O presidente pode bancar uma chapa majoritária com Flávia Arruda, Damares Alves e Tarcísio de Freitas

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, do MDB, começa a ser chamado nos gabinetes e nas ruas de “o sincericida trapalhão”.

Ibaneis Rocha, que é apontado como um advogado competente, parece ter perdido a embocadura, talvez por falta de experiência política. Antes de ser governador, certamente cometia gafes, mas, como não estava sob o olhar aguçado da mídia, era ignorado. Agora, sob os holofotes, quase tudo o que diz ganha os jornais e, depois, as redes com uma rapidez fabulosa.

O resultado é que, ao se tornar governador, no lugar de crescer, Ibaneis está se tornando o que o dramaturgo Nelson Rodrigues certamente chamaria de um anão de Velazquez. O emedebista ficou “menor”.

Em menos de um mês, cometeu uma série de gafes destruidoras.

Primeiro, disse que as polícias militares de Goiás e de Brasília, além da Polícia Rodoviária e da Polícia Federal, estão sendo feitas de “bobas” pelo assassino e estuprador Lázaro Barbosa. Na verdade, as polícias estão trabalhando e, certamente, vão prendê-lo. Mas, claro, os policiais não são mágicos. O criminoso demonstra conhecer a área em que está circulando e age como guerrilheiros (o Exército demorou a liquidar a Guerrilha do Araguaia, entre 1972 e 1974, que contava com menos de 100 integrantes). Prendê-lo parece ser fácil, mas não é.

Segundo, afirmou que a pandemia da Covid-500 mil praticamente acabou com seu governo. Ou seja, na prática, admitiu que seu governo vai mal. Porém, como há outros governadores eficientes, com Rui Costa (PT), da Bahia, Ronaldo Caiado (DEM), de Goiás, Camilo Santana (PT), do Ceará, e João Doria (PSDB), de São Paulo, o problema parece ser, não necessariamente a pandemia, e sim Ibaneis Rocha.

Terceiro, concedeu entrevista e disse que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), pode ser um excelente candidato a presidente da República. Sua declaração desagradou o presidente Jair Bolonaro.

Quarto, Ibaneis Rocha afirmou que aprecia Bolsonaro, mas admitiu que os dois vivem às turras. Um dos problemas é que, amparado por várias pesquisas qualitativas e quantitativas, o presidente pode abandonar o governador na chapada e bancar outro candidato, ou melhor, candidata — a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (PL), por quem o presidente tem o máximo de respeito, por considerá-la uma hábil articuladora política.

As pesquisas do grupo de Bolsonaro sugerem que Ibaneis Rocha pode perder tanto para a senadora Leila Barros, do Cidadania, quanto para o senador Izalci Lucas, do PSDB. Porém, se Flávia Arruda entrar em campo, o jogo pode mudar. A ministra ainda não lidera as pesquisas de intenção de voto, mas a expectativa de poder em torno dela é cada vez maior.

Ibaneis Rocha divulga que Flávia Arruda pode ser candidata a senadora na sua chapa. Não é falso. Pode ser mesmo. Mas, disputando com o senador José Antônio Reguffe, do Podemos, Flávia Arruda corre mais risco de ser derrotada do que se disputar contra o governador do DF.

Não há nada definido, mas, no Palácio do Planalto, corre a informação de que Bolsonaro — que, a bem da verdade, ainda está apoiando Ibaneis Rocha — poderá lançar a seguinte chapa em Brasília: Flávia Arruda para governadora, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, para o Senado e a ministra Damares Alves para vice. Um líder evangélico afirma que Damares Alves não quer ser vice, mas, se Tarcísio de Freitas não disputar mandato em Brasília (Bolsonaro quer emplacá-lo em São Paulo), pode ser candidata a senadora. A vice de Flávia Arruda ficaria reservada para a negociação com os líderes dos partidos mais forte da capital nacional.

Ibaneis Rocha garante que será candidato à reeleição. Mas, dependendo do quadro político, em 2022, pode até recuar e apoiar Flávia Arruda.