Imprensa
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) faz 100 anos em agosto e o Brasil está publicando bons livros a respeito, como os de Max Hastings e Niall Ferguson. Vale traduzir “La Gran Guerra — Historia Militar de la Primera Guerra Mundial” (Crítica, 563 páginas, tradução de Juan Rabasseda e Teófilo de Lozoya), de Peter Hart. Este escreve e pesquisa tão bem quanto o notável Antony Beevor.
Pesquisador do Imperial War Museum de Londres, Peter Hart diz que “a Grande Guerra [assim era chamada até o início da Segunda Guerra Mundial] foi o acontecimento mais importante do século 20”. O historiador frisa que se trata da primeira guerra que efetivamente pode ser chamada de “mundial”. Milhões de homens morreram nas batalhas — muitos por falta de medicamentos, como antibióticos — e pela primeira vez foram usados aviões, tanques, submarinos e gases asfixiantes. Impérios ruíram e novas ideologias surgiram (o fascismo e o nazismo) ou se fortaleceram (o socialismo, com a Revolução Russa de 1917).
Peter Hart assinala que a Grande Guerra mudou o mundo e contribuiu, de maneira decisiva, para a Segunda Guerra Mundial.
Iúri Rincon Godinho
Longe de ser uma bio de Sócrates, esse livro é uma breve história de amor. Kátia Bagnarelli, uma loira belíssima, capturou o coração do doutor. Viveram cerca de dois anos um amor incondicional, que só a paixão explica — ou não rs.
Kátia revela um pouco das explosivas anotações do ex-jogador, que deveriam, essas sim, virar uma biografia. A autora revela a conturbada relação de Sócrates com a família, em especial os filhos. Sua paixão por Cuba e a terrível decadência física de um ex-atleta com cirrose, vomitando litros de sangue pela madrugada. Em duas partes, discretamente, a autora revela que o doutor continuava a beber e a fumar contra todas as recomendações médicas.
Sobram críticas à Confederação Brasileira de Futebol e ao irmão Raí, que teria pedido que Kátia não falasse por Sócrates enquanto ele estivesse hospitalizado. A pequena parte em que narra um telefonema de Lula é emblemática. O ex-jogador preso a um leito hospitalar recebe a visita de José Dirceu, já enrolado com as denúncias do mensalão, e pede para falar com o presidente. Dirceu, denunciado mas poderoso, liga. Lula atende e conversa rapidamente com Sócrates, que cobra do “barba” sua recente aliança com o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Lula enrola, diz que explica pessoalmente em um futuro encontro.
No final da ligação, Sócrates vira-se para a mulher e diz: “É, o barba já não é mais o mesmo”. Para quem era apaixonado pelo socialismo e colocou o nome de Fidel num filho, até que Sócrates nem demorou muito a perceber a mudança.
Iúri Rincon Godinho, publisher da Contato Comunicação, é jornalista.
Serviço:
Título: “Sócrates Brasileiro — Minha Vida ao Lado do Maior Torcedor do Brasil”
Autoras: Regina Echeverria e Kátia Bagnarelli
Editora: PRUMO
Páginas: 240 páginas
Preço: R$ 34,90

Neymar é o craque da seleção brasileira. Oscar é bom jogador, mas irregular. Thiago Silva é um grande zagueiro. Mas craque mesmo só Neymar. Há uma tendência na imprensa patropi, na adulação frequente ao ex-jogador do Santos, a supervalorizá-lo para diminuir Messi. Ora, o argentino é um craque consumado e tem decidido os jogos.
Neymar é um grande investimento do Barcelona, mas ainda não se firmou no time. Fica-se com a impressão de que o futebol de Messi, mais vistoso e produtivo para o time, encabula e constrange Neymar — que, acostumado a ser a primeira voz, não tem funcionado muito como segunda voz. Na seleção, como único maestro, Neymar tem brilhado, com boas atuações, mas as comparações com Pelé têm sido primárias. A rigor, até agora, não fez nenhuma partida de gênio. Contra o México e o Chile, times melhores do que a Croácia e Camarões, foi inteiramente anulado. Nem os lampejos de gênio apareceram.
Messi também não fez nenhuma partida brilhante, mas, como Neymar, ao menos tem decidido os jogos.
