainha Cristina da Suécia, em Roma, com o padre Jerônimo Cattaneo, em 1674.
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Padre Antônio Vieira[/caption]
Este debate entre dois padres pertencentes à Societas Jesu, Companhia de Jesus, na corte da rainha Cristina Alexandra, foi incitado pela própria rainha. O mote lançado por Cristina aos dois jesuítas na seguinte pergunta: “Qual dos dois gentios andara mais prudente? Demócrito, que ria sempre, ou Heráclito, que sempre chorava?”
A questão lançada versava, evidentemente, sobre o modo como cada um dos filósofos gregos pré-socráticos compreendiam a condição humana, sempre temperada pelo finito e o eterno, o contingente e o imutável.
Curiosamente, a rainha Cristina solicitou este debate num momento em que havia abdicado do trono de sua nação e abandonado a religião luterana, tendo-se convertido ao catolicismo.
A proposta de Renato Mendonça Lucas e do Gradiva Centro Cultural com “Antinomia” é semelhante àquelas que já foram levadas a cabo com rara maestria em espetáculos como “Laio”, “Entre 4 paredes” e “Entre 5 poetas”, qual seja: apresentar o texto clássico com dramaticidade peneirada pela psicanálise freudiana.
A própria escolha da palavra antinomia, de certa forma, revela esta preocupação, já que significa contradição entre visões doutrinárias ou prescritivas sobre determinado assunto – fenômeno que sempre esteve presente no seio da humanidade, desde os tempos mais remotos.
É de se esperar, portanto, um clima inquietante, no qual serão apresentadas reflexões profundas sobre nossa condição. Reflexões estas que serão debatidas com o público, após o espetáculo.
Abaixo, disponho um trecho do texto do Pe. Vieira. Em seguida, segue a parte do filme Palavra e Utopia (2000), do cineasta português Manoel de Oliveira, que retrata o referido debate, com o ator Luís Miguel Cintra interpretando Vieira.
Trecho do texto de Pe. Vieira
Há chorar com lágrimas, chorar sem lágrimas e chorar com riso: chorar com lágrimas é sinal de dor moderada, chorar sem lágrimas é sinal de maior dor; e chorar com riso é sinal de dor suma e excessiva... a dor moderada solta as lágrimas, a grande as enxuga, as congela, e as seca... A mesma causa, quando é moderada, e quando é excessiva, produz efeitos contrários: a luz moderada faz ver, a excessiva faz cegar; a dor, que não é excessiva, rompe em vozes, a excessiva, emudece. De sorte a tristeza, se é moderada, faz chorar, se é excessiva, pode fazer rir; no seu contrário temos o exemplo: a alegria excessiva faz chorar e não só destila as lágrimas dos corações dedicados e brandos, mas ainda dos fortes e duros. (...) Pois se a excessiva alegria é causa do pranto, a excessiva tristeza por que não será causa do riso e a ironia tem contrária significação do que soa; o riso de Demócrito, era ironia do pranto; ria, mas ironicamente, porque o seu riso era nascido de tristeza, e também a significava; eram lágrimas transformadas em risos metamorfoseados da dor; era riso, mas com lágrimas;(...).”Trecho do filme “Palavra e Utopia”, de Manoel de Oliveira https://www.youtube.com/watch?v=Ipi-OwksfTU Serviço Antinomia Dias: 5, 6 e 7 de maio Horários: 21h (dias 5 e 6) e 20h (dia 7) Direção: Renato Mendonça Lucas Local: Teatro Goiânia Obs: Vendas antecipadas na LIVRARIA NOBEL/shopping Bougainville (somente em dinheiro) e no ESPAÇO VIP, rua 18 nº 127, setor oeste - em frente a antiga sede da TV Record - ( em dinheiro e débito automático).

Novo filme de Olivier Assayas foi vaiado em Cannes, mas aplaudido na première e isso só mostra uma coisa: que quem pretende ver o filme, precisa manter a mente aberta
[caption id="attachment_93277" align="alignleft" width="620"] Kristen Stewart dá vida à personagem Maureen Cartwright, uma pessoa que gostaria de ser outra, mas sem a certeza exata de quem[/caption]
Numa primeira vista, "Personal Shopper" (2016), o filme mais recente de Olivier Assayas, parece um exercício burocrático de uma aula de roteiro da faculdade. "Faça um roteiro envolvendo o mundo da moda, com fantasmas e colocando uma pitada de drama e thriller psicológico". Mas o roteirista e diretor francês, famoso por nos apresentar "Acima das Nuvens" com Juliette Binoche, em 2014, consegue sair do convencional, entregando uma estória envolvente até o ponto em que consegue ligar esses elementos aparentemente desconexos.
Como o próprio título entrega, o filme é inteiramente escorado em Maureen Cartwright (vivida por Kristen Stewart), contratada por uma celebridade francesa local para cuidar de seu guarda-roupas. A única missão de Maureen é percorrer as lojas mais famosas de Paris (aliás, chega a dar um pulo em Londres também) comprando roupas, sapatos e jóias para compor o visual de sua patroa. Sem limites no cartão de crédito.
