Opção cultural

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Lembranças

Marcos Nunes Carreiro [caption id="attachment_26393" align="alignright" width="250"]ilu Ilustração: Kaito Campos[/caption] Em meio à competição de vozes, ela falava baixo, ali mesmo, sentada em um banquinho a poucos centímetros da moça, cujo único objetivo era coletar histórias de quem estivesse disposto a gastar um tempo em troca de um postal artesanal. Essa moça chegava cedo, montava sua banquinha e esperava o primeiro “contista” chegar. Naquele domingo, como se todos da cidade já tivessem passado por ali, ninguém havia parado para compartilhar uma boa história. Foi quando ela apareceu. Parou em frente à banca, levando nas mãos algumas sacolas com frutas. Observou a moça e, mesmo que os óculos já não acompanhassem mais sua visão, pôde notar a pequena aquarela em forma de datilógrafo que a moça levava tatuada sob o braço direito. Levantou os olhos e leu: “Compra-se histórias da cidade”. Sorriu e sentou-se defronte à moça, que, distraída, mal teve tempo de agarrar papel e lápis: — Sou nova aqui, sabe? Cheguei fugida da tristeza de minha cidade natal. Mas, desde que cheguei, observo a magia do lugar. Outro dia, por exemplo, parei em um banco da praça, que existe logo ali, e fiquei olhando as pessoas. Foi quando vi a mim mesma caminhando ao lado de um velho conhecido. Imagine a perplexidade! Como o “meu outro eu” não me viu, disparei atrás dela. Não andei mais que dois quarteirões, até que o casal entrou por um portão azul. A certa distância, lá fiquei. O que estava acontecendo? Passaram-se horas, até que, para piorar a situação, vi alguém de quem já havia me esquecido. Vestido de motorista, lá estava ele: meu pai. Saiu pelo portão ao lado do “meu outro eu”. Sorridentes. Precisei me sentar. Como não me viram, depois de alguns minutos, fui embora. Não pude falar com eles. No caminho de volta, peguei o celular e liguei para minha mãe, mas me esqueci que, desde aquele acidente de carro, ela já não atende ao telefone. Cheguei em casa, joguei as chaves perto do porta-retratos que tenho sobre o criado mudo do quarto, aquele que leva a foto da gente sorrindo, e fui para o banheiro. Deixei a água do chuveiro levar as minhas lembranças familiares. Abri os olhos a tempo de ver a última descendo pelo ralo e cheguei a uma conclusão: esta cidade é mágica. Parando o lápis no papel, a moça levantou os olhos para observar a outra. Não iria falar nada. Não podia. Esperou ver no olhar à sua frente a aflição comedida de quem já se acostumou à ideia de ter perdido a família em um acidente de carro e, devido à tristeza, ter-se mudado de cidade. Porém, encontrou aqueles olhos transparecendo um acalentado sorriso aquecido. Abriu a boca para falar, mas ela já se levantava para continuar seu caminho. — Espera. Não vai pegar um postal? — Não. Dê a quem mereça mais do que eu. — Espera. Levantou-se, foi ao seu encontro e sussurrou: A história é verdadeira? O mesmo sorriso acalentado nos olhos. Partiu.

Cássia Eller, aquela da malandragem: musical em Brasília vai até dia 26

[caption id="attachment_26474" align="aligncenter" width="620"] Divulgação[/caption] As músicas da inesquecível Cássia Eller têm encantado muitos, mesmo passada mais de uma década de sua morte precoce. O país sabe disso e o Centro Cultural Banco do Brasil também, afinal, conseguiu atrair para o espaço “Cássia Eller, O Musical”. Sucesso de público em Belo Horizonte e São Paulo, o espetáculo segue até o dia 26 de janeiro, em Brasília. Ainda dá tempo de ir à capital federal conferir as mais de duas horas de narrativa a respeito de uma das maiores cantoras brasileiras. O musical tem direção assinada por João Fonseca — já considerado o mais produtivo encenador do Rio de Janeiro — e Vinícius Arneiro. Tacy de Campos e Jana Figarella dão voz à “Cássia Eller”, que é exibida nas segundas, quintas, sextas e sábados às 20 horas; no domingo a cantora é revivida às 19 horas. O script conta com os sucessos “Lanterna dos Afogados”, “Malandragem” e “O Segundo Sol”, mas também tem outras interpretações, tipo “Come Together”, dos Beatles. Corre lá!