Por que Neymar e Messi, craques incontestes, não fizeram partidas acima da média, exceto se comparados com os jogadores de seus dois times? O óbvio: são muito bem marcados. Contra o México, Neymar estava sempre sob a vigilância de dois a três jogadores, alguns faltosos. Com Messi ocorre o mesmo. Mas, mesmo bem marcados, eventualmente desequilibram as partidas.
Posto isto, resta dizer que a alegria da Copa do Mundo tem sido, até o momento, exatamente Neymar e Messi e dois ou três jogadores da Holanda, da Alemanha e um da França (Benzema). A Copa tem sido dos jogadores leves e habilidosos. Holanda, Alemanha e França têm bons jogadores, mas craques mesmo, da estirpe de Neymar e Messi, não têm nenhum.
Cristiano Ronaldo, o craque da Seleção de Portugal, não jogou bem. Por dois motivos. Primeiro, não está bem fisicamente. Segundo, a seleção de seu país é muito pior do que o Real Madri. Fica-se com a impressão de que Cristiano Ronaldo passa a bola e recebe uma pedra. O mesmo ocorre com Neymar na Seleção Brasileira: passa a boa com suavidade, rolando macia, e recebe uma paulada. Parece que alguns de seus companheiros acreditam que se trata não de um jogador, e sim de um velocista (o português é um misto de jogador e velocista).
É provável que, se entrevistar Philip Roth, um jornalista goiano faça a seguinte pergunta: “Qual a sua opinião sobre Bernardo Élis, José J. Veiga e Eli Brasiliense?” O escritor americano certamente não saberá responder. Rogério Borges, do “Pop”, entrevistou o pianista Arnaldo Cohen (foto), que atua no Brasil e no exterior, e não hesitou em fazer uma pergunta provinciana. O repórter quis saber se ele conhecia os trabalhos de musicistas goianas. Polidamente, já que estava em Goiânia, Cohen disse: “Como eles [artistas] são muitos, eu teria receio de citar alguns, pois estaria cometendo uma injustiça ao omitir outros, igualmente importantes”. Se fosse no Facebook, ou noutra rede social, o editor poderia ter acrescentado: “Rs.”
O Brasil é um país que impressiona pelo desleixo e desfaçatez com que trata seus grandes escritores. Carlos Drummond de Andrade, seu maior poeta, deveria ter pelo menos umas dez biografias, para que uma fosse incorporando as pesquisas e interpretações das outras, o que permitiria uma compreensão mais adequada tanto de sua vida quanto de sua obra (mais bem analisada, o que é positivo, do que sua vida). “Os Sapatos de Orfeu — A Biografia de Drummond” (Biblioteca Azul, 338 páginas), de José Maria Cançado, não é ruim. Pelo contrário, é, até certo, um trabalho exaustivo, pioneiro, pois não contou com trabalhos anteriores de envergadura, ou mesmo de envergadura. O que se pode desta pesquisa, sem desmerecê-la — e o próximo biógrafo não pode desconsiderá-la —, é que é lacunar. No sábado, 27, “O Estado de S. Paulo” publicou a notícia de que o jornalista Humberto Werneck, que entende como poucos as coisas de Minas Gerais, iniciou uma pesquisa para escrever uma biografia alentada de Drummond, encomendada pela Companhia das Letras. O biógrafo e a editora são referências de qualidade. A biografia de Drummond será lançada em 2017. “Drummond é meu poeta. Ele fala por mim as coisas que não dou conta de falar. Quero juntar os cacos e ver que xícara dá”, disse Werneck ao “Estadão”. O “Estadão” informa que Werneck pretende Manuel Graña Etcheverry, de 98 anos, que foi casado com Maria Julieta Drummond de Andrade, única filha do poeta. O poeta Graña Etcheverry traduziu poemas do bardo mineiro para o espanhol.
A jornalista Laila Navarrete, de 79 anos, morreu na sexta-feira, 27, no Hospital Anis Rassi, em Goiânia. Uma das mais importantes colunistas sociais da história do jornalismo de Goiás, Laila havia sido submetida a uma cirurgia, no Hospital dos Acidentados, para colocar uma prótese num joelho. A operação havia sido bem-sucedida. Pelo menos até sexta, a família não tinha informação precisa sobre a causa da morte. Laila trabalhou em vários jornais, como “Cinco de Março”, “Diário da Manhã”, “O Popular”, Jornal Opção, “Correio do Planalto” e “O Anápolis”. Ela tinha um conhecimento profundo da sociedade goiana — a dos ricos e da classe média — e escrevia muito bem e era uma profissional, acima de tudo, ética, íntegra. Pode-se dizer que era uma espécie de rainha do colunismo social de Goiás. Além do colunismo social, que exercia com raro prazer — era dedicadíssima —, Laila era poeta. Sua poesia era precisa e, ao mesmo tempo, delicada, amorosa e perspicaz.