O que pode parecer divertido para muitos, entretanto, é uma tarefa extremamente enfadonha para a garota. Aliás, nesse ponto convém ressaltar a boa atuação de Kristen. Na sua carreira, em geral criticada pela inexpressividade e falta de adensamento psicológico na interpretação de seus personagens, a atriz agora convence no papel de uma jovem inexpressiva e corroída por uma vida vazia (há quem diga que Stewart continua a interpretar a si mesma, algo que demandaria uma análise mais detalhista. O fato é que, aqui, ela funciona até bem).
Maureen, entretanto, busca algo mais em sua vida. Gostaria de ser outra pessoa, mas não tem certeza de quem. Coloca um olho comprido para cima dos glamourosos vestidos que compra para sua patroa, mas não se sente bem usando-os. Aliás, os veste escondida, puramente pelo prazer da adrenalina. Comprar um colar Cartier lhe é tão vazio quanto bater o cartão de ponto no final do expediente.
Esse algo que falta na vida de Maureen provavelmente tem ligação com a morte de seu irmão Lewis, poucos meses antes, em decorrência de um mal súbito no coração. E aí surge uma dimensão diferente dada por Assayas ao longa – algo que incomodou os mais altos críticos de Cannes, onde o filme foi exibido pela primeira vez, no ano passado.
Maureen e seu irmão Lewis possuem o dom sobrenatural de manter contato com espíritos. São médiuns. E combinaram, enquanto vivos, que o primeiro que se fosse enviaria um sinal ao que ficasse. O irmão se foi, e 95 dias depois do passamento, a irmã ainda não havia obtido nenhum sinal do além.
Assayas, o roteirista, escolhe flertar com David Lynch e Stephen King, mas Assayas, o diretor, talvez tenha preferido tirar suas influências de Kubrick e Shyamalan. O resultado é um filme que, sem dúvidas, dá uma série de calafrios ao espectador, mas que acrescenta certa reflexão ao suspense. A constante utilização de uma fotografia mais densa, aliada à câmera na mão, traz a sensação de susto eminente. Mas isso não afasta o aprofundamento à crítica social do materialismo e da ostentação como formas de preenchimento existencial.
"No fundo, todo mundo acredita em fantasmas, mas damos a eles nomes muito diferentes", declarou Assayas em Cannes, no ano passado. E o que ele quer dizer, basicamente, é que o meio imaterial – o que quer que isso seja – sempre prevalece ao material – qualquer que ele seja. O segundo é mero instrumento do primeiro. A busca de Maureen ao tentar se livrar do que ela é talvez se resolveria com a confirmação de que o irmão está bem, num mundo além. Confirmando essa busca pelo imaterial, aliás, a cena em que Kristen veste-se com as roupas da patroa e deita em sua cama traz um significado especial: a tentativa de despir-se de sua realidade e experimentar outra pele. O que culmina no prazer orgásmico.
Aliás, algo interessante que Assayas incorpora em seu filme é a presença da tecnologia. Num contexto em que sua protagonista está se afogando num mar de itens de luxo, com um pé numa vida de ostentação, mas com o resto do corpo perdido num apartamento escuro de subúrbio, a desmaterialização é mostrada também em videoconferências pela internet, pequenos filmes explicativos de YouTube e numa troca de mensagens de celular.
A certo ponto, chegamos a acompanhar minutos a fio de um diálogo tenso, sem piscar, vidrados na tela do smartphone de Maureen. O intertexto de mídias acena para a evolução do próprio cinema (é engraçado pensar que, na cena dos vídeos de YouTube, todos os espectadores do filme – inclusive os críticos de Cannes – assistiram a uma micro-projeção diretamente do iPhone 6 de Maureen).
De certa forma, todo mundo busca salvação no invisível. Damos um jeito de atribuir ao oculto a origem e a solução de tudo o que não entendemos e, nesse processo, surge a impressão nítida de que a matéria nos prende, limita nossas impressões sobre a realidade. Sendo algo limitador, até quando exerce também interferência? "Quando os monstros da sua cabeça estão muito perto, sua sanidade pode entrar em colapso", declarou a própria Kristen sobre o filme, em Cannes.
Apesar de vaiado pelos críticos na competitiva pela Palma de Ouro, foi ovacionado por mais de 4 minutos pelo público, após a première. E se o público e a crítica de Cannes não conseguiram chegar a um consenso sobre a obra, talvez seja esse o melhor conselho sobre o que esperar do filme: não espere nada. Mantenha a mente aberta e deixe-se surpreender.
O filme está em exibição no Cine Cultura, na Praça Cívica, e terá uma sessão nesta quarta-feira, 3, às 16h30, e quatro sessões adicionais, de 7 a 10 de maio, também às 16h30.

