Rodrigo Augusto Prando

O Partido dos Trabalhadores (PT) nunca esteve num patamar tão baixo em relação à sua imagem pública e, até mesmo, no que tange à sua credibilidade. Ontem, 05/05/15, no Programa Político Partidário, veiculado em rede nacional, assistimos mais um capítulo desta história.

No referido programa, a opção estratégica foi a de blindar a já combalida figura da presidente Dilma Rousseff, retirando-a da propaganda. Sabia-se, a partir das redes sociais, do protesto “panelado”. Vimos e ouvimos luzes piscando, panelas batidas e buzinas em profusão. Assim, escamotear a presidente Dilma não deu certo. Houve, inclusive, aumento da intensidade dos sons na fala do ex-presidente Lula e do presidente do PT, Rui Falcão. Este, por exemplo, asseverou que o partido expulsará os seus membros que, na Justiça, forem condenados pelo crime de corrupção. E seguem as panelas. Quando dos primeiros panelaços, a oratória do governo e do partido primou pela tentativa de desqualificar os protestos como se fossem oriundos de uma elite conservadora, dotada de sacadas gourmets. Também não deu certo. As pesquisas acerca da popularidade presidencial comprovavam índices baixíssimos em todas as classes e grupos sociais.

Em síntese, o programa veiculado, ontem, teve o mesmo esmero técnico e de marketing político usado na campanha para as eleições de 2014. Ou seja: a equipe de marketing é muito boa, tecnicamente falando. Contudo, reside, aí, um principal problema: a distância – continental, pode-se afirmar – entre o que é dito e o que é fato, a realidade do país. O discurso petista, durante a campanha eleitoral, foi de uma extremamente dura na desconstrução dos adversários. Afirmavam, peremptoriamente, que os adversários eram contra os mais pobres, contrários às conquistas sociais, aos trabalhadores, que plantariam juros para colher recessão. E, por surreal que possa parecer, ao ser eleita Dilma e sua equipe de governo tiveram que implantar medidas que eram contrárias às suas ideias em campanha e que seriam medidas mais próximas dos adversários. Um enorme descolamento do discurso político em relação à prática governamental. No limite, até o presente momento, a comunicação do partido com a sociedade foi incapaz de se coadunar com a realidade: o cotidiano do brasileiro está longe da propaganda apresentada. Nem o slogan “Pátria Educadora” resistiu às primeiras medidas do Planalto.

O mundo, especialmente, o mundo político, está repleto de símbolos. São demasiados importantes para a confecção dos discursos e a materialização das ideias. E, nesse sentido, o PT foi muito eficaz em criar e comunicar seus símbolos: a estrela do partido, a cor vermelha, o patrimônio ético e a forte ligação com os movimentos sociais e sindicais. O próprio Lula, há muito, não é, apenas, uma pessoa, um político. É, mais do que isso, um símbolo, que se avolumou e ganhou dimensões, graças a seu carisma, inéditas. Lula se tornou maior que o PT, Lula se tornou maior que Luiz Inácio.

Na terça-feira, 5, enfim, ao salvaguardar a imagem de Dilma, o PT expôs Lula e, a meu ver, erroneamente. Dos símbolos do petismo poucos sobraram. Lula — o símbolo — era um destes sobreviventes. No entanto, o encanto com sua figura já não é mais o mesmo. O pai e o messias já não têm o poder e respeito de outrora. No fundo, o PT tem construído bons discursos e imagens, mas, isso tudo, está no campo da “forma”, da aparência, falta-lhe, sobretudo, ir ao “conteúdo” e esse conteúdo real, nos dias que correm, não lhe é nada favorável.

Rodrigo Augusto Prando é professor de sociologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.