Por Thiago Burigato

Possível vitória do tucano-chefe Marconi Perillo tende a inaugurar ações menos contenciosas nas próximas campanhas e pode contribuir para libertar o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, da “possessão” irista. A política tende a ser mais construtiva e pacífica daqui para frente

Depois de dizer que o petista “dispensa comentários” e pontuar que o gestor tem a maior reprovação da história da capital, Jayme declarou que não vai mais perder “um minuto com o sr. Paulo Garcia”

[caption id="attachment_18869" align="alignleft" width="150"] Vanderlan Cardoso não teme e desafia pressão de Iris Rezende[/caption]
O ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende (PMDB) teria enviado três recados curtos e secos para o ex-prefeito de Senador Canedo Vanderlan Cardoso (PSB). Primeiro, não gostou de não ter recebido seu apoio para o governo no segundo turno.
Segundo, Iris quer ver Vanderlan fora da política de Goiânia. O peemedebista avalia que a capital não é o segundo feudo do líder do PSB.
O terceiro recado deriva do segundo. Se mesmo com a advertência, Vanderlan continuar dizendo que vai disputar a Prefeitura de Goiânia, em 2016, Iris pretende responder na mesma moeda. O peemedebista, no caso de Vanderlan transferir seu domicílio eleitoral para a capital, pretende lançar sua filha, Ana Paula Rezende, para prefeita de Senador Canedo. Há também a possibilidade de bancar seu genro, Frederico Peixoto, para prefeito. Peixoto está construindo um condomínio horizontal Jardins no município.
O Jornal Opção ouviu dois aliados do empresário. Um deles disse: “Vanderlan é um dos sujeitos mais tranquilos do mundo e não teme qualquer tipo de ameaça. Vai ser candidato a prefeito de Goiânia — quer queira ou não Iris. Vanderlan não vai desperdiçar seu imenso capital eleitoral na cidade. É candidatíssimo. Por isso não quis apoiar o peemedebista no segundo turno”.

[caption id="attachment_18871" align="alignleft" width="420"] Jovair Arantes e Heuler Cruvinel, deputados federais por Goiás: terçando forças pelo comando da Secretaria da Agricultura[/caption]
A Secretaria da Agricultura é mais poderosa pela influência do que pelos recursos financeiros — quase sempre contingenciados. Porém dá prestígio e, daí, força política. Como a base aliada dá como certa a vitória do governador Marconi Perillo, a temporada de caça à vaga de secretário está aberta. Consta que o secretário Antônio Flávio Lima irá para o comando da Agrodefesa, porque o atual titular, Antenor Nogueira, embora sério e competente, criou arestas demais para o governo.
O deputado federal Jovair Arantes, na iminência de perder a Secretaria de Cidadania e Trabalho para a deputada federal Flávia Morais, exige a Secretaria da Agricultura para o PTB. Pode levá-la. Mas o deputado federal Heuler Cruvinel (PSD) planeja ser secretário.
Como o governador Marconi Perillo pretende mandar dois suplentes para Brasília, possivelmente Sandes Júnior, do PP, e José Mário Schreiner, do PSD, as chances de Heuler Cruvinel são altas. Sua ida para a Seagro abriria uma vaga para Sandes Júnior, o primeiro suplente.
O governador teme a politização da Seagro, mas, como Heuler Cruvinel é ligado ao agronegócio e representa uma das regiões, o Sudoeste, onde a agricultura é muito forte, pode acabar se tornando um secretário qualitativo e técnico. E tem o perfil pretendido pelo tucano-chefe: é jovem e tem prestígio político.
Sabe-se que Heuler Cruvinel pretende ficar em Goiânia, na Seagro, para ficar mais próximo de Rio Verde, pois pretende disputar a prefeitura em 2016. E, como secretário, se fortaleceria junto aos produtores rurais e empresários do Sudoeste.
O deputado federal Roberto Balestra está de olho gordo na Secretaria da Agricultura. Para indicar alguém, não é muito forte. Porém, se quiser ocupar, ele próprio, a secretaria, aí se torna um postulante sólido. José Mário Schreiner é o preferido da Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg) para o cargo.

[caption id="attachment_12083" align="alignleft" width="620"] Paulo Garcia: ex-secretário diz que é "arrogante, irônico e debochado" | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção[/caption]
A Prefeitura de Goiânia, na gestão do petista Paulo Garcia, tem uma dívida de 400 milhões de reais e um déficit de 30 milhões mensais. Quem é o pai e o padrasto da dívida? O Jornal Opção ouviu dois ex-secretários de Finanças do município e eles divergem a respeito da paternidade. Um frisa que a dívida foi gerada pela administração paulo-garcista. O outro sustenta que o ex-prefeito Iris Rezende é o pai de pelo menos 200 milhões da dívida e que Paulo Garcia é o padrasto de 200 milhões. “A responsabilidade deve ser dividida meio a meio.” O peemedebista-chefe contesta e garante que deixou a Prefeitura com um caixa positivo de 200 milhões de reais.