[caption id="attachment_93257" align="alignleft" width="159"] Rainer Maria Rilke[/caption]
A Terça Poética de hoje traz ao público três traduções, feitas por tradutores já consagrados pela crítica, no Brasil, do célebre poema Spanische Tänzerin, de Rainer Maria Rilke (1875-1926), um dos maiores poetas de língua alemã. Os tradutores em questão são: José Paulo Paes, Augusto de Campos e Geir Campos.
Quem se arrisca (aqueles que entendem do riscado) a dizer qual delas é a mais fiel ao original, qual a mais fluida?
Enfim, apreciem!
Spanische Tänzerin
Wie in der Hand ein Schwefelzündholz, weiß,
eh es zur Flamme kommt, nach allen Seiten
zuckende Zungen streckt -: beginnt im Kreis
naher Beschauer hastig, hell und heiß
ihr runder Tanz sich zuckend auszubreiten.
Und plötzlich ist er Flamme, ganz und gar.
Mit einem Blick entzündet sie ihr Haar
und dreht auf einmal mit gewagter Kunst
ihr ganzes Kleid in diese Feuersbrunst,
aus welcher sich, wie Schlangen die erschrecken,
die nackten Arme wach und klappernd strecken.
Und dann: als würde ihr das Feuer knapp,
nimmt sie es ganz zusamm und wirft es ab
sehr herrisch, mit hochmütiger Gebärde
und schaut: da liegt es rasend auf der Erde
und flammt noch immer und ergiebt sich nicht -.
Doch sieghaft, sicher und mit einem süßen
grüßenden Lächeln hebt sie ihr Gesicht
und stampft es aus mit kleinen Füßen.
Rainer Maria Rilke, Jun. 1906, Paris
TRADUÇÕES
Bailarina Espanhola
Como um palito de fósforo na mão, alvar
antes de, aceso, estender suas línguas ardentes
para todos os lados – a dança circular
de junto do espectador começa a alargar
seus círculos, clara, célere e cálida sempre.
E eis que de súbito se faz chama a dança inteira.
Com o olhar, a bailarina inflama a cabeleira
e, com a arte ousada, de um só golpe distende o
seu vestido todo num rodopiar de incêndio
do qual, serpentes, em desnudez e susto vão
surgir os braços despertos, num bater de mãos.
Depois, como se fosse pouco, ela junta o fogo
e o atira para longe, num gesto de arrogo,
repentino, imperioso, e contempla, enlevada,
ele estorcer-se no chão, sempre, sem perder nada
da sua fúria, numa recusa de apagar-se.
Triunfante e segura, com um sorriso amável,
ela saúda então, ergue o rosto e sem disfarce
o esmaga com seus pezinhos implacáveis.
(Tradução: José Paulo Paes)
Dançarina Espanhola
Como um fósforo a arder antes que cresça
a flama, distendendo em raios brancos
suas línguas de luz, assim começa
e se alastra ao redor, ágil e ardente,
a dança em arco aos trêmulos arrancos.
E logo ela é só flama, inteiramente.
Com um olhar põe fogo nos cabelos
e com a arte sutil dos tornozelos
incendeia também os seus vestidos
de onde, serpentes doidas, a rompê-los,
saltam os braços nus com estalidos.
Então, como se fosse um feixe aceso,
colhe o fogo num gesto de desprezo,
atira-o bruscamente no tablado
e o contempla. Ei-lo ao rés do chão, irado,
a sustentar ainda a chama viva.
Mas ela, do alto, num leve sorriso
de saudação, erguendo a fronte altiva,
pisa-o com seu pequeno pé preciso.
(Tradução: Augusto de Campos)
Dançarina Espanhola
Tal como um fósforo na mão descansa
antes de bruscamente arrebentar
na chama que em redor mil línguas lança –
dentro do anel de olhos começa a dança
ardente, num crescendo circular.
E de repente é tudo apenas chama.
No olhar aceso ela o cabelo inflama,
e faz girar com arte a roupa inteira
ao calor dessa esplêndida fogueira
de onde seus braços, chacoalhando anéis,
saltam nus como doidas cascavéis.
Quando escasseia o fogo em torno, então
ela o agarra inteiro e o joga ao chão
num violento gesto de desdém,
e altiva o fita: furioso e sem
render-se embora, sempre flamejando.
E ela, com doce riso triunfal,
ergue a fronte num cumprimento: e é quando
o esmaga entre os pés ágeis, afinal.
