Marinha vai bombardear paraíso ecológico
09 agosto 2022 às 08h34
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O arquipélago de Alcatrazes, no litoral norte do estado de São Paulo, é o maior sítio reprodutivo de aves marinhas da costa brasileira, e também é alvo histórico de exercícios militares da Marinha. Há mais de 30 anos as forças armadas bombardeiam o conjunto de ilhas que abriga a população de 10 mil aves, tem 93 espécies ameaçadas de extinção, e possui 20 espécies endêmicas (que só ocorrem naquele local). A Marinha novamente irá bombardear o arquipélago, nos dias 16 e 17 de agosto.
A Marinha fará o exercício na segunda maior ilha do arquipélago, Sapata, segundo informação divulgada no ofício nº 116/CASOP (Centro de Apoio a Sistemas Operativos). Em resposta, moradores do Litoral Norte e ambientalistas se uniram em protestos, organizando um abaixo-assinado que já conta com 7,5 mil assinaturas.
Descaso Histórico
Durante a ditadura militar, a Marinha do Brasil começou a usar o Arquipélago de Alcatrazes como área de treinamento. Em 2004, um disparo efetuado contra o arquipélago durante um exercício militar deu origem a um incêndio que destruiu 20 hectares de mata nativa, resultando na morte de milhares de animais.
Os exercícios militares no arquipélago foram banidos em 2013. Posteriormente, o local recebeu proteção legal ao ser decretado como Refúgio de Vida Silvestre, convertendo-se na segunda maior unidade de conservação integral da Marinha. Em novembro de 2021, ignorando os repetidos apelos de ambientalistas e conservacionistas e até mesmo as recomendações de órgãos governamentais como o ICMBio, a Marinha do Brasil decretou que irá reiniciar exercícios militares no arquipélago.
Santuário ecológico
Isolado do continente há cerca de 20 mil anos, os animais terrestres do arquipélago guardam segredos sobre o processo de evolução. Por esse motivo, Alcatrazes é considerada por biólogos um laboratório vivo para o estudo evolutivo.
O local também é um dos mais importantes berçários de peixes do continente. O santuário ecológico abriga fauna e flora extremamente ricas, somando mais de 1.300 espécies. Dessas, 93 estão ameaçadas de extinção. É o caso da jararaca-de-alcatrazes, a perereca-de-alcatrazes. Por esses motivos, Alcatrazes recebeu a alcunha de “Galápagos do Brasil”.