Impossível discordar de uma lista que põe “O Poderoso Chefão” como principal destaque e cita “Cidadão Kane”. Mas como aceitar “Apertem os cintos... O piloto sumiu” como um grande filme?
A Editora Abril, que publica a “Veja” e a “Exame”, extinguiu mais uma revista. Agora foi a vez da “Info Dicas”, que estava na 126ª edição. A redação da revista informou ao site Comunique-se que os profissionais não serão demitidos. Devem ser remanejados. Maria Isabel Moreira, editora-chefe, irá para a “Info” — assim como a repórter Adeline Daniele. A Editora Abril extinguiu recentemente as revistas “Alfa”, “Gloss”, “Bravo” e “Lola”.
Iúri Rincon Godinho
Las Vegas é o paraíso dos antiquários nos Estados Unidos. Mas não qualquer um. A deliciosa e decadente região central da cidade abriga lojas com raridades ligadas à cultura pop, tipo bonecos do Elvis, revistas antigas, fichas de cassinos e caixinhas de fósforo. Uma delícia para encher a casa de coisas que a gente nunca vai precisar mas que são bacanas mesmo assim. Os antiquários nos Estados Unidos também emprestam dinheiro a juros, uma agiotagem consentida e bastante usada, vendem ouro e joias.
De todas essas lojas, chamadas de pawn shops, a mais famosa fica no início da Sunset Boulevard — praticamente a única rua de Vegas, onde está maioria dos cassinos —, dirigida por Rick Harrison. Seria apenas um antiquário descolado se não virasse seriado no excelente The History Channel, no Brasil com o nome de Trato Feito. A fórmula é simples: pessoas que compram as mais malucas quinquilharias, como um mapa do exército norte-americano da Segunda Guerra e anéis dos jogadores da liga de futebol dos EUA.
Este livro conta história da loja, a primeira a funcionar 24 horas na cidade, e, embora não seja dito, muito provavelmente para salvar com empréstimos na madrugada os viciados em jogo. O pai de Rick, chamado de Velho (sem sentido pejorativo) ou Old Man, serviu a Marinha na Segunda Guerra e abriu sem pretensão o negócio que o filho depois expandiria. Rick é um cara que a leitura e o conhecimento salvaram. Nunca gostou de estudar, mas ama ler. Adquiriu informações vastas, de tudo um pouco, que utiliza no negócio. Ao contrário de seu filho, que também trabalha no local e acabará herdando tudo.
No programa Trato Feito, a grande sensação não é da família Harrison, mas um funcionário gordo, pancada, apelidado Chum Lee. É o saco de pancada da turma, o cara que sabe que beira a imbecilidade e convive bem com isso, o que fica até mais tarde e o mais carismático. Ele pouco aparece no livro, tratado por Rick como uma obra sobre sua família e a pawn shop.
Agora os Harrison têm um show em Las Vegas e quase nunca aparecem na loja, que ficou fácil de ser achada pelas longas filas na porta. Quando vão gravar o Trato Feito, que é bem ensaiado antes e não tão natural quando aparenta, fecham as portas. Nas duas últimas vezes que fui a Vegas passei diariamente no local, o que dá aí umas 10 visitas. A única pessoa da família que vi foi o próprio Rick, que estava na porta. No que estacionei o carro ele já desaparecera.
Agora aqui em casa tem caneco do Trato Feito, camisa do Chum Lee e outras tranqueiras, mas o que eu queria mesmo, o autógrafo do Rick no livro, ainda terei de voltar lá pra conseguir.
Iúri Rincon Godinho é jornalista e publisher da Contato Comunicação.