A gestão de Paulo Garcia está engessada sobretudo por seu populismo no tratamento dos aumentos salariais do funcionalismo público, do qual se tornou refém. “Dos 240 milhões de reais da receita corrente [incluindo repasses federais], a Prefeitura de Goiânia gasta no mínimo 170 milhões com a folha dos servidores”, afirma um ex-secretário.
Qual é a origem da dívida de quase meio bilhão de reais? “A prefeitura deve para fornecedores (por exemplo, de materiais de informática), prestadores de serviços (Ita Transportes, Tecpav e a empresa que coleta lixo hospitalar), locatários de imóveis. Também está devendo para a Celg e só de parcelamentos salariais atrasados, e exclusivamente para o pessoal da Educação, a dívida chega a 12 milhões de reais”, afirma um dos entrevistados.
No lugar de concluir o Paço Municipal, Paulo Garcia prefere gastar 1 milhão de reais com aluguel. “É dinheiro jogado fora, mas é possível que se queira beneficiar algum aliado político”, sugere um ex-secretário, que avalia que o petista “não tem espírito de gestor. Ele gosta mesmo é de muita conversa e reuniões”. O ex-secretário afirma que, quando apresentava os problemas e as soluções, o prefeito sugeria conversar “outra hora”. “Ele me dizia que era preciso enrolar a população e a imprensa. Quando falassem que a cidade estava mal, era preciso contrapor e dizer que estava bem e que o governador Marconi Perillo estava ‘boicotando’ sua gestão. Quando eu disse que o problema da dívida era ‘nosso’, não havia sido criado pelo tucano, Paulo ficou irritado e afirmou. com ar de deboche: ‘Virou marconista?’. O prefeito é soberbo, irônico e não aceita críticas, nem mesmo as construtivas.”
Há um receituário para recuperar a gestão da prefeitura? “Não há nenhum segredo: é preciso diminuir despesas, com urgência. Quando eu disse isto, Paulo sugeriu que aumentar o IPTU era a solução. Noutras palavras, ele quer que o goianiense pague a dívida que sua administrou criou. Sugeri também que era preciso reduzir as secretarias, não acrescentar aumentos para os servidores e cortar horas extras, incorporações, gratificações, pagamentos de quinquênios.
Mas o prefeito sempre dizia: ‘Vamos esperar passar o período eleitoral’. Iris Rezende governava com 25 secretarias e Paulo aumentou para 40. É preciso gastar menos dinheiro com energia, água, telefone, combustível e aluguel. Urgente”, sugere um dos ex-secretários.
Para pagar a dívida, qual é a solução imediata. “Como a prefeitura é um sorvedouro de recursos financeiros, só há uma saída: aumentar a receita com a captação de recursos, como empréstimos a longo prazo junto ao BNDES ou ao Bird”, propõe uma das fontes.
Um ex-secretário que sabe tudo sobre a prefeitura afirma que queria “zerar o déficit mensal para depois discutir a dívida. Propus que se contraísse um empréstimo a longo prazo para pagar a dívida e se adotasse medidas duras de contenção de gastos, pois, assim, aos poucos a prefeitura iria se recuperando.
Paulo Garcia concordou no início, mas depois achou que o remédio era muito ‘amargo’, sobretudo em ano eleitoral, e mataria o ‘paciente’. Ele dizia que não queria ‘prejudicar’ Iris Rezende. Quer dizer, priorizou Iris, mas não os interesses da cidade”. Com o Programa de Parcelamentos de Impostos (PPI), segundo uma das fontes, “a prefeitura arrecadou cerca de 40 milhões. É uma quantia razoável, mas insuficiente, dado o valor da dívida”.
Paulo Garcia tem dois anos e dois meses pela frente, nesse tempo, terá condições de colocar a casa em ordem? Uma das fontes avalia que não: “Em dois anos, Paulo não vai resolver o problema, exceto, como eu disse, se contrair um empréstimo ou se conseguir algum dinheiro ‘novo’ junto ao governo federal. Só uma ajuda externa, de bancos ou do governo federal, pode contribuir para recuperar as finanças da prefeitura. Agora, se não pagar, a dívida vai crescer e, aos poucos, vai tornar a gestão de Paulo totalmente inviável. O secretário de Finanças, Jeovalter Correia, está espantando com o ‘papagaio’ que recebeu e, segundo um empresário da construção civil, está prestes a pedir o ‘boné’ para assumir um cargo noutra gestão, fora de Goiás. O que posso dizer, por conhecer Paulo, é que vai deixar a dívida ‘incubada’. Tenho dó do próximo prefeito, daquele que assumir o governo em 2017”.
