Bastidores

Guerra entre Iris Rezende e Júnior Friboi sugere que PMDB não pode pressionar por retirada de candidaturas de Vanderlan Cardoso e Antônio Gomide
A soma de intenções de voto de todos os candidatos a governador é inferior à intenção de voto no tucano-chefe

[caption id="attachment_3894" align="alignright" width="620"] Marconi Perillo (governo), Vilmar Rocha (vice) e Ronaldo Caiado (Senado): esta a chapa apontada como forte para derrotar uma chapa peemedebista com Júnior Friboi e Iris Rezende | Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
Na semana passada, o Jornal Opção ouviu de um dos auxiliares mais próximos do governador Marconi Perillo: “Uma composição com Ronaldo Caiado, se não é impossível, é muito difícil”. O motivo? “Nos últimos anos, o deputado federal do DEM tem jogado duramente contra o nosso projeto. Se dependesse dele, estaríamos na chapada.” Detalhe: este auxiliar é ouvido com frequência pelo tucano-chefe.
Entretanto, outro auxiliar de Marconi, quase tão importante quanto o citado acima, apresenta outra visão. “Decisivo mesmo é manter o governo, os dedos. O anel, o Senado, pode ficar para Caiado. Por que não?” E acrescenta: “Uma candidatura de Iris Rezende ao Senado tende a ‘puxar’ Caiado para nossa chapa. Iris, muito forte, exige um contrapeso sólido”.
O marconista, da intelligentsia tucana, diz que Caiado soma duplamente. “Primeiro, em termos eleitorais, porque atrai voto ‘novo’ para Marconi. Trata-se de um voto externo, que não é nosso. O voto interno, porque já é nosso [o auxiliar está citando, indiretamente, o deputado federal Vilmar Rocha e o vice-governador José Eliton], não é relevante para o projeto governista. É possível que Caiado atraia cerca de 150 mil eleitores. Segundo, Caiado acrescenta muito na campanha, se fizer um discurso duro e cortante contra os adversários. Ele bate com firmeza, com rara competência, tanto no PT de Antônio Gomide-Dilma Rousseff quanto naquilo que Júnior Friboi representa, os frigoríficos que penalizam os produtores.”
O discurso forte de Caiado, na opinião do auxiliar, abriria espaço para Marconi apresentar uma agenda mais ofensiva e propositiva — escapando à agenda defensiva. O tucano, portanto, ficaria menos exposto. “O PP e o PSD têm tempo de televisão, e isto é importante e necessário, mas não é suficiente. É preciso agregar novos votos.”
O auxiliar anterior contrapõe: “Mas, se nos aliarmos a Caiado, o que vamos dizer ao eleitorado? O que o próprio deputado vai dizer? A situação é complicada tanto para o tucano quanto para o democrata.”

[caption id="attachment_3889" align="alignright" width="620"] Júnior Friboi : dinheiro demais pode até atrapalhar sua campanha | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
O discurso da “mudança” e do “novo” está no ar. Mas resta saber qual ou quais candidatos cabem no figurino. Até o momento, pelo menos, os eleitores não identificaram quem simboliza a “mudança” e o “novo” em Goiás. Há um certo grau de opacidade e, para a surpresa de muitos, o político que está sendo mais observado — e já mais positivamente — é o governador Marconi Perillo (PSDB). É, porém, cedo para avaliações peremptórias.
Há pesquisadores e marqueteiros que dizem que os resultados das pesquisas atuais revelam mais “conhecimento” do que “aprovação real” dos pré-candidatos. Eles sugerem que é na campanha, quando os candidatos estão expostos, e se pode apresentar o contraditório, que os eleitores efetivamente se definem. Sobretudo, ao menos os consultados pelo Jornal Opção, os especialistas sustentam que nas eleições deste ano, se o discurso da mudança não for apropriado por nenhum candidato, se as luvas do “novo” não servirem nas mãos daqueles que se apresentam como “novos”, os eleitores tendem a votar naquele candidato que, apontado como experiente, deu provas de que saber gerir a máquina pública em prol da sociedade. Os eleitores, se apreciam a “mudança”, não têm qualquer paixão por aventuras. Os eleitores são menos aventureiros do que alguns candidatos.
Como Júnior Friboi vai fazer uma campanha cara — dolarizada, dizem —, e o governador Marconi Perillo fará uma campanha bem profissional, a tendência é que a batalha se dê entre estruturas. Acredita-se que a campanha de Friboi vai movimentar mais dinheiro, mas também se diz que não faltará dinheiro à campanha tucana. Daí que, a partir de certa quantidade de dinheiro no mercado político, as coisas se igualam. Estruturas equivalentes se anulam — e aí o que faz a diferença não é, portanto, dinheiro, e sim o candidato.
Friboi é inexperiente e o trabalho básico do marqueteiro Duda Mendonça e de seus aliados políticos é torná-lo mais profissional. O empresário terá quatro meses e 25 dias para aprender a fazer política e a dialogar com os eleitores, com a sociedade. Sabendo que enfrentará, em 5 de outubro deste ano, um profissional da política altamente qualificado,
que sabe até o pulo desconhecido do gato, pode-se concluir que se trata de pouco tempo.
Friboi não tem cultura, mas é um homem inteligente e pragmático. Mas, nos debates e nos programas de televisão, por mais orientado que seja, estará por conta própria — solitário. O leitor vai prestar muita atenção se o que está dizendo é crível e, sobretudo, se tem preparo para gerir o Estado. Se continuar falando errado, com concordâncias verbais tortas, o eleitor certamente desconfiará de seu preparo para governar Goiás.
Comenta-se entre peemedebistas que Friboi sabe ouvir, mas o problema é que, como ouve várias vozes, eventualmente se confunde, sobretudo porque não tem ideias próprias sobre vários assuntos. Por exemplo: o marqueteiro manda que fale sobre escola de tempo integral, mas a impressão que se passa é que o pré-candidato não tem uma visão exata do que isto significa. Friboi entende muito de boi, mas Goiás, diria o poeta e prosador Brasigóis Felício, não é mais “Boiás”. O Estado modernizou-se. Friboi teria sintonia com este Estado avançado, menos ruralizado, dinâmico e, educacionalmente, mais bem preparado? O empresário fala ao coração e à razão deste Goiás moderno e, sem dúvida, refratário àqueles que, no fundo, representam a vanguarda do atraso? As respostas ficam para o leitor.