(Tradução: Geir Campos)

Ao lado dos grupos Death From Above, Lobinho e os 3 Porcão, Ímpeto, Os Cabeloduro (DF) e Desastre, o quarteto de Birmingham se apresenta no Martim Cererê

Se Pilar reclama a certa altura a presença de Saramago como maldição incontornável, talvez interesse muito mais anotar como ela afirma a si mesma biográfica e politicamente
[caption id="attachment_93206" align="aligncenter" width="620"] Jornalista e escritora espanhola Pilar del Río[/caption]
Thiago Cazarim
Especial para o Jornal Opção
Na manchete da entrevista Pilar del Rio: “José foi uma maldição”, que pode ser acessada aqui, publicada no último dia 30, o portal português Expresso produz, apenas como fogo-de-artifício, um conflito José Saramago e Pilar del Río – conflito em verdade, que até mesmo uma leitura superficial seria capaz de desacreditar. Pilar, que se nega a ser uma função de Saramago (“Não gosto que me chamem ‘viúva de’ porque ninguém me chamou ‘mulher de’ enquanto Saramago foi vivo. [...] Nunca fui a mulher de Saramago nem serei a viúva dele, por respeito a Saramago e a mim própria.”), Pilar del Río, cuja forma sintática geral “ser-X-de-Saramago” não pode sequer alcançar, não deixa de mostrar como a estatura de Saramago eclipsa um drama personalíssimo e ao mesmo tempo universal: o da mulher sem lugar no mundo. Pilar se constrói, nesta brilhante entrevista, como emblema da falta, dessa marca oca que ainda constitui para tantas mulheres cruz e calvário. Ou seria o oposto?
Se Pilar reclama a certa altura a presença de Saramago como maldição incontornável, talvez interesse muito mais anotar como ela afirma a si mesma biográfica e politicamente. Num período vasto, atravessando uma História que vai do franquismo ao presente, Pilar faz atravessar uma segunda História junto com a primeira, por meio da qual precisamente a tríade Deus-Pátria-Família, sustentáculo das ditaduras ocidentais, são roídas por dentro em cada um de seus elementos.
Filha mais velha de quinze irmãos, carregou a maldição de dividir com a mãe o cuidado com uma prole que não a sua. Maldição que forjou para si o benefício de uma maturidade prematura. Maldição cujo benefício a jornalista não rejeita – mas que tampouco lhe serve de bode expiatório para explicar a si mesma como mãe: “Fui uma má mãe, porque sempre pensei que seria a vida a educar o meu filho e não eu. Nunca pensei no que queria ser como mãe, tinha outras coisas que fazer”. Nas inúmeras linhas-de-fuga de sua biografia, Pilar dá a entender enfim porque não se pode entender sua relação com Saramago no modelo de família tradicionalmente aceito. Família, esta maldição ainda maior que a de Saramago, esbarra sempre na compreensão equivocada de ser-um, rejeitada de cara quando Pilar diz que “tinham de enfrentar Saramago e tinham de me enfrentar a mim. Cada um de nós é o produto de si próprio. Não somos nem do pai nem do filho. Somos o que queremos ser”.
A afirmação de sua independência em relação a Saramago e à Pátria (espanhola ou portuguesa) convergem para evidenciar uma estratégia de existência de rara sagacidade e eloquência. Pilar, que parece se debater contra a constatação de que é uma personalidade sem lugar na memória portuguesa, mulher que também não encontra no pai e na ditadura de Franco qualquer possibilidade de negociação e convivência, tampouco construiu sua vida escapando da História que não lhe concedeu morada. É dessa falta de lugar, é nesse não-lugar, que ela escolhe jogar com todos os lugares delimitados para fazê-los estremecer.
Dois vértices dessa convergência são exemplares. O primeiro, político, questiona a ideia de Pátria pela constatação do falseamento histórico-teológico da Espanha sob o regime de Franco, do qual a família participou como cúmplice ativo: “Em criança sabia que vivíamos num país criado por obra e graça de Deus. Sabia que Deus tinha criado Franco para fazer o país preferido dele”; “já o tinha aprendido em casa: Deus criou Franco e Espanha!”. E se Pilar adotou Portugal como seu país ao requerer cidadania portuguesa, o fez não por um sentimento de pertencimento nacional ou simbólico, mas tão somente para escolher a quem deveria pagar seus impostos – o que lhe permitiu, de acordo com ela mesma, adquirir reconhecimento jurídico para opinar sobre os rumos do país. (“Para mim, não existem países. Tenho semelhantes. O que é que herdei do franquismo? A repulsão pela bandeira.”)
O segundo pilar da existência de Pilar, biográfico, expressou-se na opção pragmática pelo casamento religioso “para não dar um desgosto à minha mãe, que vivia uma guerra civil e não tinha de suportar as iras do meu pai. Porém, a palavra ‘família’ provoca-me fastio, repugna-me. [...] Fi-lo para não aumentar o conflito entre a minha mãe e o meu pai. Para mim, era igual, queria lá saber da religião. Casei-me pela Igreja porque a religião não me dizia nada. Era como pôr um vestido comprido para ir a uma festa social ou usar uma joia, tanto me fazia. Deus não significa nada para mim”. Casou-se não por convicção religiosa, mas por uma aguda sabedoria prática que compreende seus limites provisórios sem ceder passivamente a eles.