Tem arte no Centro: cursos de dança, música e teatro

[caption id="attachment_26477" align="alignleft" width="300"]Divulgação Divulgação[/caption] É inegável o quanto de arte pulsa nas ruas do centro de Goiânia. E não é só da arquitetura, dos monumentos e da ancestralidade cultural que vibra por ali. Muitas escolas de arte ficam nos setores primeiros da cidade. Ali, o Sesc tem apostado em integrar e interagir as diversas expressões. Pode ser balé, dança de salão, jazz, sapateado, street dance, canto coral, guitarra, violão, teclado, teatro; pode ser a expressividade que você quiser. Mas corre, pois as vagas para os cursos estão se esgotando. As matrículas são feitas ali mesmo, na unidade do Centro. Basta apenas levar a carteirinha do serviço, atestado médico para os que se interessarem pelas danças e o valor de R$ 75 referente ao semestre. E não se afobe que logo as aulas começam; dia 2 de fevereiro.

Para aprender

O Teatro Madre Esperança Garrido — aquele em frente ao Parque Mutirama — vira palco para oficina de teatro ministrada por Eduardo Sousa nas noites entre os dias 21 e 23 de janeiro. A galera interessada em televisão, teatro e cinema só tem a ganhar com as técnicas de Sousa em interpretação, figuração e para se dar bem ao falar em público. Além disso, o diretor tem como característica explorar a preparação corporal, criação de cenas e improvisação.

Lançamentos

Livro

LivroAntoine de Saint-Exupéry não escreveu apenas “O Pequeno Príncipe”. Neste livro, ele retrata os primeiros aviadores; aqueles que desbravaram as trilhas do correio aéreo. CORREIO SUL Autor: Antoine de Saint-Exupéry Preço: R$ 26,90 Nova Fronteira

Música

CDNão é só “All About The Bass”. O som de Meghan Trainor se ale­gra no pop, se valoriza no jazz e nas letras. “Title” é o ál­bum de estreia da ame­ricana que tem con­quistado a muitos. TITLE Intérprete: Meghan Trainor  Preço: R$ 24,90 Sony/BMG

Filme

DVDEstreou o novo filme dirigido por Angelina Jolie. Um drama sobre um atleta olímpico que se envolve na Segunda Guerra Mundial. O longa concorre o Oscar de melhor fotografia. INVENCÍVEL (UNBROKEN) Direção: Angelina Jolie Nos cinemas Universal Pictures

Agenda

Nesta época de férias escolares, o Grupo Zabriskie apresenta seis peças para crianças no Teatro Sesc. A intenção é atrair as crianças para o teatro. Os próximos são: "Na Floresta da Brejaúva", dia 17; e "Segredos", dia 18. Às 17 horas.

Agenda

No Museu de Arte de Goiânia, no Bosque dos Buritis, está a Ex­po­sição Anos 80, com trabalhos de 36 artistas nacionais. Entrada franca.

Lançamentos

Livro

Livro O brilhante escritor suíço Robert Walser agora pode ser lido pelos brasileiros de maneira mais ampla e em uma só obra. Esta antologia oferece um panorama de sua produção. ABSOLUTAMENTE NADA E OUTRAS HISTORIAS Autor: Robert Walser  Pre­ço: R$ 27,30 Editora 34  

Música

ÁlbumCéuCéu lança seu primeiro registro ao vivo. A obra celebra dez anos de estrada. A regravação de “Mil e uma noites de amor”, de Pepeu Gomes, é uma das delícias do álbum. CÉU AO VIVO Intérprete: Céu Pre­ço: R$ 24,90 Som Livre  