[caption id="attachment_3884" align="alignleft" width="300"] Paulo de Tarso: vitorioso porduas vezes com Marconi Perillo | Leopoldo Silva/Folha Imagem[/caption]
O marqueteiro que criou o “Lulalá”, Paulo de Tarso, deve ser o principal criador da campanha de reeleição do governador de Goiás, Marconi Perillo. O martelo está quase batido. O grande desafio do profissional é apresentar o tucano-chefe como renovação num projeto de continuidade — depois de 12 anos de poder. Sobretudo terá de convencer o eleitorado de que não houve acomodação e que a modernização do Estado se deve, em larga medida, às políticas públicas do gestor Marconi. Não só. Porque não se ganha uma campanha apenas “falando” do que se fez. Paulo de Tarso terá de “vender” Marconi como símbolo de esperança em dias melhores para os goianos, portanto terá de cruzar um marketing que imbrique presente e futuro.
Na campanha, se fechar o contrato, Paulo de Tarso terá a companhia de Carlos Maranhão, possivelmente um dos principais coordenadores da campanha. O publicitário, Carlos Maranhão e Marconi sempre trabalharam em sintonia fina. Eles se entendem por música.
Paulo de Tarso conhece bem a política de Goiás. Em 2002 criou o marketing da campanha de Marconi. Em 2006 bolou o marketing de Barbosa Neto. Em 2010, no segundo turno, cuidou da campanha do tucano.