Pilar aceita duas vezes as regras de um jogo que ela buscou subverter. Duas vezes, uma pela denúncia da hipocrisia política do nacionalismo, outra por um sentido prático de vida que transborda os limites da família, Pilar põe na mira um mesmo réu: Deus. Ainda que afirme que redescobriu um sentido de religião que preenche sua vida (religião como amor, caridade, partilha, solidariedade), Deus é a figura à qual Pilar não cede, mas de quem tampouco escapa: “Se há um Deus, ele vai perceber que tudo o que inventaram à sua volta é uma merda. Quero que haja um Deus para lhe pedir contas sobre o que fez aos seres humanos, às mulheres”. Quando chama Deus para Seu julgamento, o que ela faz adquire o mesmo sentido de sua relação com Saramago: não aniquilá-Lo, não fundi-Lo com seus pares para aliviar o peso sua singularidade; antes, afirmá-Lo no nível de sua própria existência, fazer com que Ele dê um relato, explique a responsabilidade que Lhe compete por aquilo que outros o incitaram a assumir como Sua obra. Trata-se de se negar a fugir de Deus, desejar que Ele exista para destituí-Lo de sua toga e fazer com se tome assento no banco dos julgados (e isso no momento em que a Ele competiria emitir juízo).
Talvez seja o momento também de Portugal prestar contas a Pilar pela parte que lhe cabe na maldição de Saramago. Não simplesmente por tornar Saramago ainda mais insuperável do que de fato pode ser e será um dia. Mas por ainda não conferir a Pilar a dignidade na vida cultural portuguesa que lhe é merecida. Que o Prêmio Luso-Espanhol de Cultura que lhe será entregue em maio em ocasião de seu trabalho na Fundação Saramago faça mais que lhe dar um lugar na memória de Portugal: que ele saiba acolher esse não-lugar e todos os terremotos que a vida pública de Pilar del Río têm dado à cultura da Europa e do mundo. Assim como Pilar não escapa de Deus, talvez também Portugal não deva escapar dessa memória falha: somente afirmando a fragilidade de quem não tem lugar é que se pode exigir que se preste contas pelas faltas cometidas.
Thiago Cazarim é bacharel em música e mestre em filosofia.

Filme de Richard Linklater desperta o interesse daquele espectador disposto e preparado a pensar
Ana Paula Carreiro
Especial para o Jornal Opção
Em “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (2001), dirigido por Jean-Pierre Jeunet, em determinado momento é dito a Amélie, uma jovem sonhadora, a seguinte frase: “São tempos difíceis para os sonhadores”. Esta frase, apenas um pouco diferente, se repete em “Waking Life” (2001), quando outro sonhador encontra a personagem principal e afirma: “As coisas andam difíceis para os sonhadores”.
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Com roteiro não linear e extremamente denso, o filme, que é dirigido pelo cineasta e escritor norte-americano Richard Linklater, retrata as experiências de alguém que não consegue acordar de um sonho e que passa a encontrar pessoas em seu mundo imaginário com quem têm diálogos e discussões existenciais.
O longa-metragem, que foi filmado com atores e depois finalizado através do rotoscópio para simular a animação em flash, começa com a seguinte frase: “Sonho é destino”, mostrando a longa viagem feita pela consciência na tentativa de compreender a vida.
Além de ser uma experiência cinematográfica, “Waking Life” é também uma experiência filosófica que trata, dentre outros assuntos, do existencialismo de Jean-Paul Sartre e dos pensamentos de Aristóteles, Platão e Nietzsche. Em um dos primeiros diálogos do filme, encontramos Ethan Hawke e Julie Delpy discutindo sobre a sensação de que estamos observando nossa vida da perspectiva de uma velha à beira da morte, como se a vida desperta fosse composta por lembranças e os seis a doze minutos de atividade cerebral depois que tudo se apaga fossem toda a nossa vida.
Trechos do próprio filme explicam à personagem principal o motivo de sonhos serem confundidos com a realidade:
“Dizem que os sonhos somente são reais enquanto duram. Não podemos dizer isso da vida? Muitos de nós estão mapeando a relação mente-corpo dos sonhos. Somos chamados onironautas, exploradores do mundo onírico. Há dois estados opostos de consciência, que de modo algum se opõem. Na vida desperta, o sistema nervoso inibe a vivacidade das recordações. É coerente com a evolução. Seria pouco eficiente se um predador pudesse ser confundido com a lembrança de um outro e vice-versa. Se a lembrança de um predador gerasse uma imagem perceptiva, fugiríamos quando tivéssemos um pensamento amedrontador. Nossos neurônios serotonínicos inibem as alucinações. Eles próprios são inibidos no sono REM. Isso permite que os sonhos pareçam reais, mas bloqueia a concorrência de outras percepções. Por isso os sonhos são confundidos com a realidade. Para o sistema funcional de atividade neurológica, que cria o nosso mundo, não há diferença entre uma percepção, ou uma ação sonhada e uma percepção, e uma ação na vida desperta”.