Serviço:
Livro: “License to Pawn — Deals, Steals, and My Life at the Gold & Silver”
Autor: Rick Harrison
Editora: HYPERION
Páginas: 272
Osmar Santos tem o sobrenome do clube que consagrou o maior jogador brasileiro — Pelé. Osmar Santos, nome e sobrenome se exigem, talvez tenha sido o Pelé da narração esportiva, como quer o ex-jogador Branco. Na Copa do Mundo de 1986, ele foi o principal narrador da TV Globo — com Galvão Bueno como segundo narrador. Uma pena que um grave acidente, ocorrido em dezembro de 1994, tenha prejudicado sua fala e encerrado sua carreira. Recentemente o apresentador de televisão Datena e Branco se encontraram com Osmar Santos, que, mesmo com dificuldade, narrou um gol de Neymar. Uma cena emocionante. Alguns dos bordões e expressões criados por Osmar Santos: + "Parou por quê, por que parou?". + “Ripa na chulipa e pimba na gorduchinha” + “Um pra lá, dois pra cá, é fogo no boné do guarda" + "Sai daí que o Jacaré te abraça, garotinho" + "Rosemiro, o namoradinho da Rachel Welch", + "No carocinho do abacate" + "Ai garotinho", "vai garotinho porque o placar não é seu" + “Ele estava curtindo amor em terra estranha" (citando impedimento) + "Tiro-lirolá Tiro-lirolí" (narrando um gol) + "E que GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL". + "Animal" (que grudou no ex-jogador Edmundo)
A repórter Dione Kuhn, do “Zero Hora”, publicou longa e importante entrevista do arquiteto João Otávio Brizola, único filho vivo de Leonel Brizola, na edição de sábado, 21. Discreto, foi a primeira vez que concedeu uma entrevista, segundo o jornal gaúcho. Ele admite que seu pai recebeu dinheiro de Fidel Castro, ditador de Cuba. “Até porque não havia outro para dar.” João Otávio diz que “Cuba era o país que estava deixando o mundo nervoso. Meu pai se agarrou no primeiro cipó. Durante os primeiros quatro meses, estava tudo tranquilo. (...) Tinha um grupo muito forte lá [no Uruguai], de umas 300 pessoas. Darcy Ribeiro e Waldir Pires foram a Cuba fazer essa gestão (de buscar o dinheiro para a organização da guerrilha). Quando eles voltaram, lembro que era tudo em moedas de 50 pesos mexicanos. Eram umas moedas de ouro. (...) Ele [Brizola] montou em uma chácara perto de Montevidéu um centro de treinamento de guerrilha”. Quanto exatamente o político que governou o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro recebeu dos comunistas cubanos? “Dizem que foi 1 milhão de dólares”, afirma João Otávio. “Lembro de um baú de madeira enorme com moedas de ouro. Ele se trancava nos quartos e, certa vez, eu entrei e viu um monte de moedas. E não era pouco.” Na chácara, João Otávio diz que “tinha armas. (...) Várias vezes chegavam cargas de armas lá”.
O corpo do antropólogo e suboficial da Marinha Antônio Duarte dos Santos será enterrado no Cemitério Parque Memorial de Goiânia (rodovia GO-020, KM 8, depois do Autódromo Internacional de Goiânia) na terça-feira, 24, às 11 horas. Antônio Duarte morreu no sábado, 21, aos 74 anos, no Rio de Janeiro, ao se submeter a uma cirurgia, no Hospital Marcílio Dias. Ele teve uma parada cardíaca. Há alguns meses, ele sofreu um infarto em Portugal, onde passou por uma primeira cirurgia. Dias antes de fazer a cirurgia, de seu leito no hospital, Antônio Duarte me disse que estava reunindo material para dois livros. Um já estava engatilhado. Era sobre o uso “imperialista” ou “neocolonialista” da geopolítica. A Marinha responsabilizou-se por trazer o corpo de Antônio Duarte para Goiânia, onde mora seu irmão José Duarte. Marinheiros, Antônio Duarte e José Duarte participaram do combate à ditadura civil-militar e foram exilados. Estiveram na Cuba de Fidel Castro e no Chile de Salvador Allende. Depois, Antônio Duarte foi para a Suécia. No seu excelente livro “Almirante Aragão – Fragmentos de Uma Vida” (Consequência, 234 páginas), há uma pequena biografia de Antônio Duarte: “Nasceu no Rio Grande do Norte em 1940. Ingressou na Escola Industrial de Natal (1952-1956) e na Escola de Aprendizes Marinheiros (1958). Participou do Movimento dos Marinheiros (1962-1964). Após o golpe militar contra o governo de João Goulart, foi condenado à pena de 12 anos de prisão. “Foi militante da resistência armada contra a ditadura. Depois, refugiou-se, primeiro em Cuba, também no chile, e depois na Suécia, onde se graduou em Antropologia na Universidade de Estocolmo. “Na volta do exílio, foi professor de Sociologia na Universidade Católica de Goiás e lecionou Antropologia na Universidade de Taubaté (SP). “Já publicou ‘Trabalhismo e Social Democracia’ pela Editora Global e ‘1964: A Luta dos Marinheiros’ pela Editora Diorama.” Em seguida, passou a morar no Rio de Janeiro. Antônio Duarte era um intelectual pluralista, mas posicionado. Quer dizer, permanecia de esquerda, mas crítico incisivo dos governos do PT. Em 2005, Antônio Duarte concedeu um longo depoimento ao Jornal Opção no qual apresenta informações interessantes sobre o Cabo Anselmo que, tendo se aliado ao delegado Sérgio Paranhos Fleury, é considerado o principal traidor das esquerdas. Parte do depoimento pode ser lida no link: https://jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/o-marinheiro-sueco-que-politizou-o-cabo-anselmo-4906/
Morreu no sábado, 21, no Rio de Janeiro, o marinheiro que, na década de 1960, contribuiu, de maneira decisiva, para politizar os demais marinheiros -- entre eles o Cabo Anselmo. Antônio Duarte dos Santos, que viveu exilado na Suécia, sofreu um infarto quando estava em Portugal. Passou vários dias internado na terra de Camões e Fernando Pessoa. Depois, foi trazido para o Brasil pela Marinha e internado no Hospital Marcílio Dias, no Rio, onde foi operado. Depois da cirurgia, sofreu uma parada cardíaca e, pouco depois, faleceu. Conversei com Antônio Duarte há poucos dias. Ele estava no Hospital Marcílio Dias e falava de suas pesquisas e de seus planos para publicar livros, um deles sobre geopolítica. Antônio Duarte era um intelectual refinado, de inteligência aguda e perspicaz -- comprometido com a mudança social. Acima de tudo, um homem decente. Permaneceu de esquerda até o fim. Em 2005, o Jornal Opção o entrevistou longamente. Um link para parte de sua entrevista pode ser conferido aqui: https://jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/o-marinheiro-sueco-que-politizou-o-cabo-anselmo-4906/

Iúri Rincon Godinho
Especial para o Jornal Opção
Dizer que guerras são terríveis é fácil. Difícil é falar dos avanços que ela traz para a humanidade em termos de inovação. A luta pela sobrevivência por meio das armas — de um país, uma religião, uma ideia — é tipo uma vitamina para o progresso. Longe de ser necessário, o conflito bélico indiscutivelmente tem seu lado positivo.
Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a propaganda se beneficiou — se beneficia ainda no século 21 — de muitos ensinamentos do ministro da Propaganda do nazismo, Joseph Goebbels, agora explicitado à exaustão na bela, apurada e longa biografia do historiador alemão Peter Longerich, radicado na Inglaterra.
Muito do que se usa hoje na comunicação foi aplicado à perfeição na Alemanha dos anos 30 e 40: o reforço das boas notícias, a maquiagem do que é considerado negativo e, em especial, a insistência em uma mentira até que ela passe a ser verdade. Esquerda, direita, centro, todo mundo usa Goebbels até hoje.
Ele foi um profissional tão sofisticado que usava até a esquecida propaganda boca-a-boca, colocando os nazistas da base para espalharem nos bairros notícias que interessavam no momento. Na organização de eventos, encantava as plateias com estandartes gigantes de cores básicas e discursos sempre inflamados em amplos espaços, com vasta participação militar.
Contando a vida do ministro da Propaganda de Hitler, Longerich passa com desenvoltura pela paisagem alemã pós-Primeira Guerra (1914-1918), descobrindo a história de um jovem comum, sensível, que o destino colocou para viver em um tempo extraordinário. O Goebbels adolescente e do início da juventude em nada diferia do brasileiro cheio de sonhos, de amores platônicos, amigos e bebedeiras à procura de estudo e trabalho.
