Bolsonaro conversou com militares sobre golpe, diz Mauro Cid em delação
21 setembro 2023 às 09h22
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Durante seu depoimento na delação premiada concedida à Polícia Federal (PF), o tenente-coronel Mauro Cid revelou que, após perder a eleição no segundo turno, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu um rascunho de decreto golpista das mãos de seu assessor, Filipe Martins, e que Bolsonaro discutiu o conteúdo desse documento com altos militares.
As informações sobre como esse rascunho golpista chegou até Bolsonaro após sua derrota eleitoral e os desdobramentos subsequentes foram divulgadas pelo colunista Aguirre Talento, do UOL.
Segundo o depoimento do ex-ajudante de ordens, o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, manifestou apoio ao plano golpista em conversas internas, embora o Alto Comando das Forças Armadas não tenha aderido à proposta.
Filipe Martins, assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, teria organizado essa reunião no final do ano passado, na qual apresentou a minuta do decreto golpista a Bolsonaro, acompanhado por um advogado constitucionalista e um padre.
O documento propunha a convocação de novas eleições e a autorização para o governo prender adversários políticos. Bolsonaro recebeu o documento, mas, de acordo com a delação, não expressou sua opinião sobre o plano golpista. A PF está investigando se essa minuta é a mesma encontrada na residência do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres.
O militar também relatou que Bolsonaro teve discussões com generais de alta patente sobre o tema, mas nunca deu autorização expressa para a implementação de um plano golpista. Embora tenha dado indícios favoráveis em alguns momentos, a ação não foi levada adiante, e os diálogos com os generais não resultaram na execução das intenções golpistas.
Além de discutir os planos golpistas, Cid compartilhou informações sobre outras questões, incluindo esquemas de venda de joias, fraudes em certificados de vacinação e suspeitas de desvio de recursos públicos do Palácio do Planalto.
Há uma grande preocupação entre os militares em relação aos possíveis impactos das revelações do ex-ajudante de ordens, principalmente por envolver membros da cúpula das Forças e ministros que, apesar de estarem na reserva, foram generais de alta patente.
Os primeiros depoimentos da delação premiada já foram coletados pela PF, que agora realizará investigações adicionais para verificar a veracidade das informações apresentadas. Em uma fase posterior, o tenente-coronel poderá ser chamado para fornecer mais esclarecimentos.
O capítulo relacionado às tratativas golpistas foi particularmente relevante para a PF devido aos detalhes inéditos apresentados por Cid. Esses detalhes levaram à assinatura do acordo de colaboração, conduzido pelo advogado Cezar Bitencourt e homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, em 9 de setembro.