Em vários trechos, pode-se observar também críticas à sociedade atual: “Se o mundo é falso e nada é real, então tudo é possível. A caminho de descobrir o que amamos, achamos o que bloqueia o nosso desejo. O conforto jamais será confortável. Um questionamento sistemático da felicidade. Corte as cordas vocais dos oradores carismáticos e desvalorize a moeda. Para confrontar o familiar. A sociedade é uma fraude tamanha e venal que exige ser destruída sem deixar rastros. Se há fogo, levaremos gasolina. Interrompa a experiência cotidiana e as expectativas que ela traz. Viva como se tudo dependesse de suas ações. Rompa o feitiço da sociedade de consumo para que nossos desejos reprimidos possam se manifestar. Demonstre o que a vida é e o que ela poderia ser. Para imergirmos no esquecimento dos atos. Haverá uma intensidade inédita. A troca de amor e ódio, vida e morte, terror e redenção. A afirmação tão inconsequente da liberdade, que nega o limite”.
A estética chama a atenção, mas “Waking Life” não é um filme para todos os públicos. A temática é bastante densa e exige do telespectador atenção, sendo assim recomendado que se assista o filme mais de uma vez para absorver tudo o que é passado.
Por ser um filme todo construído em diálogos quase socráticos, ele provavelmente será um pouco chato e entediante para pessoas que gostam de filmes com muita ação. No entanto, para os que se interessam em discursos fortes, o filme é uma boa fonte de informação sobre humanidades que vão da antropologia às artes e cultura.
O filme desperta o interesse do espectador disposto e preparado a pensar. A questão existencial e a linha tênue que separa o sonho da realidade são os seus aspectos mais marcantes. Se você quer desfrutar de uma animação rica em todos os sentidos, assista “Waking Life” e tenha uma ótima experiência.
Ana Paula Carreiro é estudante de Jornalismo

Sim, este é melhor que o primeiro e, talvez, o melhor filme da Marvel até o momento
Ana Amélia Ribeiro
Especial para o Jornal Opção
Preciso começar esse texto dizendo que, sim, “Guardiões da Galáxia Vol. 2” é melhor que o primeiro, quiçá melhor filme da Marvel. Além de ser um pouco repugnante e nojento (Calma, já explico). Em 2014, a Marvel iniciou sua segunda fase no Universo Cinematográfico (MCU) e “Guardiões da Galáxia” era um filme que não chamava muita atenção do grande público, porque mostrava, na época, uma espécie de “heróis B” dos quadrinhos.
Depois de sua estreia, o longa chamou a atenção do público por ser diferente. Com a direção de James Gunn, o filme conta a história de um grupo de “super-heróis” formado por: Senhor das Estrelas, Peter Quill (Chris Pratt), Groot, uma árvore humanóide (Vin Diesel), o guaxinim Rocket Racoon (Bradley Cooper), Gamora (Zoe Saldana), e Drax, o Destruidor (Dave Bautista). Juntos, eles lutaram para proteger um orbe que continha uma das Joias do Infinito contra o vilão Ronan, da raça kree, que é um servo de Thanos.
O filme seguiu à risca a fórmula de sucesso da Marvel no cinema, indo na contramão de tudo que foi produzido até então fora do MCU, e teve a quinta maior arrecadação dentre os filmes desse universo, ficando atrás apenas dos dois “Vingadores”, “Homem de Ferro 3” e “Guerra Civil”. Já em “Guardiões da Galáxia Vol. 2” não há Joias do Infinito, nem muitas referências ao MCU – é apenas um grupo de desajeitados aprendendo a trabalhar em equipe enquanto se solidificam e se constroem como família.
“Guardiões” é basicamente um drama familiar, com altas doses de ironias e humor, mas sem ser piegas, embora um pouco clichê. O filme mostra a construção de relacionamentos, desde o amoroso com o “lance não verbalizado” entre Peter e Gamora, passando pela amizade com Rocket e Yondu (Michael Rooker), e chegando ao duelo e rivalidade entre as irmãs Gamora e Nebula (Karen Gillan). E ainda há o mais pesado de todos os laços: o paternal entre Peter e Ego (Kurt Russel).
James Gunn é o diretor e roteirista que articula todas essas histórias de forma simultânea e de maneira surpreendente. O fato de usar o Planeta Vivo Ego como pai do Senhor das Estrelas, por exemplo, foi uma surpresa para todos que são leitores de quadrinhos. O motivo é simples: Ego é uma personagem recorrente do “Quarteto Fantástico” nas HQs, e o Quarteto não pertence ao MCU, visto que seus direitos são da FOX. Quando Gunn escreveu o roteiro de “Guardiões”, ele não sabia que o personagem que viria a ser interpretado por Kurt Russel não era do casting que ele tinha disponível das personagens, e isso já tinha acontecido no primeiro filme, quando ele quis usar a raça alienígena dos Badoons – que também tem origem no Quarteto Fantástico –, e acabou tendo de substituir a Irmandade pela raça Kree no filme. E como James Gunn conseguiu autorização para usar Ego? A resposta é: Deadpool.
