A pedra no caminho de Henrique Meirelles não é Marconi Perillo, e sim seu legalismo. Já o PSD está com problema na montagem na chapa para deputado federal

Qual é a real situação de Henrique Meirelles hoje? É provável que ele mesmo não saiba. Mas aliados sugerem que há uma “central”, incrustada em dois partidos, que se especializou em espalhar “boatos” de que não será candidato a senador por Goiás.

Por que a “central”, se realmente existe, acaba por funcionar? Porque Meirelles cala-se e, em Goiânia, fica tão-somente articulando nos bastidores. Se aparecesse e dissesse “sou candidatíssimo”, a “central” perderia energia e, portanto, poder de convencimento. Para os aliados, o engenheiro de Anápolis, onde nasceu e estudou (e estudou também em Goiânia, no Liceu de Goiânia, onde chegou a ser líder estudantil. Por sinal, é primo do ex-deputado federal Aldo Arantes, do PC do B), afirma que planeja ser candidato a senador por Goiás, e não por São Paulo. Mas precisa dizer publicamente, e com mais frequência. O escritor, antropólogo e político Darcy Ribeiro dizia que o óbvio, para se tornar óbvio, precisa ser repetido várias vezes.

Outro problema: Meirelles ainda não transferiu seu domicílio eleitoral de São Paulo para Goiás.

Henrique Meirelles: só declarações enfáticas podem acabar com a suposta rede de “boatos” | Foto: Divulgação

No sábado, 12, Meirelles deverá conversar com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, para decidir sobre seu futuro político. Daí, as dúvidas serão dirimidas, por Kassab é absolutamente pragmático e, claro, é mais político do que o secretário da Fazenda do governo de João Doria.

O PSD está numa sinuca de bico. Seus dois principais trunfos eram Meirelles e o presidente da Assembleia Legislativa, Lissauer Vieira (PSB), que estava prestes a se filiar à legenda presidida por Vilmar Rocha. Sem Lissaeur Vieira, que anunciou que não será mais candidato, a chapa de deputado federal do partido fica fragilizada. O deputado federal Francisco Júnior sozinho não terá condições de “puxar” votos para eleger dois deputados estaduais, e talvez nem para ele mesmo. O que fará? Nada disse até agora (poderia migrar para o União Brasil?). Mas certamente está preocupado.

Se não conseguir articular chapa para deputado federal, o que fará a cúpula do PSD? Não se sabe, ainda. Porém, se Gustavo Mendanha oferecer nomes para a chapa do partido, há uma possibilidade de uma composição com o prefeito de Aparecida de Goiânia? Há. “Por que não?”, disse um membro do partido.

Se Meirelles permanecer como candidato, por ser um político que agrega, há possibilidade de se fazer uma chapa de pré-candidatos a deputado estadual e federal. Sem Meirelles e sem Lissauer, as coisas se complicam.

Francisco Júnior, deputado federal: o que fazer sem um chapa consistente | Foto: Fábio Costa/Jornal Opção

Qual é o problema de Meirelles? Ele teme enfrentar Marconi Perillo? Não teme, segundo um aliado, ex-deputado. Na verdade, avalia que tem condições de derrotar o ex-gestor tucano, pois seus números nas pesquisas de intenção de voto, depois de ter sido governador de Goiás por quatro vezes, “não são elevados”. Então, se não teme o pré-candidato do PSDB, o que, de fato, está acontecendo? “Ao contrário de outros políticos, Meirelles é um planejador nato. Ele quer saber o que poderá fazer durante a campanha, milimetricamente. Por exemplo: quanto (e como) poderá gastar na pré-campanha e na campanha. Como é um legalista, e outros não são, o ex-ministro quer saber como se posicionar no processo”, declara um ex-deputado.

Há também a questão de o PSD se apresentar como um partido dividido. Há um grupo que está praticamente “fechado” com a reeleição do governador Ronaldo Caiado. Mas o senador Vanderlan Cardoso tem dito que não apoiará o gestor estadual. Há quem postule, inclusive no PSD, que, se não apoiar o deputado federal Major Vitor Hugo, que deve se filiar ao PL do presidente Jair Bolsonaro (ele é o nome do presidente), pode compor até com Mendanha, com a possibilidade de indicar sua mulher, Izaura Cardoso, para vice.

Na tarde de sexta-feira, 11, um deputado estadual disse, em tom de pilhéria: “O PSD está à beira de um ataque de nervos”. O que ele quer dizer? Que a situação do PSD pode ser boa e pode ser ruim, dependendo de qual caminho escolher. “O partido está no centro do debate político. Mas pode se tornar ‘nada’ e pode se tornar ‘tudo’. Eis a questão shakespeariana”.