Mais tarde, já ao lado de Hitler, sua personalidade se transformará. Apaixonado pelo líder, não se importava em ser deixado fora das grandes decisões do Partido Nazista. Como gauleiter de Berlim — uma espécie de prefeito —, passou a não ter opinião própria. Sua vida significava o Partido Nacional-Socialista e, mais importante, o que Hitler pensava e mandava. Muitas vezes chegaria em frente ao Führer com uma ideia para sair de lá dez minutos depois convencido do contrário.
Essa relação homossexual sem sexo é o ponto alto do livro, em especial quando entra em cena Magda Goebbels. Nas fotos não apresenta beleza singular, mas devia ser, para definir com uma palavra antiga, “um ‘troço’”. Quando Goebbels a conheceu, já era casada. Se vivesse hoje, vários adjetivos poderiam colar na moça: vadia, fogo na roupa, maluca. Também apaixonada por Hitler como o marido, várias vezes o visitava sozinha, não raro sem avisar Goebbels — o que admite com desassombro em seu diário.
Antes de a guerra começar, em 1939, Marta quase o enlouqueceu com suas desaparecidas, discussões e encontros muito provavelmente não apenas com o Führer que, como se sabe, não era lá muito chegado na energia sexual, apesar de não haver indícios de que tenha sido homossexual. Ele apreciava a companhia feminina — pelo menos.
Depois que a Polônia foi invadida, em setembro de 1939, e começa a Segunda Guerra Mundial, a vida pessoal de Goebbels passa a segundo plano. Nos seus diários, ele se ocupa exclusivamente da política, das intrigas em seu departamento e da disputa interna que travou contra a comunicação da Wehrmacht, as Forças Armadas alemãs, que tinham independência.
Goebbels já era o censor, o cara que controlava o que a população podia saber pela imprensa. Com mestria se apoiava nos cinejornais, no rádio, nos folhetos, além de assistir e modificar os filmes de cinema — algumas vezes chegou a roteirizá-los. Workaholic, escrevia editoriais e lia muitos jornais. Ainda encontrou tempo, quando tudo estava perdido na Alemanha, para incentivar patéticos acordos com os países inimigos.
Vendo seu país invadido a Leste pela Rússia e a Oeste pelos ingleses e americanos, Goebbels ensaia uma ruptura com Hitler, o que não impede que morram juntos no início de 1945, o ministro e sua esposa dando veneno para seus filhos e depois se suicidando. Nos seus últimos textos não demonstra arrependimento, apenas pesar por não ter vencido a guerra. E por ter de abandonar Hitler, o grande amor de sua vida.
Iúri Rincon Godinho é jornalista e diretor da Contato Comunicação.
A TV Anhanguera conta com bons profissionais, seu jornalismo está mais agressivo, com o objetivo de superar a concorrência — que tem mais pegada, e com equipes menores, porém mais azeitadas —, mas continua pouco motivado. No afã de se “aproximar” da TV Serra Dourada — que supera o jornalismo da rival com frequência, segundo dados do Ibope — e da TV Record, a Anhanguera perdeu identidade com a Globo. Às vezes, em termos de seriedade jornalística, segue-se a Globo. Porém, em seguida, faz-se opção por um jornalismo modorrento, nada criativo, antigão — distanciando-se da rede. A Anhanguera, que permanece séria e tem uma equipe competente, precisa, com certa urgência, de um choque de criatividade e motivação (nada de otimismo em gotas, e sim no sentido de se fazer jornalismo com prazer e, portanto, com alegria). Jornalismo burocrático espanta telespectadores, que hoje têm dezenas, até centenas de opções, tanto em termos de televisão quanto de internet. A “fuga” para a internet — nem se fala dos canais por assinatura (cresce o número de pessoas que falam de séries e diminui o número de pessoas que falam de novelas) — parece que ainda não foi devidamente dimensionada pelos dirigentes do Grupo Jaime Câmara. Outro problema ao qual a Anhanguera precisa prestar mais atenção é a respeito da qualidade e da atualidade das informações de seu noticiário. Dada a rapidez do jornalismo que se faz na internet, e até nas emissoras de rádio e nos canais de jornalismo por assinatura, quando a Anhanguera noticia os fatos, por ser engessada pela grade de programação da Globo, eles estão “velhos”, pois foram comentados à exaustão em vários sites e portais o dia todo. A Anhanguera pode dar as mesmas informações, é claro, mas precisa nuançá-las. Porque, no momento, está chegando às casas dos telespectadores com um ar, digamos, déjà vu.