Paul Wernick, o roteirista do filme do mercenário tagarela, revelou em uma entrevista que, enquanto escrevia a trama do longa, acabou modificando os poderes da personagem Negasonic Teenage Warhead (Brianna Hildebrand). Nas HQs, a moça tem poderes psíquicos e isso não se encaixava ao que Tim Miller, o diretor do filme, queria para a história. Então, eles pediram autorização da Marvel, que concedeu a mudança, mas (porém, contudo, entretanto, todavia) colocaram uma condição para entrar em acordo: ganhar um personagem em troca. Que personagem foi esse? Ego, o Planeta Vivo.
James Gunn poderia ter optado pelo caminho mais fácil, e ter utilizado o personagem J’son Spartax, que teve um conflito com Ronan nas HQs, e que atualmente nos quadrinhos é o pai de Peter, mas preferiu inovar. Quando se escreve um filme sobre HQs, o leque de histórias é extenso, pois os enredos vão se alterando com os novos arcos criados, e novas Terras que vão surgindo. E desde a origem de Peter muita coisa mudou: ele já foi filho de Ego, e atualmente é filho de J’son.
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James Gunn, diretor do filme[/caption]
Se James Gunn tivesse usado o Rei Spartax no filme, ele teria que trabalhar diretamente no MCU, e o diretor de “Guardiões” quis fazer um filme que fosse outsider do universo; mesmo citando Thanos algumas vezes, ele não queria trabalhar tantas personagens assim e, usando J’son no enredo da trama, ele teria que trabalhar com o Rei Titã. Não era essa a intenção.
De forma geral na história de “Guardiões”, chega um ponto em que há muitos personagens. James Gunn disse, em entrevista ao site “/Film”, achar que os irmãos Anthony e Joseph Russo, em “Guerra Civil”, lidaram muito bem com esse tipo de situação de muitos personagens em cena, mas reconheceu que em “Guardiões” os personagens eram menores, e que durante o longa cada um teria seu próprio arco, sua própria “coisa”. Pensando assim, ele então tirou alguns personagens da história mais ou menos na metade da fase de tratamento.
Foi esse o filme que chegou aos cinemas no dia 27 de abril, cheio de referências ao universo espacial da Marvel, com os galãs brucutus dos anos 80, Baby Groot sendo fofo, nostalgia de videogames e, claro, uma trilha sonora do caramba. Então, agora que você já sabe de tudo o que aconteceu para que esse filme chegasse até aos cinemas, vamos ao que realmente interessa.
A corrente, a família e elo chamado Yondu
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Easter eggs e cenas pós créditos

A grande virtude de Guardiões da Galáxia Vol.2
James Gunn trouxe às telas do cinema uma Space Opera de 2h17min, e fez tamanho esforço para parecer uma brincadeira, que você fica empolgado do início ao fim. As piadas, participações especiais, os fanservices sobre a cultura pop, easter eggs, cenas bastante coloridas de batalhas espaciais, trilha sonora sincronizada ao enredo do filme. O diretor e roteirista conseguiu trabalhar os dramas familiares durante a história do filme sem ficar chato, e isso é incrível. O longa consegue ser uma grande discussão de relacionamento e é divertido, apesar do que está sendo abordado ali ser considerado temas pesados por muitos. O pai ausente, competição entre irmãos, o filho rebelde e as incertezas de ser aceito como é em uma família recém-formada. E James Gunn consegue falar de tudo isso com bastante humor e sensibilidade, sem deixar a narrativa cansativa, e isso é um grande mérito dele. "Guardiões da Galáxia" é um filme repugnante e nojento, porém possui uma beleza interior bastante reflexiva - James Gunn dirigirá e escreverá o roteiro de "Guardiões da Galáxia Vol. 3", mas os nossos heróis espaciais ainda vão aparecer em "Vingadores – Guerra Infinita" no ano que vem e James Gunn é produtor-executivo do filme. Baby Groot é muito fofo, mas agora imagina como será o Teenage Groot, tendo Peter Quill como figura paterna. Que venha a Awesome Mix Vol. 3. Ana Amélia Ribeiro é jornalista, fã incondicional de quadrinhos, DCnauta, Marvete e muito apaixonada pela Turma da Mônica
Cantor e compositor cearense morreu em casa na madrugada deste domingo Morreu na madrugada deste domingo, 30 de abril, o cantor e compositor Belchior. A causa da morte ainda é desconhecida. O corpo deve ser levado de Santa Cruz do Sul (RS), onde o cantor morava, para Sobral, no Ceará, cidade natal de Belchior, onde ocorrerá o sepultamento. Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, nome verdadeiro do cantor, se firmou, na década de 1970, como um dos primeiros cantores de MPB do Brasil, tendo lançado mais de 20 discos durante a carreira. O governo do Ceará decretou luto oficial de três dias. O governador, Camilo Santana, divulgou nota em homenagem ao autor de "Apenas um Rapaz Latino-Americano": "Recebi com profundo pesar a notícia da morte do cantor e compositor cearense Belchior. Nascido em Sobral, foi um ícone da Música Popular Brasileira e um dos primeiros cantores nordestinos de MPB a se destacar no país. O povo cearense enaltece sua história, agradece imensamente por tudo que fez e pelo legado que deixa para a arte do nosso Ceará e do Brasil. Que Deus conforte a família, amigos e fãs de Belchior", lamentou.