Quando um dos secretários assumiu, disseram-lhe que havia um caixa positivo de 20 milhões de reais. “Era tudo falso e não sei se o prefeito Paulo Garcia, que nada entende de finanças e contabilidade, tem informações precisas sobre a dívida. O que sei é que não aprecia discutir problemas reais mas adora bater-papo com os amigos e aliados. Quando eu disse que a dívida era de 400 milhões e expliquei pacientemente o significado disto, pareceu ficar ‘alarmado’, mas, depois, me disse: ‘Você é catastrofista’”.
Uma das fontes afirma que a situação é tão dramática que a prefeitura não tem sequer certidão negativa junto à Receita Federal. “As certidões têm de ser batalhadas caso a caso. Mesmo que queira ajudar o prefeito Paulo, a presidente Dilma Rousseff vai esbarrar em questões legais. O que posso dizer é que Paulo está completamente ‘perdido’ e governando, se se pode dizer assim, com uma equipe de ‘amadores’ e ‘palpiteiros’. Descobri, a duras penas, que Paulo é prefeito, mas não é gestor, não tem interesse pela gestão. Parece que se diverte é fazendo política e visitando o escritório e o apartamento de Iris Rezende. O que mais me deixou assustado é que parece acreditar mais na palavra de um marqueteiro, que o acompanha como se fosse um ‘rabo’, do que nos verdadeiros gestores.”
Sobre a elevação do IPTU, o ex-secretário mais comedido afirma que é importante, mas pode aumentar o índice de inadimplência. “A prefeitura quer arrecadar 300 milhões de reais por ano. Porém, como a renda do ‘contribuinte’ não aumenta, ele não terá como pagar rapidamente o imposto.”

A ex-deputada Raquel Teixeira, principal executiva do Instituto Jaime Câmara, é cotada para ser a próxima secretária do governo de Marconi Perillo, se este for reeleito. Localizada em São Paulo, disse que, no momento, “o mais importante é ganhar a eleição. Fico satisfeito com as manifestações, mas, até agora, não recebi nenhum convite”. Na verdade, está sendo discreta. O tucano-chefe espera que ela retorne à Secretaria da Educação. Tem o perfil adequado.
O secretário da Indústria e Comércio do governo de Marconi Perillo, se este for reeleito, será indicado pelos empresários e políticos de Anápolis. Pode ser Alexandre Baldy ou um nome novo. O deputado estadual eleito Jean Carlo (PHS), embora de Itaberaí, tem sido citado. Ele é ligado ao empresário José Garrote, amigo do governador. Se indicado, abriria uma vaga na Assembleia Legislativa para Elismar Veiga, de Anápolis e da Assembleia de Deus.
Um radialista de Rio Verde conta que o prefeito Juraci Martins e o deputado federal reeleito Heuler Cruvinel, ambos do PSD, estão com as relações políticas praticamente cortadas. O parlamentar, que pretende disputar a prefeitura em 2016, teria dito a um interlocutor, que teria passado a história adiante, que Juraci faz uma gestão “fraca” e “inoperante”. Se o pessedista falou isto mesmo ao menos não está faltando com a verdade. Do homem mais pobre ao homem mais rico do município não há uma pessoa que avalie a gestão do prefeito como positiva — exceto ele próprio e alguns de seus secretários mais “puxa-tudo”. Durante a inauguração da duplicação do trecho da BR-060 entre Rio Verde e Jataí, com a presença do ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, Juraci e Heuler se mantiveram distantes. “Heuler cumprimentou Juraci, mas sem graça e de cabeça baixa”, afirma o radialista. Juraci deve reformar o secretariado, o que é um recado para Heuler. Um líder do PSD de Goiás disse ao Jornal Opção que conflitos momentâneos não levam a rompimentos definitivos. “Juraci e Heuler são aliados e voltarão às boas brevemente. Eles se gostam e se respeitam”, garante.
