Secretária da Saúde conseguiu uma proeza que assustaria até Nelson Rodrigues: perdeu o apoio de médicos, políticos e até de parentes do prefeito de Goiânia

Iris Rezende, Áureo Ludovico e Fátima Mrué: os dois primeiros se cansaram do discurso de Rolando Lero da secretária da Saúde

A secretária da Saúde da Pre­fei­tura de Goiânia, Fátima Mrué, só tem o apoio de Iris Rezende para man­­ter-se no cargo. Até seu principal protetor, o médico Áureo Lu­dovico, “lavou” as mãos e não a ban­­ca mais. A segunda protetora, a mé­dica Adriana Re­zende, também “la­­vou” as mãos. Até o prefeito es­ta­ria se “cansando” do palavreado acadêmico-Rolando Lero de sua auxiliar.

Não há um secretário do prefeito, ao menos em off the records, que apoie a permanência de Fátima Mrué. “Iris comete um erro ao mantê-la no cargo, pois a médica ‘está’ mas não ‘é’ mais secretária. Perdeu a autoridade”, afirma um secretário. “O que sei é que Iris não exonera a secretária porque, se indicar outro médico e a crise persistir, vão dizer que a responsabilidade é sua, e não do titular da pasta”, sugere um vereador. “Iris e Mrué são teimosos. Só isso. Mas a verdade é que o prefeito ‘finge’ que a prestigia e a secretária ‘finge’ que está ‘prestigiada’.”

Quase todos os vereadores — inclusive os que foram chamados de “malas” por um auxiliar de Iris Rezende — querem Fátima Mrué “longe, bem longe” da Secretaria da Saúde. “Enquanto Mrué permanecer na Secretaria Goiânia não terá Saúde”, lamenta, poetizando, um vereador.

A família de Iris Rezende apoiava Fátima Mrué de maneira incondicional. Agora, não moverá uma palha para segurá-la. “Nelson Rodrigues disse que ‘toda unanimidade é burra’ porque não conheceu Fátima Mrué. Se tivesse conhecido, teria ampliado a frase: ‘Toda unanimidade é burra, exceto quando se trata de avaliar a gestão de Fátima Mrué na Secretaria da Saúde de Goiânia’”, filosofa um deputado.

O deputado estadual José Nelto, do PMDB, não economiza palavras negativas para (des)qualificar as ações — que chama de “inações” — de Fátima Mrué. O parlamentar frisa que a saúde das pessoas não é brincadeira e que, no lugar de ficar falando em “mudança de paradigmas”, a secretária deveria visitar os “cais-caos” e verificar por quais motivos não funcionam. “Em Goiânia”, segundo um vereador de vários mandatos, “se alguém ficar doente e precisar de um cais, não receberá um atendimento de qualidade. A má qualidade do atendimento na rede municipal acaba por sobrecarregar a rede estadual, que, em tese, deveria cuidar de outro tipo de atendimento”.

Um tanto maldoso, um vereador tucano diz que, no lugar de “secretária da Saúde”, Fátima Mrué deveria ser chamada de “secretária da Doença”. “A des-secretária parece acreditar que palavras pomposas podem resolver problemas reais. Sei que não é má pessoa, é até bem intencionada, mas não tem experiência para gerir uma secretaria pesada como a da Saúde”, afirma um médico que já foi sondado duas vezes para substitui-la. Se for convidado mais uma vez, aceita. “Estou com dó dos goianienses pobres”, afirma. “Tenho pena de Fátima Mrué. Porque sei que, embora não qualificada para o cargo, não quer sair agora porque teme ‘queimar’ sua biografia. Sublinho que se trata de uma mulher decente.”