Diretor sueco entrega um filme humano, mas chocante tanto pela temática quanto pelas escolhas estéticas. Não é recomendado para pessoas que se abalam facilmente
[caption id="attachment_93157" align="alignleft" width="620"] Volodya e Lilya: uma criança e uma adolescente são as responsáveis por mostrar no filme o sofrimento intenso de uma vida precária e de abandono[/caption]
Ana Paula Carreiro
Especial para o Jornal Opção
Com a “explosão” de “13 Reasons Why”, muitas pessoas parecem ter se interessado pelo assunto tratado na série, gerando inclusive muitos debates sobre o tema. No entanto, o seriado da Netflix só mostra uma visão do que pode levar uma pessoa ao suicídio, deixando assim a impressão de que só aquilo pode motivar uma pessoa a tirar a própria vida.
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É preciso falar mais sobre o assunto e há outras produções que falam a respeito disso. Uma delas é “Para Sempre Lilya”. Baseado em fatos reais, o filme sueco de 2002 dirigido por Lukas Moodysson, um dos expoentes do cinema escandinavo, fala sobre a vida de uma adolescente de 16 anos que mora no subúrbio da antiga União Soviética.
Lilya (Oksana Akinshina) é abandonada à própria sorte pela mãe, que se muda para os Estados Unidos com o novo namorado, e se vê em uma situação de desamparo, que se agrava com o fato de ser forçada a se mudar para um lugar com condições extremamente precárias.
Sem dinheiro para se manter, a adolescente encontra na prostituição uma saída “fácil” para seus problemas e conta apenas com a amizade de Volodya (Ardydom Bogucharsky), um garoto de 11 anos com quem desenvolve uma relação fraternal – os dois nutrem juntos sonhos de um dia terem uma vida melhor.
Em uma de suas idas às boates soviéticas, Lilya conhece Andrei, um homem que em meio a tantos outros interessados apenas em sexo, demonstra ser atencioso e lhe faz promessas de uma vida estável na Suécia, com moradia e trabalho.
Mesmo alertada por Volodya de que Andrei não possui boas intenções, Lilya prefere acreditar em Andrei e acaba indo para a Suécia. Chegando lá, o que era para ser a realização de um sonho se transforma em um pesadelo e Lilya é feita escrava sexual e vive presa em um apartamento.
Com a consciência de que Lilya jamais voltaria de sua “viagem” à Suécia, Volodya, que antes encontrava nela o único motivo para estar vivo, acaba tirando a própria vida com o uso abusivo de remédios.
Já Lilya, em um dia de aparente descuido de seu vigia, consegue sair do apartamento em que estava presa. Desorientada, ela corre pelas ruas da cidade até que encontra um viaduto e, com todas as esperanças esgotadas, se joga entre os carros que passam e dá fim a uma vida de sofrimentos.
Foco no sofrimento
“Para sempre Lilya” é um filme que trata da desgraça humana, tanto social quanto interna, abordando temas como o desespero, a solidão, a exploração sexual, o tráfico humano e o descaso do governo perante o abandono de menores. Mesmo não tendo nenhuma cena em que a violência contra Lilya é explícita, o filme é extremamente denso, pela temática e pelo enquadramento da filmagem, que escolhe deixar a subjetividade em primeiro plano, mostrando as expressões de sofrimento no rosto da personagem, ao invés do ato em si. Não é um filme que eu indicaria para pessoas que se abalam facilmente, pois o foco da filmagem em primeira pessoa faz com que os telespectadores se sintam violentados juntamente com a personagem. O fato de o filme retratar o sofrimento pelo olhar de duas crianças é o que torna ainda mais chocante toda a narrativa, mostrando a inocência perdida e a falta de perspectiva de um futuro, o que leva as duas ao suicídio, o maior ato de desesperança de uma pessoa. O final do filme tem duas interpretações principais, uma que aborda o aspecto psicológico da questão, em que Lilya enxerga Volodya com asas de anjo em seus momentos de desespero e solidão, e outra que aborda o aspecto sobrenatural, tratando assim a aparição de Volodya como se ele de fato tivesse morrido e voltado como um anjo para ampará-la em meio ao sofrimento. De qualquer maneira, o final fica aberto à interpretação do telespectador, visto que não se pode afirmar se Lilya morreu ou não. Ana Carreiro é estudante de Jornalismo
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