[caption id="attachment_18864" align="alignright" width="150"] José Paulo Loureiro estaria disposto a perder a imagem de “golden boy”?[/caption]
Um dos mais influentes aliados do governador Marconi Perillo, eleito deputado federal, afirma que o executivo José Paulo Loureiro tem tudo para ser um dos homens fortes do quarto governo do tucano-chefe — ao lado do presidente da Agetop, Jayme Rincon. “Mas há, claro, uma condição. Zé Paulo precisa despir-se da imagem de ‘golden boy’, de homem mais simpático do mundo, para ser aquele gestor que diz ‘não’ sem pestanejar. Governos sempre precisam de alguém durão, que saiba e tenha coragem de dizer ‘não’. Zé Paulo é eficiente e é moderno, mas resta saber se, no comando da Secretaria da Fazenda, estará mesmo disposto a ‘jogar pesado’. Marconi aprecia deixar a máquina bem enxuta, para recuperar a capacidade de investimento, e, nos momentos da ‘vacas magras’, ter recursos suficientes para que o Estado não fique paralisado. Por isso precisa de um secretário que tenha coragem de peitar a estrutura pantagruélica do governo.”
Na semana passada, ao inaugurar o trecho duplicado da rodovia BR-060, entre Rio Verde e Jataí, o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, ficou irritado com uma pergunta-crítica de um integrante da Associação Comercial e Industrial de Rio Verde. O membro da Acirv comentou que a duplicação da BR-060 — entre Goiânia e Rio Verde — caminha a passo de tartaruga. Frisou também que, apesar de não estar concluída, o governo da presidente Dilma Rousseff a “inaugurou”. Noutras palavras, o governo federal estaria inaugurando trechos como se fosse a obra toda. Irritado, Paulo Sérgio Passos disse que o governo de Dilma Rousseff está empenhado em melhorar a malha rodoviária do País. Veja-se como os tempos estão mudados. Na década de 1950, ao participar de um comício em Jataí, o candidato a presidente da República Juscelino Kubitschek anunciou que iria transferir a capital do País para o Planalto Central e cumpriu a promessa. Agora, quase 60 anos depois, e no mesmo Sudoeste, um ministro se irrita porque o governo federal está inaugurando uma obra que não está concluída. O Brasil piorou mesmo.
A presidente Dilma Rousseff, se reeleita, pretende fazer uma reforma geral no governo. Não vai romper com sua base política, até porque não tem condições para fazer isto, mas em alguns setores quer ministros com o seu perfil. A senadora reeleita Kátia Abreu (PMDB), por exemplo, deverá ser indicada para o Ministério da Agricultura. Presidente da Confederação Nacional da Agricultura, Kátia Abreu tem sido sondada pela presidente há vários meses. Se assumir, pretende ser a primeira ministra a implantar uma política agrícola no País. A senadora pode levar o suplente de deputado federal José Mário Schreiner (PSD) para sua equipe. Aí os dois seriam interlocutores do governador Marconi Perillo junto ao governo federal. Mas o suplente Schreiner quer ser deputado federal.
Se Aécio Neves for derrotado, é muito provável que o PSDB banque um candidato fora do eixo São Paulo-Minas Gerais para presidente da República em 2018. O governador de Goiás, Marconi Perillo, ao obter sua quarta vitória, credencia-se para a disputa. O País parece um tanto cansado de integrantes da política do Café-com-Leite.
Está pegando mal junto a setores do governo Marconi Perillo o fato de que a secretária da Educação, Vanda Siqueira Batista, estaria articulando abaixo-assinado, teoricamente feito por funcionários da área, clamando para ser mantida. Vanda vai ser mantida no governo, mas a secretaria terá outro titular. O tucanato não quer uma clone feminina de Thiago Peixoto no cargo. A tese: não basta ser um secretário eficiente, sobretudo, dizem aliados do governador, é preciso saber lidar com as pessoas que trabalham na área. Tecnicamente, Peixoto foi irrepreensível, mas saiu com muito desgaste. O perfil apontado como adequado é o da ex-secretária Raquel Teixeira.
O ex-reitor da Universidade Federal de Goiás Edward Madureira, do PT, diz que, mesmo se for convidado, não aceitará a Secretaria de Educação do governo de Goiás. O petista frisa que tem respeito pelo governador Marconi Perillo, mas, por uma questão de coerência partidária, não deve assumir o cargo. “Esclareço que nem fui sondado”, frisa.
Não procede que o ex-presidente da Comurg Luciano de Castro comprou um apartamento para o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), na cidade de São Paulo. Na verdade, trata-se de mais um boato — sem qualquer evidência documental — que um grupo de vereadores está espalhando há algum tempo. O petista não adquiriu nenhum apartamento em São Paulo durante seu mandato de prefeito de Goiânia. A maledicência dos vereadores não contribui em nada para o avanço da sociedade democrática.