[caption id="attachment_1596" align="alignleft" width="300"] Iris Rezende: expectativa de poder é mais forte do que dinheiro | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
“Quem disser que Iris Rezende esta fora do páreo da disputa pelo governo de Goiás pode entender muito de Júnior Friboi, mas pouco, muito pouco, da política que se faz no Estado”, afirma um peemedebista histórico. “Posso dizer que há 50% de chance de Iris disputar o governo de Goiás — assim como 50% de chance de ele disputar mandato de senador. Cinquenta dias — prazo daqui até a convenção do PMDB (que deve ser realizada em 30 de junho, uma segunda-feira) — é muito tempo. A expectativa de poder é mais forte do que dinheiro. Há uma aposta, cada vez mais azeitada, de que Friboi, por mais dinheiro de que possa dispor, não vai emplacar.”
Iris quer assistir de camarote a debacle de Friboi. Não vai jogar pedras, mas não vai ficar insatisfeito com a desmontagem daquele “político” que ousou atropelá-lo. Iris não aprova o fato de que, assim que sai das conversas, Friboi começa a anunciar que ele será candidato a senador.
ris não disse a Friboi que aceita ser candidato a senador, embora também não tenha dito que não o será. Porém, os friboizistas em peso garantem aos seus interlocutores que não resta outra saída a Iris, depois de “derrotado” por Friboi, a não ser a disputa para senador. O empresário teria dito a Iris que não faz críticas a ele e que a imprensa é que publica críticas como se fossem dele. O problema é que são aliados de Iris, dos mais leais, que levam as informações de que a turma de Friboi passa o tempo todo dizendo que, apesar de precisarem dele eleitoralmente, estaria “superado” como político.
Na hipótese de Iris Rezende, do PMDB, e Antônio Gomide, do PT, não aceitarem compor com Júnior Friboi, o pré-candidato a governador pelo PMDB, estuda-se algumas saídas. O deputado estadual Francisco Gedda, do PTN, por exemplo, poderia ser guindado a vice. Em conversas com aliados e amigos, tem afirmado que pretende disputar a reeleição. O deputado federal Armando Vergílio, do Solidariedade, já foi sondado por Friboi tanto para vice quanto para o Senado. Mas vai deixar para definir seu projeto possivelmente na primeira semana de junho. Ao Jornal Opção, o presidente do SDD afirma que respeita e admira Friboi.
Analistas da política goiana dizem que, se Iris Rezende for candidato a senador na chapa de Júnior Friboi, o empresário estará no jogo de verdade. Porém, sem Iris para bancá-lo, Friboi dificilmente entrará tão cedo no jogo. Possivelmente ficará disputando o segundo ou terceiro lugar com Vanderlan Cardoso (PSB) e Antônio Gomide (PT). O problema é que Iris teme apoiá-lo e ficar com a imagem de “vendido”. Mesmo que Friboi não esteja “comprando” apoio, a imagem que se tem é que se tornou um trem-pagador.
O ex-reitor da Universidade Federal de Goiás Edward Madureira, do PT, disse ao Jornal Opção que deve ser candidato a deputado federal. “É o meu projeto”, frisa. “E vou trabalhar para ser eleito.” Edward Madureira afirma que não está descartando ser vice de Antônio Gomide (PT). Mas esclarece: “Nunca recebi nenhum convite para ser vice”. A vice, possivelmente, está sendo reservada para um integrante de algum partido aliado. Perguntando se está gostando de fazer política partidária, o ex-reitor foi enfático: “Estou. É difícil, não tenho estrutura financeira, mas não vou abrir mão de meus princípios. Transparência e legalidade não podem ser apenas discursos”.
De um friboizista: “Torço para que o nosso candidato a senador seja Ronaldo Caiado, e não Iris Rezende. Este sairia na frente, mas, como costuma desidratar-se durante a campanha, poderia ser superado pelo deputado federal”.
Outro friboizista afirma que aqueles que apoiam Júnior Friboi para governador, na disputa deste ano, admitem que Iris Rezende é fundamental como candidato a senador. Sem Iris, acredita-se, o empresário será o Titanic humano.
O friboizismo rejeita, porém, uma possível candidatura de Iris Araújo a senadora. “A deputada é muito rejeitada pelos deputados federais do PMDB.” Júnior Friboi nada tem contra a senadora, pois nunca disputou eleição em Goiás. Mas os parlamentares têm alto índice de rejeição pela peemedebista.
O pré-candidato do PMDB a governador de Goiás, Júnior Friboi, pode até não ter sorte no pleito, mas vai continuar convidando tanto Vanderlan Cardoso (PSB) quanto Antônio Gomide (PT) para ser o seu vice. O problema é que, com Vanderlan, não tem muita liga. Dois empresários na mesma chapa é avaliado como positivo. Já Gomide rejeita aliança com Friboi.
A chapa dos sonhos de Friboi é a seguinte: ele para governador, Gomide na vice e Iris para senador. Se não der, gostaria de pôr Gomide na vice (ou para senador) e Vanderlan Cardoso para senador (ou na vice). O problema é que Gomide e Vanderlan não querem saber do empresário.
O Entorno do Distrito Federal é a incógnita política de Goiás. No momento, a região não tem nenhum deputado federal, sobretudo porque, no período eleitoral, é praticamente invadida por candidatos de todos os lugares. O Entorno é visto, às vezes, como terra de ninguém — daí a invasão da legião estrangeira. O prefeito de Formosa, Itamar Barreto, apoia, para deputado federal, Thiago Peixoto, do PSD, e Sandes Júnior, do PP. Assim como outros prefeitos. Mas a eleição deste ano poderá ter outra configuração. Não será surpresa se, desta vez, o Entorno enviar três nomes para a Câmara dos Deputados. Não será fácil, mas também não é impossível, dado ao seu número de eleitores, a região emplacar no Congresso Nacional Célio Silveira, do PSDB, Marcelo Melo, do PMDB, e Gilvan Máximo, do PRB. Célio Silveira foi prefeito de Luziânia e, depois de oito anos de mandato, saiu desgastado. Mas seus primeiros quatro anos foram criativos e, por isso, há uma espécie de recall positivo. Ou relativamente positivo. Mais: a gestão de Cristóvão Tormin (PSD), de quem se esperava muito, melhorou, mas ainda deixa a desejar. E Tormin é um dos principais adversários — quase inimigos — de Silveira. Noutras palavras, Tormin está contribuindo, de maneira indireta, para restaurar a imagem do ex-prefeito. Percebendo as dificuldades no Entorno, Silveira não está trabalhando apenas na região. Ele terá votos outras regiões. O prefeito de Morrinhos, Rogério Troncoso, o apoia. Grupos políticos de Jaraguá também vão bancá-lo.