Filme

DVDEstrelado por Wag­ner Mou­ra, Praia do Futuro é lançado em Blu-Ray no dia 13. Trata-se de uma be­la produção, cujo tema central, a sexualidade, está em debate atualmente. PRAIA DO FUTURO Direção: Karim Aïnouz Preço: R$ 39,90 Califórnia Filmes

Cine-Clássicos

A Mostra Clássicos do Cinema Mundial II, do Cine Goiânia Ouro, traz filmes que marcaram o cinema e ficará em exibição durante todo o mês. Em cartaz para esta semana estão: domingo, 11, “A Dama e o Vagabundo”; segunda-feira, 12, “O último Tango em Paris” e “Amor sem fim”. Na sexta-feira, 16, o sempre lembrado “Super-Homem” Christopher Reeve aparece nas telas com o clássico “Em algum lugar do passado”, filme que também será exibido no sábado, 17. Os ingressos têm o preço único de R$ 2.

Banda paulista celebra o Indie Rock em Goiânia

É inegável que a faceta indie do rock tem aglomerado uma boa parte de fãs pelo mundo. E não apenas de adolescentes e jovens, mas de todas as idades. A razão é que algumas bandas — The Black Keys, por exemplo — têm uma qualidade incrível de som e apresenta boas composições líricas. No Brasil, uma das bandas referência no que diz respeito à vertente é a paulista IndieGo Club, que estará em Goiânia no próximo dia 15. A banda é nova — apenas quatro anos de estrada —, mas promete um repertório para duas horas de show. No set list estão bandas como Strokes, Arctic Monkeys, The Killers, Kings of Leon, The Black Keys, Queens of The Stone Age, Two Door Cinema Club, entre outros. O show será no Bolshoi Pub — já conhecido por contemplar o rock, tanto nacional quanto goiano.

Rufem os tambores: as portas do Basileu França estão abertas

[caption id="attachment_25711" align="alignnone" width="620"]Foto: Fernando Leite/Jornal Opção Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption] Ainda que o verão aqueça os dias na capital goiana, o mês é de frio na barriga e ansiedade para quem quer mergulhar nas artes. É que a Escola de Artes Basileu França abriu o período de inscrições para diversos cursos. E se você curte bons passos de dança, o linóleo do teatro, o picadeiro do circo ou o bom pincel para alguma tela, deve ficar de olho, pois os testes estão quase aí. As inscrições para audição dos cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC) na área de dança, teatro e artes visuais vão até o dia 30 de janeiro. Quem se interessa pelas artes circenses tem até 2 de fevereiro para realizar sua inscrição. Pelo grande número de interessados e o tempo que se leva para realizar os testes, a chamada para aprender algum instrumento musical e/ou canto se encerrou na sexta, 9. Já para as demais áreas, ainda dá tempo de levar os documentos pessoais mais o valor de R$ 10 na secretária do Basileu, que fica na Avenida Universitária, Setor Universitário, sentir o frio na barriga e, quiçá, ser aprovado.

Agenda

Continua em exposição no Centro Cultural Oscar Niemeyer a mostra do artista plástico Daniel Acosta. Vai até o dia 8 de fevereiro.

Sobre as tapeçarias desfiadas e tudo que achei por aí ao procurar as Índias

Kaito Campos Especial para o Jornal Opção [caption id="attachment_25975" align="alignleft" width="300"]Ilustração: Kaito Campos Ilustração: Kaito Campos[/caption] Lá do diafragma vem uma dor. O diafragma empurra a dor pros olhos, com força de correnteza. O que sai é tristeza, uma tristeza líquida. Tristeza é coisa abstrata, foi minha professora de gramática quem disse. Eu digo que o choro faz com que ela vire de verdade, tangível, faz com que ela vire coisa enquanto eu reviro a mim mesmo. Vem lá da barriga, do diafragma, e sobe pro olho. E cai pensando que vai desaguar no mar ou pensando em fazer um mar, com esse orgulho todo. Mas cai, percorre a pele e evapora. Só fica o sal e infertiliza a pele da bochecha. Sou sal agora, um grão apenas, sozinho. Sou um deserto pequeno, com sol e camelos e beduínos andando de lá pra cá à procura de sombra. Minha sombra me persegue e eu a persigo de volta pra descansar os pés do calor. Resseco, racho ao meio e sangro devagar. Tudo metaforizado, um monte de coisa dolorida pra simbolizar um bolo de sentimento ruim que decora minha mente desde que você me deixou. Um novelo de sentimento ruim, repito de novo tudo o que merece ser repetido, eu me reforço na falta de força. Pego o novelo e faço crochê, tricoto um tapete frágil com minhas linhas coloridas. Cada cor é uma dor diferente, por isso o tapete é muito colorido. Vai de arco-íris pra além. Tem até uma cor que ninguém nunca nem chegou a ver, só eu e os pavões. Machuca tanto que dá pra pegar. Tem superfície e textura. Às vezes imita o sertão, com cacto, brita e espinho, fica molhado, mas depois seca, feito os rios que correm alguns meses, depois escorrem pro céu e somem, matam o gado, faz o sertanejo ter sede. Eu tenho sede e fome ao mesmo tempo. Sento numa mesa com um prato cheio de comida e um copo cheio de água, mas não como nem bebo porque não sei o que fazer primeiro. Fico uma hora assim, sem saber se pego o copo ou movimento o garfo. Mentira, a indecisão é um disfarce: passo uma hora inteira pensando nas coisas ruins de dentro do corpo, esses monstros do escuro de mim, das minhas cavernas. Não sou pessoa mais, nem sal, sou um lugar. Eu, onde nada acontece. Eu, onde nenhuma flor nasce, nenhum micróbio sobrevive. Eu, onde. O diafragma comprime, o estômago ronca, o prato de comida e o copo liberam cheiro, meu nariz come. A barriga, não, nem os dentes, que rangem. Sai um grito da caverna do estômago que é o grito do dragão escondido em mim. Assopro fogo. Cadê a água? Cadê? Minhas escamas, meus espinhos. Duas asas cortadas e um rabo, par de chifres, dragão sem paraíso, debaixo de cem camadas de roupa que tentam esconder. Deixar normal, deixar humano. Uma dor, ninguém quer que eu sinta, me falam pra ficar bem e melhorar. Enxugam a tristeza líquida, mas não tratam da se­cura de dentro. Uma alma que parece uva-passa. Pequena, um grão de sal. Cansado, repouso na janela, olho o ponto de fuga do muro plano: um buraquinho pequeno que só cabe uma formiga. Um muro que não me deixa ver o céu, cobre toda estrela, mas mostra a formiga. Ela anda atrás de carniça, penso em jogar minha alma pra ela, esse troço tão minúsculo mataria a fome da formiga. Ou mataria a formiga, se for veneno. Não faria falta pra mim, oco, um, só, salgado, tão coisa quanto a travessa com frutas de mentira que enfeita a mesa da sala. E isso os pintores chamam de natureza morta. Aqui, morro o meu amor e toda a ideia dele, desencanto. Depois desfaço o crochê, desfio o tapete inteiro, fico embaraçado nessa linha toda. Coado no filtro de barro, água pronta pra se beber. E me bebo, aperto as pálpebras com força, seguro o diafragma, não me deixo chorar. Se deixar vazar, vai sair na televisão que teve tsunami no meio do cerrado. Seguro firme nas minhas próprias mãos, eu amigo de mim, uma relação conflituosa. De repente, chega a cólica, lá do diafragma vem uma dor. Kaito Campos é estudante de jornalismo e ilustrador

Improviso: Kandinsky começa num ponto

Exposição em Brasília contempla a vida e influência artística do precursor do abstracionismo

Banda que “adoçou o rock” diz que o progresso da música goiana não para tão cedo

Adoçaram o rock, conquistaram a casa e abriram os horizontes para além-Goiânia: Carne Doce promete no cenário musical de 2015